O cinema hollywoodiano já
produziu inúmeras histórias sobre um homem sozinho, lutando contra um grupo de
vilões e tentando fazer a diferença. Este Eu,
Deus e Bin Laden não é uma dessas histórias, embora seu protagonista creia
que seja e é daí que vem a graça do filme.
A trama é baseada na história
real de Gary Faulkner (Nicolas Cage), um homem de meia idade do interior dos
EUA que diz que Deus (Russell Brand) lhe incumbiu de capturar Osama Bin Laden.
Faulkner então compra uma espada e uma passagem só de ida para o Paquistão e
decide caçar o líder terrorista.
Nicolas Cage traz uma energia
insana para Faulkner, um sujeito largado e delirante com sua barba desgrenhada
e cabelos sebosos. O ator usa uma voz extremamente anasalada e uma cadência
incessante para a fala do personagem, fazendo-o soar como alguém inoportuno e
inconveniente. Através da verborragia do personagem, Cage também deixa claro o
quanto ele se sente solitário (ele fala daquele modo porque não tem lá muito
traquejo social) e a extrema necessidade de aprovação que ele tem. Não é um
protagonista fácil de torcer, mas a ideia parece ser exatamente transformá-lo
em uma caricatura e expor ao ridículo sua conduta, afinal de contas,
considerando as ações do sujeito, não dá para realmente levá-lo a sério.
Eu sei que muita gente não se
agrada com o tipo de interpretação exagerada que Cage vem entregando nos
últimos anos, mas confesso que me divirto bastante em vê-lo devorando o cenário
e suas escolhas aqui fazem sentido com o espírito de escracho da obra. A
questão é que apesar da entrega de Cage com o personagem, a narrativa não tem
muito o que fazer com ele a não ser mostrar suas perambulações delirantes atrás
de Osama (Amer Chadha-Patel), reduzindo tudo a um "filme de uma piada
só" que começa a ficar cansativo e repetitivo lá pela metade. O material
poderia render uma ótima sátira sobre o complexo de superioridade dos Estados
Unidos e sua postura como "polícia do mundo", mas se limita a mostrar
Nicolas Cage surtado, correndo por Islamabad com uma espada nas mãos.
Por mais que ocasionalmente
apresente momentos hilários como a ida de Gary a um "dentista"
paquistanês ou ele imaginando como seria seu confronto final com Osama, não há
muito estofo para manter o filme de pé. Russell Brand acaba sendo ele mesmo
como Deus e suas piadas simplesmente não funcionam. Eu entendo que a ideia era
ter alguém bem atípico para interpretar o divino, mas toda vez que Brand
entra em cena o vemos como ele próprio e não como o personagem, o que acaba
"quebrando" a imersão.
Assim sendo, por mais que Nicolas
Cage consiga divertir com a composição caricata do seu personagem, Eu, Deus e Bin Laden acaba prejudicado
por um roteiro que não sabe o que dizer ou fazer com seu protagonista.
Nota: 5/10
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