segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Crítica - Valerian e a Cidade dos Mil Planetas

Análise Valerian e a Cidade dos Mil Planetas


Review Valerian e a Cidade dos Mil Planetas
A última vez que o diretor Luc Besson realizou uma aventura espacial foi em O Quinto Elemento (1997), uma aventura divertida e visualmente exuberante. Sim, seu filme anterior, Lucy (2014), flertava com a ficção científica, mas é neste Valerian e a Cidade dos Mil Planetas que Besson retorna a esse tipo de aventura espacial retrô. Era de se imaginar que o filme seria capaz de ser tão bacana quanto O Quinto Elemento, mas infelizmente não chega nem perto disso.

O agente espacial Valerian (Dane DeHaan) e sua parceira Laureline (Cara Delevingne) são encarregados de recuperarem e protegerem um raro espécime alienígena, capaz de reproduzir qualquer material que devore. A missão os leva à estação espacial Alpha, que abriga milhares de espécies de todo o universo, e a um perigo que pode destruir toda a estação.

Dane DeHaan está terrivelmente mal escalado como Valerian, um policial espacial de espírito aventureiro e galanteador. DeHaan é sério e sisudo demais, faltando-lhe o charme cafajeste de um Harrison Ford ou Chris Pratt que seria necessário para fazer o personagem funcionar. Cara Delevingne, por sua vez, não faz muito além de frisar as sobrancelhas e parecer entediada durante boa parte do tempo. Não ajuda que a química entre os dois seja praticamente nula, falhando em nos fazer investir ou torcer pela relação do casal, já que tudo soa tão mecânico e artificial.

A narrativa por vezes se perde em subtramas que não levam a lugar nenhum e não fazem muita diferença para a trama principal. Todo o segmento envolvendo a captura e o resgate de Laureline, por exemplo, poderia ser completamente suprimido sem grande perdas e provavelmente faria o filme parecer menos arrastado. No meio dessa bagunça a cantora Rihanna acaba desperdiçada em uma ponta inútil que só serve para apontar e dizer "olha só pessoal, a Rihanna está no filme". Além disso, muitas decisões tomadas pelos personagens parecem não fazer muito sentido. Em um dado momento o superior da dupla de protagonistas ordena que Laureline seja mandada para a prisão da estação espacial, para que na cena seguinte, sem que nada tenha mudado, ordena que ela seja trazida de volta. A situação do que está escondido no interior de Alpha também não é muito bem explicada.

Se o militar interpretado por Clive Owen sabia quem era a raça desconhecida e queria eliminá-los, porque não mandar logo a tropa de robôs assassinos ao seu dispor? O que aconteceu com a primeira onda de soldados que foi mandada para o local? O filme estabelece que os Pearls não matam e os soldados não foram tomados como reféns, então o que de fato aconteceu com eles? O vilão, por sinal, parece determinado a fracassar, já que seu plano tem mais furos do que um queijo suíço e não tem outra motivação além do clichê do militar sem escrúpulos.

O visual acaba sendo o que o filme tem de mais interessante, ao criar dezenas de criaturas verdadeiramente esquisitas e exóticas, concebendo ecossistemas complexos nos quais todas essas formas de vida interagem. A variedade de criaturas convivendo em um mesmo espaço evoca os ideais progressistas de outras obras de ficção científica que tinha uma visão otimista do futuro, na qual é possível colocar as diferenças de lado e conviver pacificamente em prol do desenvolvimento mútuo. Do mesmo modo, os planetas são dotados da mesma criatividade, como o gigantesco mercado que existe simultaneamente em várias dimensões e muitos outros ambientes que conferem um caráter psicodélico. O filme ainda faz um bom uso do 3D, construindo a sensação de profundidade e imensidão que nos faz realmente crer que estamos em uma imensa e superpovoada estação espacial. Apesar de toda essa inventividade no design de produção, as cenas de ação carecem de energia ou urgência (nunca sentimos que Valerian ou Laureline estão realmente em perigo) e desperdiçam as oportunidades criativas dos inúmeros gadgets e equipamentos dos personagens em prol de tiroteios bem burocráticos.

Nesse sentido, é lamentável que os ótimos atributos visuais de Valerian e a Cidade dos Mil Planetas se percam em uma trama problemática, personagens sem carisma e ação que não empolga.


Nota: 4/10

Trailer

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