segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Crítica - O Castelo de Vidro

Análise O Castelo de Vidro


Review O Castelo de Vidro
Dividido entre duas temporalidades, o presente e o passado da protagonista, O Castelo de Vidro tem dificuldade em manter as duas frentes narrativas interessantes. Durante boa parte do tempo a sensação é que ele contém dois filmes em um, embora ainda assim o resultado seja satisfatório.

A trama é baseada na história real de Jeanette Wall (Brie Larson), uma repórter de Nova Iorque cuja infância foi passada em um estilo de vida nômade e pobre ao lado de seu complicado pai, Rex (Woody Harrelson), que constantemente tinha que se mudar para fugir de cobradores.

Os segmentos no presente, envolvendo Jeanette e seu noivo, David (Max Greenfield), são os menos interessantes. É aquela típica história da pessoa que conseguiu tudo o que queria, sucesso profissional, conforto material e um belo cônjuge, mas continua se sentindo incompleta. Não é o primeiro filme a contar esse tipo de história e outros, como Jerry Maguire: A Grande Virada (1996) já abordaram esse material de maneira mais satisfatória. O que incomoda nem é apenas a repetição de lugares comuns, mas a maneira óbvia como o filme apresenta tudo isso. Já em uma das primeiras cenas, em um jantar, fica evidente o senso de deslocamento de Jeanette, o incômodo em poder não falar abertamente sobre o passado da família e como o noivo dela quer afastá-la de seu passado e família.

Assim sendo, já sabemos desde os primeiros minutos que ela eventualmente passará a aceitar sua família e questionar seu modo de vida, emprego e a relação com o namorado. A coisa toda só não descamba para um exercício de paciência por causa dos segmentos do passado.

Na vida nômade e precária da infância de Jeanette, vemos o desenvolvimento de sua complicada relação com o pai e como ele foi um tormento e também uma fonte de inspiração em sua vida. Woody Harrelson faz de Rex um sujeito bem intencionado e com indagações válidas sobre as desigualdades da sociedade capitalista. O ator traz um afeto sincero e forte de Rex pela filha e um desejo verdadeiro em ensiná-la a perseguir seus sonhos. Por outro lado também é um sujeito com um ímpeto autodestrutivo, ruindo sob o peso de traumas do passado e muitas vezes desconta toda sua dor e frustração injustamente em sua família. O filme entende a complexidade dessa dinâmica e a trata com o devido cuidado, revelando o impacto que Rex tem na vida da filha, tanto para o bem como para o mal.

Se os segmentos o presente não mergulham no tédio, é também pela ocasional presença de Harrelson assim como o trabalho de Brie Larson como Jeanette. A atriz faz dela uma mulher endurecida pelas dificuldades e determinada a sair da situação precária em que cresceu. Ela não deixa de trazer consigo parte do que aprendeu com o pai e suas críticas ao sistema financeiro são possivelmente a fonte de parte de seu desconforto no mundo da alta sociedade novaiorquina. Por outro lado, Naomi Watts acaba tendo pouco o que fazer como a mãe de Jeanette, o que é uma pena, já que tanto a atriz como a personagem tem um potencial que a narrativa não chega a aproveitar.

Apesar do desequilíbrio entre passado e presente e do excesso de lugares comuns, O Castelo de Vidro acerta na construção da relação entre pai e filha, engrandecida pelo trabalho de Woody Harrelson e Brie Larson. É simultaneamente sombrio e cheio de esperança, amargo e inspirador, como a própria vida.


Nota: 7/10

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