terça-feira, 12 de setembro de 2017

Crítica - Feito na América

Análise Feito na América


Review American Made
Histórias sobre o narcotráfico e a figura de Pablo Escobar estão em alta recentemente em Hollywood. De filmes como Conexão Escobar (2016), Escobar: Paraíso Perdido (2014), passando pela série Narcos, a sensação é que o mercado deste tipo de história já está ficando inchado. O que consegue diferenciar este Feito na América dos demais é sua abordagem cínica e bem humorada em relação a todo o contexto da guerra contra o narcotráfico.

A trama é baseada na história real de Bryan Seal (Tom Cruise), um piloto que foi recrutado pela CIA na década de oitenta para servir de fachada para suas operações na América Central e Latina, conduzindo operações de reconhecimento com aviões espiões, recolhendo informações e traficando armas para facções aliadas aos EUA. Ao curso do seu trabalho, Bryan acaba sendo abordado por Pablo Escobar (Maurício Mejia) que quer seus serviços para transportar drogas para os Estados Unidos. Interessado no dinheiro extra, Bryan aceita, mas isso começa a lhe causar problemas.

A vida de excessos de Bryan e as operações de espionagem da CIA são sempre abordadas por um viés crítico de cinismo, sempre reconhecendo o quanto aquelas situações são absurdas, como a cena em que Bryan leva armas para os contras e eles só querem as roupas e itens pessoais dos pilotos, pouco eficiente e fundamentalmente feitas para darem errado. Toda a política intervencionista estadunidense é abordado como uma bagunça cara e extravagante na qual ninguém tem certeza do que está fazendo ou quais são exatamente as implicações daquelas ações. Filmes como O Senhor das Armas (2005) e Cães de Guerra (2016), já abordaram os exageros e absurdos do comércio (ou tráfico) internacional, mas Feito na América consegue achar tantas situações insólitas na jornada de Bryan que evita parecer uma mera reciclagem de coisas que já vimos antes.

Bryan, por sua vez, é um sujeito esperto que sempre tenta usar as circunstâncias ao seu favor e parece gostar da adrenalina, algo evidenciado já em sua primeira cena quando ele baixa rapidamente o avião para assustar os passageiros. Ele claramente está metido em algo além da sua capacidade e que não compreende plenamente, isso gera muitas reações incrédulas da parte dele toda vez que ele se livra de prisões sem qualquer consequência.

É um personagem um pouco diferente dos heróis de ação (Bryan está mais para um anti-herói) que Tom Cruise vinha fazendo nos últimos anos nos filmes de Missão Impossível e Jack Reacher, mas o ator usa praticamente os mesmos trejeitos e maneirismos que são típicos de sua persona cinematográfica e nesse sentido ele acaba sendo mais Tom Cruise do Bryan. Ocasionalmente o ator até tenta fazer um sotaque sulista, que seria compatível com seu personagem, mas o desempenho é bem inconstante e na maioria das vezes sua dicção passa longe do sotaque pretendido. Cruise, entretanto, tem presença e carisma suficientes para fazer o personagem funcionar mesmo quando suas escolhas de composição não alcançam o resultado desejado.

Esteticamente falando, há uma reconstrução competente da atmosfera oitentista, algo transmitido não só pelos cenários e figurinos, mas também pela fotografia que opta por efeitos de granulação e iluminação que remetem a uma película antiga. O clima da época também é retratado pelas inúmeras imagens de arquivo, em especial do então presidente Ronald Reagan, que abordam o zeitgeist da paranoia anticomunista e da construção da retórica de combate às drogas. Essas imagens de arquivo, por sinal, muitas vezes são usadas para efeitos cômicos, quando a montagem contrapõe os discursos de Reagan com as atividades de Bryan.

É justamente por esse senso de humor cínico e pelo carisma do protagonista que Feito na América acaba valendo a pena.


Nota: 7/10

Trailer

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