Fazer um filme com um tema como a
anorexia é algo bem delicado. Por um lado é necessário mostrar a realidade do
problema e suas consequências de uma maneira sincera e sem caricatura. Por
outro, é importante evitar pesar demais a mão no sofrimento para não soar
sensacionalista demais. Esse O Mínimo
Para Viver tenta encontrar esse delicado equilíbrio, mas nem sempre envolve
como deveria.
Ellen (Lilly Collins) é uma jovem
anoréxica que já passou por vários tratamentos e clínicas sem conseguir
melhorar. Sua madrasta Susan (Carrie Preston de The Good Wife e The Good Fight) resolve levá-la ao Dr. Beckham (Keanu Reeves), um médico com métodos
pouco comuns, mas que costuma obter bons resultados. Assim, Ellen é levada para
o centro de tratamento do médico e passa a conviver com outras pessoas com
distúrbios alimentares, dividindo com elas suas experiências e angústias.
O filme faz um trabalho
competente em esclarecer a natureza do distúrbio e evita dar soluções fáceis
como apontar um único culpado para o problema, reconhecendo que é um acúmulo de
elementos que leva alguém por esse caminho. No caso da protagonista, a
narrativa mostra sua relação ausente com o pai (que nunca aparece em cena, nem
mesmo a voz) e a relação complicada com a mãe e a madrasta. Seu trauma com o
impacto negativo que sua arte teve sobre uma pessoa, problemas de autoestima e
também o modo como a mídia constrói ideias de beleza quase que inalcançáveis ao
mesmo tempo em que também vende alimentos altamente calóricos como os mais
desejáveis.
O principal problema dessa
abordagem ampla e abrangente do filme é que no ímpeto de trazer o maior número
de dados possível sobre o transtorno alimentar, nunca se detém muito sobre
nenhum deles e acaba soando difuso ao invés de um panorama largo e contundente.
Do mesmo modo, muitos diálogos que visam enunciar informações saem de modo
pouco orgânico, mais parecendo algo de uma videoaula e pecando pelo excesso de
didatismo.
Lilly Collins, que perdeu peso
para o filme, impressiona pela sua magreza e aspecto frágil, com os ossos
aparecendo e um semblante de quem pode desmaiar a qualquer momento. A atriz
também acerta ao mostrar como a ideia de ingerir muitas calorias e como ela
parece estar sempre pensando em formas de gastar rapidamente a energia dos
alimentos. Sua postura e comportamento lembram o de alguém com um vício,
inclusive na atitude defensiva com a qual sempre tentam justificar sua conduta
e defletir a noção de que está com um problema grave.
Como nem tudo pode ser sofrimento
ou tragédia, a trama também consegue encontrar momentos de humor no cotidiano
de seus personagens, em especial na relação de amizade (e talvez algo mais) que
vai florescendo entre Ellen e Luke (Alex Sharp). As sessões entre ela e seu
médico acabam rendendo alguns diálogos igualmente divertidos. Keanu Reeves, por
sinal, encontra um equilíbrio entre severidade e descontração no modo como o
médico lida com seus pacientes. Apesar do humor, o filme tem o cuidado não
torna a condição de suas personagens uma piada.
A questão é que nem o drama da
personagem impacta como deveria, em parte por causa de ser muito didático, nem
o humor e o romance conquistam o suficiente. O resultado de O Mínimo Para Viver fica em um meio
termo morno em relação às suas ambições. Não deixa de ser interessante de
assistir, mas fica a impressão de que o material poderia render algo melhor.
Nota: 6/10
Nenhum comentário:
Postar um comentário