Depois de uma estreia promissora
no universo Marvel com sua ponta em Capitão América: Guerra Civil (2016), era inevitável que o Homem-Aranha recebesse seu
próprio filme. A divulgação do filme, no entanto, não trazia muita confiança
graças ao seu excesso de ênfase na presença do Tony Stark (Robert Downey Jr), quase
fazendo parecer que Peter Parker (Tom Holland) seria um coadjuvante em seu
próprio filme. Ainda bem que nesse caso os trailers e pôsteres não refletiam o
produto final e Parker é de fato o dono de sua própria história e Stark aparece
relativamente pouco.
A trama se passa alguns meses
depois dos eventos de Guerra Civil,
com Peter retornando a sua escola depois de ter experimentado o
"gostinho" de estar ao lado dos heróis que tanto admira. Logicamente,
ele não consegue se acostumar a ser apenas um estudante colegial e fica ansioso
por sua próxima missão ao lado dos Vingadores. Quando uma nova aventura não
aparece, ele decide patrulhar as ruas de Nova Iorque por conta própria e
esbarra na gangue liderada pelo perigoso Abutre (Michael Keaton) que trafica
armas avançadas feitas com a sucata recuperada das batalhas dos Vingadores e
outros heróis. Tony Stark alega que o vilão pode ser demais para um herói
novato como o Homem-Aranha, mas Peter decide provar seu valor.
O filme acerta no clima juvenil
da trama, com Peter dividido entre suas tarefas de escola e suas tentativas de
ser super-herói. Como qualquer adolescente, o protagonista precisa lidar com
provas, com as provocações de metido Flash (Tony Revolori) e com o fato de não
saber se aproximar da garota que gosta, Liz (Laura Harrier), tudo isso enquanto
enfrenta o crime à noite.
Desde sua primeira aparição em Guerra Civil, Tom Holland já tinha se
mostrado ótimo em convocar a ingenuidade e honestidade de Peter, claramente
deslumbrado com a possibilidade de ser um herói, e aqui revela como tudo isso
pesa sob os ombros do personagem. O arco dele não é só o de provar o próprio
valor para Stark, mas entender sua própria imaturidade e que aquilo que o faz
especial não é o fato de pertencer ao não aos Vingadores, mas o cuidado com que
ele trata todos ao seu redor. Holland ainda tem uma química bem divertida com
Jacob Batalon, que interpreta o melhor amigo de Peter, Ned, e tem momentos bem
divertidos ao lado dele.
O Abutre pode parecer o típico
vilão amargo e ganancioso, mas a trama dá a ele uma motivação bem convincente
ser dessa maneira ao estabelecê-lo como um sujeito trabalhador que tem sempre o
tapete puxado sob seus pés por pessoas mais ricas. Ao mesmo tempo, também não é
completamente inescrupuloso e tem um código de honra bastante particular.
Michael Keaton, que já tinha interpretado alguém com um traje alado em Birdman (2014), faz de Adrian Toomes uma
presença realmente ameaçadora e talvez acima das capacidades do herói
aracnídeo, nos fazendo crer que o protagonista de fato está em perigo quando o
enfrenta. O segmento em que Peter encontra Toomes acidentalmente na casa de um colega de escola é particularmente tenso.
Tony Stark é menos presente do
que o material de divulgação fazia parecer (ainda bem), mas tem uma relação
mentor/aprendiz com Peter que delineia não só a evolução do Homem-Aranha como
também mostra um relativo amadurecimento de Stark em relação às primeiras vezes
que o vimos. A questão é que o foco na dinâmica entre Peter e Stark acaba
deixando de lado a relação entre Peter e a Tia May (Marisa Tomei). A despeito
de algumas cenas engraçadas entre o protagonista e a tia, a personagem acaba
não tendo muito o que fazer e nem desempenha o papel formativo na trajetória do
Aranha que se espera dela. May lamentavelmente acaba quase que reduzida a um
conjunto de piadas sobre homens babando por sua boa aparência.
As cenas de ação são competentes
e mostram a agilidade do herói em suas acrobacias e seus balanços vertiginosos
com as teias, criando um senso palpável de urgência, em especial no resgate no
monumento Washington. Elas também são dotadas de uma boa medida de humor
conforme abordam o aprendizado de Peter em lidar com as funções de seu traje e
a extensão de seus poderes.
Esse equilíbrio entre humor e
urgência conseguido nas cenas de ação, no entanto, nem sempre é alcançado nos
momentos restantes do filme. Assim como tem acontecido em outros filmes da
Marvel como Homem de Ferro 3 (2013), Thor 2 (2013), Homem Formiga (2015) ou Doutor Estranho (2016), algumas piadas acabam sabotando momentos dramáticos e de
construção personagem ao inserir gracinhas em cenas nas quais deveríamos estar
criando um vínculo com aqueles personagens. Um exemplo é a cena entre Peter e
Happy Hogan (Jon Favreau) no banheiro ao fim do filme. Aquele era o momento em
que Happy finalmente dá o braço a torcer e admite o valor de Peter,
fortalecendo o vínculo entre os dois personagens. O clima da cena e o
sentimento de construção dessa amizade, porém, é destruído quando o filme tenta
fazer graça ao colocar um som de descarga e um estudante saindo de dentro de
uma das cabines, o que interrompe o diálogo e toda construção dramática em prol
de uma piada vazia, inútil e dispensável.
De todo modo, Homem-Aranha: De Volta ao Lar consegue
ser uma aventura bem digna do amigão da vizinhança, acertando na ingenuidade
juvenil de seu protagonista e no percurso de seu amadurecimento. Para o bem ou
para o mal, tem tudo aquilo que se espera de um filme com o "padrão
Marvel".
Nota: 8/10
Obs: O filme tem duas cenas durante os créditos. A última delas é talvez a melhor cena pós-créditos de todos os filmes da Marvel.
Trailer
É um filme que eu recomendo! Diferente de vários outros filmes de heróis que aparecem por aí, Homem-Aranha: De Volta ao Lar não deixa de lado o que Peter Parker é como ser humano. Ele quer ser aceito. Quer mostrar que é capaz. Estamos falando da essência, daquilo que faz o personagem ser um dos mais amados do mundo. Apesar dos superpoderes que vieram da picada daquela aranha radioativa, Peter Parker é gente como a gente. Com muito bom-humor, cenas de ação que não tentam destruir o mundo a cada 30 minutos e muito drama pessoal, De Volta ao Lar é o filme que os fãs queriam tanto ver. A trama, embora simplista, é eficiente. De Volta ao Lar também consegue se sustentar como filme próprio, evitando equívocos recentes de filmes do gênero cujo único propósito parece ser criar conexão com outras produções vindouras.
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