Inúmeros filmes já foram
realizados sobre a luta por sobrevivência dos judeus em países ocupados pelos
nazistas com os mais diferentes enfoques. Este filme francês Os Meninos Que Enganavam Nazistas não
tem muito a acrescentar em relação ao que já foi dito sobre a questão, mas é
competente o bastante para valer a experiência.
A trama é baseada na história
real dos irmãos Joseph (Dorian Le Clech) e Maurice (Batyste Fleurial), que se
separaram dos pais para fugirem dos nazistas depois da ocupação de Paris. Os
dois garotos passam, então, a percorrer o interior da França em busca de um
local seguro.
É um fiapo de trama, mas isso não
é exatamente um problema, já que o filme adota uma estrutura de road movie e esse tipo de narrativa é
mais sobre o crescimento e aprendizado dos personagens ao longo da jornada do
que sobre um destino ou arco dramático claramente delimitado. A viagem errante
dos garotos serve não só como uma jornada de amadurecimento, na qual eles
aprendem a lidar com as dificuldades do mundo (e nesse caso um mundo que os
persegue), mas também como um retrato da ocupação nazista na França e como o
regime trabalhava para colocar a população local contra os cidadãos judeus,
fazendo-os crer que os judeus eram a raiz de todos os problemas.
Os dois garotos tem uma química
fraternal bastante genuína. Eles reagem de maneira bem crível à situação,
demonstrando o tempo todo que não sabem exatamente a melhor maneira e agir e
constantemente dialogando sobre o que fazer. O garoto Dorian Le Clech é
especialmente eficiente ao construir a ingenuidade e imaturidade de Joseph e o
modo como ele inicialmente tem dificuldade em aceitar que sua vida não tem como
retornar ao que era e que nem toda sua família pode conseguir sobreviver. Há um
afeto forte demonstrado por ele em relação aos pais e é a força dessa relação
afetiva que nos faz torcer por ele e nos mantêm interessados, mesmo quando a
trama começa a repetir todos os elementos que já vimos a exaustão nesse tipo de
filme.
A jornada dos dois garotos não é
fácil e por mais de uma vez são interrogados ou capturados por nazistas que
questionam a origem dos dois. Apesar de serem eficientes em criar um sentimento
palpável de tensão, com o tempo esse expediente dos garotos serem pegos de
surpresa e precisarem recorrer a alguma artimanha para driblar a falta de
documentação acaba ficando um pouco repetitivo. O uso de narrações em off para dar conta de algumas passagens
de tempo acaba soando redundante, já que serve apenas para explicar eventos e
sentimentos que já estão sendo efetivamente mostrados imageticamente na tela.
Por outro lado, o desfecho acerta
ao equilibrar o senso de vitória experimentado pelos protagonistas com a ideia
de que o preconceito e a intolerância ainda estão longe de acabar. O final
aponta a necessidade de compaixão e alteridade nas relações humanas como um
esforço contínuo e não apenas em momentos de conflito, trazendo uma mensagem
que dialoga com os dias atuais e não apenas no período no qual o filme se
passa.
Assim, mesmo não trazendo nada de
novo em relação aos filmes sobre fugitivos do Holocausto, Os Meninos Que Enganavam Nazistas funciona pela afetividade sincera
entre seus personagens.
Nota: 7/10
Trailer
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