No bloco Drops de hoje falaremos
brevemente de dois filmes que entraram recentemente no catálogo da Netflix, a
comédia sombria As Vozes (2015) e a
sátira Casa de mi Padre (2012)
As Vozes
Se eu te falasse de um filme no
qual Ryan Reynolds interpreta um sujeito homicida que conversa com vozes em sua
cabeça, provavelmente vocês imaginariam que estou me referindo a Deadpool (2016), certo? Bem, não
exatamente. Neste As Vozes Reynolds
interpreta Jerry, um sujeito pacato e tímido que trabalha em uma fábrica de
produtos para banheiro e constantemente ouve seu gato e seu cachorro (também
dublados por Reynolds) falarem com ele. Os problemas começam quando seus
animais começam a sugerir que ele mate pessoas.
Não é exatamente uma premissa de
comédia, mas a diretora Marjane Satrapi (de Persépolis)
consegue encontrar o absurdo e cômico em meio a esse conto sangrento sobre um
sujeito que, basicamente, não quer se sentir sozinho. As conversas entre ele e
seus animais ou as cabeças decepadas de suas rendem momentos divertidos pela
pura falta de noção dos diálogos e Reynolds é bem eficiente em transitar entre
o ingênuo e o sinistro. A fotografia, que inicialmente apresenta tudo com uma
iluminação brilhante e tons de rosa intensos, denotando a existência idealizada
do personagem, aos poucos vai mudando para nos mostrar a macabra realidade do
personagem e começa a flertar com o horror.
A questão é que toda essa
transição de gêneros narrativos nem sempre é feita de maneira fluida, por vezes
é esquisito ter que ver uma cena de grande peso dramático, como o flashback da infância traumática de
Jerry, para no seguinte acompanharmos uma conversa engraçada entre ele e uma
cabeça decepada. O filme também perde um pouco do fôlego em seu terço final,
deixando de lado toda a abordagem aloprada e exagerada do início por algo mais
convencional (conforme seus assassinatos arriscam vir a público) e menos
interessante.
Nota: 7/10
Casa de mi Padre
Fruto de uma parceira entre a
produtora do comediante Will Ferrell e a emissora mexicana Televisa, Casa de mi Padre é todo falado em
espanhol e funciona como uma paródia das telenovelas mexicanas.
Ferrell interpreta Armando
Alvarez, um filho de fazendeiro que tenta salvar a fazenda de sua família,
ameaçada por um cartel de drogas, ao mesmo tempo que tenta conquistar a mulher
de seus sonhos, Sonia (Genesis Rodriguez).
Boa parte da graça gira em torno
de como a trama ridiculariza os clichês das novelas mexicanas, então o
conhecimento desse tipo de narrativa é necessário para embarcar no filme. O
sotaque espanhol atroz de Will Ferrell, principalmente em contraponto com o
restante do elenco formado por atores hispano
hablantes como Diego Luna e Gael Garcia Bernal, é outra fonte de risos. O
problema é ele não tem muito mais a oferecer do que isso e com cerca de meia
hora tudo começa a ficar previsível. Ainda que aqui e ali volte a oferecer algo
realmente engraçado, o filme passa a repetir o mesmo tipo de piada sobre os
mesmos tipos de clichês narrativos e estilísticos. É o tipo de material que funcionaria
melhor como um curta metragem ou um "trailer falso" do que como um
longa.
Trailer
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