quarta-feira, 26 de julho de 2017

Crítica - Dunkirk

Análise Dunkirk


Review Dunkirk
Quando escrevi sobre Interestelar (2014) mencionei que o diretor Christopher Nolan estava criando uma armadilha para si mesmo ao fazer filmes que trabalhassem com conceitos (temáticos e estruturais) cada vez mais complexos ao ponto em que ele não conseguiria dar conta das próprias ambições. Parece que ele percebeu que estava se perdendo em seus próprios maneirismos e decidiu fazer algo mais simples com este Dunkirk ao contar a história sobre a retirada das tropas britânicas das praias de Dunquerque na França durante a Segunda Guerra Mundial.

A trama acompanha a retirada sob diferentes pontos de vista. Vemos a perspectiva dos soldados na praia a espera de resgate, seguindo o soldado Tommy (Fionn Whitehead) e seus esforços para se manter vivo conforme as tropas aliadas vão sendo acuadas por soldados alemães. Seguimos a movimentação dos barcos de resgate, incluindo embarcações civis, a partir do navegador civil Dawson (Mark Rylance), que tenta chegar ao local da batalha enquanto resgata soldados de outras embarcações naufragadas pelo inimigo. Por fim, no ar seguimos o piloto Farrier (Tom Hardy) que tenta abater os bombardeiros inimigos antes que eles afundem os barcos de resgate.

O filme segue a predileção de Nolan por estruturar seus filmes com temporalidades diferentes. Se a trama dos soldados em terra se dá ao longo de vários dias, os eventos em mar se passam ao longo de um dia e os no ar ao longo de algumas horas. Parece complicado no papel, mas é bem orgânico em tela e para o que se deseja com o filme, passar a tensão e a busca pela sobrevivência, acaba funcionando. Se ele tivesse seguido a cronologia linear dos eventos acabaria tendo que introduzir personagens importantes como Dawson e Farrier nos minutos finais, o que prejudicaria o fluxo da trama ao obrigá-la a parar para dar ao público o contexto de quem são aquelas pessoas.

Usando vários planos abertos, a narrativa é competente em construir o senso de escala do conflito. Não só pelas largas paisagens da praia ou do horizonte marítimo cheio de barcos, mas também pelo uso de efeitos digitais e figurantes para dar a impressão do enorme número de soldados que estavam acuados ali. A música, composta por Hans Zimmer, contribui para o senso de desespero e desolação. O som (e é difícil dizer até que ponto isso faz parte da música) também traz um constante tique quando Tommy está cena e só para próximo ao fim do filme, como que tentando evocar o constante estado de alerta do personagem e o incessante funcionamento de sua mente enquanto lutava para sobreviver.

Chega a ser curioso que em meio a todo esse conjunto de sons, o filme consiga passar vários minutos sem nenhum diálogo. Seus personagens estão preocupados demais em avaliar os riscos ao redor deles para aquelas tradicionais conversas sobre o que faziam antes da guerra e a família que os aguarda ou discursos inspiradores sobre superação e mesmo sem saber muito sobre eles tememos por suas vidas porque o filme é competente em convocar a urgência da situação em que se encontram. Na verdade, o maior encadeamento de diálogos acaba sendo entre os dois oficiais, Bolton (Kenneth Branagh) e Winnant (James D'Arcy, o Jarvis de Agente Carter), tem um caráter excessivamente explicativo conforme eles discorrem sobre as dificuldades logísticas em  

Em uma situação tão desesperadora, os personagens muitas vezes são confrontados com escolhas difíceis, como a tensa cena de Tommy e outros soldados no porão de um navio, ou a decisão de Dawson e seu filho no modo como tratam um soldado traumatizado que comete um erro fatal. As cenas de destruição que mostram as embarcações sendo destruídas e os soldados em pânico contribuem para o senso de perigo constante e não se furta a mostrar os soldados envoltos por chamas ou se afogando, ainda que a ausência de uma violência mais explícita diminua um pouco o impacto dessas mortes. A narrativa é esperta ao não tentar julgar as condutas extremas dos personagens reconhecendo a precariedade da situação e o abalo psicológico daqueles indivíduos que deixaram qualquer sofisticação de raciocínio para apenas pensarem em se manterem vivos.

Assim sendo, Dunkirk é um grandioso e tenso drama sobre um grupo de pessoas fazendo o melhor possível para sobreviver a uma situação limite, lembrando que numa guerra as vezes a maior vitória é simplesmente sobreviver.


Nota: 8/10

Trailer

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