segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Crítica - BoJack Horseman: 4ª Temporada

Análise BoJack Horseman: 4ª Temporada


Resenha BoJack Horseman: 4ª Temporada
Apesar de ser anunciada como uma série de comédia parodiando as extravagâncias e futilidades do universo do entretenimento, a animação BoJack Horseman nunca se furtou de explorar os cantos mais sombrios da psique de seus personagens e suas tendências autodestrutivas e depressivas. Essa quarta temporada também não foge de se aprofundar nas angústias dos protagonistas e ao nos mostrar suas tentativas de lidar com tudo isso acaba pavimentando o caminho deles rumo a algum tipo de reparação, resultando na melhor temporada da série até então.

A trama começa onde a terceira terminou com BoJack (WillArnett) deixando Hollywoo depois da morte de Sarah Lynn (Kristen Schaal). O ex-astro de televisão parte em uma jornada de redescoberta e acaba indo até a antiga casa de sua mãe no interior dos Estados Unidos. Enquanto ele se mantém distante, os demais personagens continuam tocando suas vidas. Mr. Peanutbutter (Paul F. Thompkins) se engaja em uma absurda campanha eleitoral para governador que cria conflitos em seu casamento com Diane (Alison Brie), Princess Carolyn (Amy Sedaris) resolve tentar engravidar e Todd (Aaron Paul) tenta criar um negócio envolvendo palhaços dentistas.

Entre todas as tramas a mais interessante é de longe a de BoJack, que o coloca para confrontar o passado complicado de sua família ao mesmo tempo em que lhe apresenta uma nova possibilidade de se conectar com alguém na forma da jovem Hollyhock (Aparna Nancherla) que talvez seja sua filha. A mãe de BoJack, Beatrice (Wendie Malick), sempre foi mostrada como fonte de boa parte dos problemas de autoestima dele, sempre colocando-o para baixo e menosprezando tudo que ele fazia, mas ao nos mostrar um pouco de seu passado, conseguimos entender porque ela se tornou daquela maneira. Claro, isso não serve como desculpa para o que ela fez com BoJack, que não tinha culpa nenhuma dos traumas dela, mas torna compreensível e crível a conduta dela.

Através do passado de Beatrice vemos como os filhos acabam repetindo os erros dos pais em um ciclo de traumas e frustrações até chegarmos na relação de BoJack com Hollyhock. O processo mental de BoJack é inteligentemente ilustrado como uma série de animações toscas no sexto episódio, denotando não só a visão negativa que ele tem de si mesmo, mas também revelando a personalidade depressiva, insegura e cheia de ansiedade do personagem.

Os momentos mais poderosos da temporada acabam vindo justamente da exploração do rancor de BoJack com a mãe, em especial no penúltimo episódio que nos mergulha na mente esclerosada de Beatrice. Mostrando a decadência e fragmentação de suas memórias através de rostos rabiscados, cenários tremidos e o modo como a mãe de Beatrice aparece com uma sombra cujo único traço identificável é a cicatriz de sua lobotomia, experimentamos o horror vivenciado por uma pessoa presa na própria cabeça e constantemente revivendo seus piores e mais traumáticos momentos, não muito diferente do que tinha acontecido com sua própria mãe (embora as causas sejam diferentes).

Quando tudo parece apontar para uma visão fatalista da relação entre pais e filhos, a série entrega seu momento mais arrebatador quando Beatrice tem um breve momento de lucidez e BoJack tem a oportunidade perfeita para jogar em sua cara quanto a odeia (e estaria justificado em fazê-lo), mas ao invés disso escolhe abrir mão de seu ódio para lhe dar uma mínima medida de conforto ao lhe dizer que estão na casa do lago. Assim, BoJack consegue mostrar que ele talvez seja capaz de quebrar esse ciclo de relações familiares tóxicas, mostra que pode ser capaz de superar seus traumas e, bem, que pode ser uma pessoa (ou cavalo) melhor.

Logicamente a temporada não é feita apenas de momentos de emoção e bad trip, encontrando muitos momentos para o humor sem noção que lhe é característico. O arco do Mr. Peanutbutter é uma crítica à espetacularização do debate político e como a imprensa dá mais destaque a frivolidades do que aos assuntos realmente importantes. As cenas com Princess Carolyn parodiam constantemente a conduta autocentrada das personalidades do entretenimento enquanto que Todd é puro nonsense com sua empresa de palhaços dentistas cujo desfecho é simplesmente hilário. Mesmo entre esses personagens, a série também tem algumas verdades duras sobre como lidamos com a vida, a exemplo do desfecho niilista do nono episódio que nos lembra como constantemente inventamos mentiras e fantasias para atenuar nossos problemas. Ainda assim, nessa temporada nenhum desses personagens tem uma jornada tão interessante e rica quanto a de BoJack, o que acaba diminuindo a força dos momentos em que ele não está em cena.

Ao se concentrar nos problemas emocionais e familiares de seu protagonista a quarta temporada de BoJack Horseman é a melhor da série até aqui, nos fazendo vislumbrar uma possibilidade de reparação ou reconstrução para o atormentado cavalo antropomórfico.


Nota: 9/10  

Trailer

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