sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Crítica - Saints Row IV

Análise Saints Row IV


Review Saints Row IV
A franquia Saints Row começou praticamente como uma espécie de Grand Theft Auto genérico, baseando-se no mesmo ambiente aberto, disputas entre gangues e roubos de carro. Com o tempo, entretanto, GTA foi adquirindo um tom mais sério com uma narrativa mais voltada para algo que lembrava um drama criminal e assim os desenvolvedores de Saints Row viram uma ótima oportunidade de diferenciar a franquia investindo pesado no humor e na paródia. Esse espírito de galhofa, que já estava presente no hilário Saints Row The Third (2011), é elevado à enésima potência neste Saints Row IV.

Os primeiros minutos de gameplay já deixam claro o nível de loucura da trama, que se afasta totalmente da temática de gangues se enfrentando por controle e estabelece como o líder da gangue dos Saints se tornou presidente dos Estados Unidos. Meses depois o mundo é atacado por uma poderosa raça alienígena e os humanos são abduzidos e presos a uma realidade virtual no melhor estilo Matrix (1999). Dentro desse mundo virtual, uma versão estilizada da cidade de Steelport do game anterior, o jogador deve encontrar um modo para resgatar seus aliados e derrotar a ameaça alienígena. A reciclagem do cenário e dos modelos de personagem como um todo, entretanto, dá a sensação de um visual levemente datado (afinal o game anterior só tem dois anos) ao jogo.


O game mantém o estilo de ação em terceira pessoa com diferentes armas e veículos, assim como o anterior e a própria série GTA. A adição principal em relação ao game anterior é que agora, dentro deste mundo virtual o personagem adquire super-poderes. Assim, é possível mandar os inimigos para longe com sua superforça ou atravessar rapidamente a cidade com sua supervelocidade, além de uma série de outros poderes que te transformam praticamente num deus invencível. Se grandes poderes trazem grandes responsabilidades, poderes estupidamente absurdos e apelativos trazem grande diversão.

As armas variam das tradicionais pistolas e submetralhadoras a uma série de armas alienígenas completamente caricatas, como a arma de abdução que arrebata seus alvos para o espaço, o raio desintegrador (auto-explicativo) e a sensacional dubstep gun, uma mistura de pick-up de DJ com uma arma de raios que dispara feixes de energia ao mesmo tempo que gera batidas de música eletrônica, colocando todos em seu raio de ação para dançar e matando seus inimigos (além dos civis que perambulam pela cidade) no processo. As armas possuem uma série de atributos que podem ser melhorados, além de várias possibilidades de customizar a aparência delas, muitas dessas aparências customizáveis fazem referência a armas de filmes famosos como Blade Runner (1982), A Balada do Pistoleiro (1995) e Robocop (1987).

Já que falei em customização, assim como no jogo anterior, a aparência do seu personagem é totalmente customizável em um nível de minúcia pouco visto em boa parte dos games e se você cansar dele, é só levá-lo a uma das clínicas de cirurgia plástica espalhadas pela cidade e mudar totalmente sua aparência. Do mesmo modo os poderes e habilidades são igualmente customizáveis e conforme o personagem adquire experiência e sobe nível, novas habilidades podem ser compradas usando dinheiro e os poderes podem ser melhorados coletando esferas de energia espalhadas pelo cenário.

O problema é que todos esses poderes e armas extremamente apelativas acabam tornando o jogo muito fácil, já que muitos inimigos são despachados facilmente e basta um superpulo para sair de uma situação apertada. Soma-se a isso a nova mecânica de recuperação de energia, antes era preciso ficar um tempo sem tomar dano para que a energia dos personagens começasse a se regenerar. Aqui, é preciso coletar os recarregadores deixados pelos inimigos, então é só manter um ritmo constante de matança que raramente irá faltar energia, exceto talvez em batalhas contra chefes e minichefes. Assim sendo, morrer em Saints Row IV é bem difícil, levando embora a sensação de perigo e desafio.

Outra questão é que a adição de poderes tornou inúteis muitos elementos do jogo. Para que vou perder tempo roubando e customizando carros e aeronaves se posso correr mais rápido que eles? Do mesmo modo, usar o telefone para chamar aliados perde o sentido quando posso disparar bolas de fogo das mãos e arremessar carros com minha mente.

Talvez seja por isso que em boa parte das missões da história, em geral passadas no mundo real, o personagem não tem acesso a esses poderes, talvez tenha sido a maneira encontrada pelos desenvolvedores de trazer de volta algum desafio e equilibrar a apelação, entretanto a sensação que fica é que estamos sendo tolhidos. O game nos apresenta esse monte de poderes fantásticos e depois não permite os usemos. Tudo bem que ainda temos muitas coisas sem noção mesmo no mundo real, como as missões que envolvem pilotar um robô gigante. Vejam bem, a escala de força do jogo é tão absurdamente exagerada e sem noção que estou reclamando de precisar usar um robô gigante.

Já que falei da história, ela é completamente nonsense, investindo em situações absurdas e paródias de filmes como A Hora Mais Escura (2013), Armageddon (1998), Tron (1982) além de parodiar vários games antigos da época do 8 bits e até mesmo algumas celebridades, com destaque para a presença do premiado ator Keith David, interpretando uma versão exagerada e caricata de si mesmo sendo o vice-presidente do nosso protagonista. Os demais personagens parecem tipos saídos de filmes B da década de 60 como o sotaque britânico caricato e despropositado do líder alienígena, que o faz soar como um vilão de um antigo filme de espionagem. A trama não é exatamente um primor, mas é tão criativamente retardada e autoconsciente da própria estupidez que é quase impossível não rir da sucessão de coisas inesperadas e sem sentido que acontecem.

Quando não estamos realizando as missões da história, há uma série de missões secundárias a serem realizadas em troca de novas armas e melhoria para os poderes, além de uma série de atividades que servem para conquistar territórios da simulação. As atividades variam do tradicional eliminar os inimigos de uma área, passando pela sem noção “fraude do seguro”, na qual o jogador precisa se deixar atropelar pelos carros da rua para arrecadar dinheiro. A atividade já existia no jogo anterior, mas agora, com os super-poderes, ela se torna ainda mais estupidamente divertida já que cada colisão no arremessa para o outro lado da cidade ou nos faz quicar por um longo período. A conquista de territórios além de render experiência e dinheiro a cada atividade cumprida, também serve para aumentar a renda fixa do personagem que é depositada de tempos em tempos. Isso sem mencionar os muitos conjuntos de itens colecionáveis espalhados pela cidade

Deste modo, os jogadores que quiserem explorar cada canto e cada missão secundária de Steelport terão mais de 30 horas de jogatina. A diversão é ainda potencializada pela possibilidade de jogá-lo inteiro ao lado de um amigo através do modo cooperativo online.

Assim sendo, apesar dos problemas, Saints Row IV nos conquista com seu humor abestalhado e pela sua ação caótica e exagerada, fazendo dele um game genuinamente divertido.

Nota: 7/10


Obs: O texto foi feito a partir da versão para PC do game, mas ele também está disponível para Xbox 360 e PS3.

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