sábado, 15 de julho de 2017

Crítica - O Mínimo Para Viver

Análise O Mínimo Para Viver


Review O Mínimo Para Viver
Fazer um filme com um tema como a anorexia é algo bem delicado. Por um lado é necessário mostrar a realidade do problema e suas consequências de uma maneira sincera e sem caricatura. Por outro, é importante evitar pesar demais a mão no sofrimento para não soar sensacionalista demais. Esse O Mínimo Para Viver tenta encontrar esse delicado equilíbrio, mas nem sempre envolve como deveria.

Ellen (Lilly Collins) é uma jovem anoréxica que já passou por vários tratamentos e clínicas sem conseguir melhorar. Sua madrasta Susan (Carrie Preston de The Good Wife e The Good Fight) resolve levá-la ao Dr. Beckham (Keanu Reeves), um médico com métodos pouco comuns, mas que costuma obter bons resultados. Assim, Ellen é levada para o centro de tratamento do médico e passa a conviver com outras pessoas com distúrbios alimentares, dividindo com elas suas experiências e angústias.

O filme faz um trabalho competente em esclarecer a natureza do distúrbio e evita dar soluções fáceis como apontar um único culpado para o problema, reconhecendo que é um acúmulo de elementos que leva alguém por esse caminho. No caso da protagonista, a narrativa mostra sua relação ausente com o pai (que nunca aparece em cena, nem mesmo a voz) e a relação complicada com a mãe e a madrasta. Seu trauma com o impacto negativo que sua arte teve sobre uma pessoa, problemas de autoestima e também o modo como a mídia constrói ideias de beleza quase que inalcançáveis ao mesmo tempo em que também vende alimentos altamente calóricos como os mais desejáveis.


O principal problema dessa abordagem ampla e abrangente do filme é que no ímpeto de trazer o maior número de dados possível sobre o transtorno alimentar, nunca se detém muito sobre nenhum deles e acaba soando difuso ao invés de um panorama largo e contundente. Do mesmo modo, muitos diálogos que visam enunciar informações saem de modo pouco orgânico, mais parecendo algo de uma videoaula e pecando pelo excesso de didatismo.

Lilly Collins, que perdeu peso para o filme, impressiona pela sua magreza e aspecto frágil, com os ossos aparecendo e um semblante de quem pode desmaiar a qualquer momento. A atriz também acerta ao mostrar como a ideia de ingerir muitas calorias e como ela parece estar sempre pensando em formas de gastar rapidamente a energia dos alimentos. Sua postura e comportamento lembram o de alguém com um vício, inclusive na atitude defensiva com a qual sempre tentam justificar sua conduta e defletir a noção de que está com um problema grave.

Como nem tudo pode ser sofrimento ou tragédia, a trama também consegue encontrar momentos de humor no cotidiano de seus personagens, em especial na relação de amizade (e talvez algo mais) que vai florescendo entre Ellen e Luke (Alex Sharp). As sessões entre ela e seu médico acabam rendendo alguns diálogos igualmente divertidos. Keanu Reeves, por sinal, encontra um equilíbrio entre severidade e descontração no modo como o médico lida com seus pacientes. Apesar do humor, o filme tem o cuidado não torna a condição de suas personagens uma piada.

A questão é que nem o drama da personagem impacta como deveria, em parte por causa de ser muito didático, nem o humor e o romance conquistam o suficiente. O resultado de O Mínimo Para Viver fica em um meio termo morno em relação às suas ambições. Não deixa de ser interessante de assistir, mas fica a impressão de que o material poderia render algo melhor.


Nota: 6/10

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