Dividido entre duas
temporalidades, o presente e o passado da protagonista, O Castelo de Vidro tem dificuldade em manter as duas frentes
narrativas interessantes. Durante boa parte do tempo a sensação é que ele
contém dois filmes em um, embora ainda assim o resultado seja satisfatório.
A trama é baseada na história
real de Jeanette Wall (Brie Larson), uma repórter de Nova Iorque cuja infância
foi passada em um estilo de vida nômade e pobre ao lado de seu complicado pai,
Rex (Woody Harrelson), que constantemente tinha que se mudar para fugir de
cobradores.
Os segmentos no presente,
envolvendo Jeanette e seu noivo, David (Max Greenfield), são os menos
interessantes. É aquela típica história da pessoa que conseguiu tudo o que
queria, sucesso profissional, conforto material e um belo cônjuge, mas continua
se sentindo incompleta. Não é o primeiro filme a contar esse tipo de história e
outros, como Jerry Maguire: A Grande
Virada (1996) já abordaram esse material de maneira mais satisfatória. O
que incomoda nem é apenas a repetição de lugares comuns, mas a maneira óbvia
como o filme apresenta tudo isso. Já em uma das primeiras cenas, em um jantar,
fica evidente o senso de deslocamento de Jeanette, o incômodo em poder não
falar abertamente sobre o passado da família e como o noivo dela quer afastá-la
de seu passado e família.
Assim sendo, já sabemos desde os
primeiros minutos que ela eventualmente passará a aceitar sua família e
questionar seu modo de vida, emprego e a relação com o namorado. A coisa toda
só não descamba para um exercício de paciência por causa dos segmentos do
passado.
Na vida nômade e precária da
infância de Jeanette, vemos o desenvolvimento de sua complicada relação com o
pai e como ele foi um tormento e também uma fonte de inspiração em sua vida.
Woody Harrelson faz de Rex um sujeito bem intencionado e com indagações válidas
sobre as desigualdades da sociedade capitalista. O ator traz um afeto sincero e
forte de Rex pela filha e um desejo verdadeiro em ensiná-la a perseguir seus
sonhos. Por outro lado também é um sujeito com um ímpeto autodestrutivo, ruindo
sob o peso de traumas do passado e muitas vezes desconta toda sua dor e
frustração injustamente em sua família. O filme entende a complexidade dessa
dinâmica e a trata com o devido cuidado, revelando o impacto que Rex tem na
vida da filha, tanto para o bem como para o mal.
Se os segmentos o presente não
mergulham no tédio, é também pela ocasional presença de Harrelson assim como o
trabalho de Brie Larson como Jeanette. A atriz faz dela uma mulher endurecida
pelas dificuldades e determinada a sair da situação precária em que cresceu. Ela
não deixa de trazer consigo parte do que aprendeu com o pai e suas críticas ao
sistema financeiro são possivelmente a fonte de parte de seu desconforto no
mundo da alta sociedade novaiorquina. Por outro lado, Naomi Watts acaba tendo
pouco o que fazer como a mãe de Jeanette, o que é uma pena, já que tanto a
atriz como a personagem tem um potencial que a narrativa não chega a
aproveitar.
Apesar do desequilíbrio entre
passado e presente e do excesso de lugares comuns, O Castelo de Vidro acerta na construção da relação entre pai e
filha, engrandecida pelo trabalho de Woody Harrelson e Brie Larson. É
simultaneamente sombrio e cheio de esperança, amargo e inspirador, como a
própria vida.
Nota: 7/10
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