Dos últimos anos pra cá houve uma
onda crescente de documentários sobre música e artistas desse universo, tanto
no cinema hollywoodiano quanto no brasileiro. Muitos desses filmes que tratavam
de fenômenos pop recentes como Justin
Bieber, One Direction, Katy Perry e outros, pareciam mais grandes publicidades
ou making of de suas turnês a serem
colocados como extra nos DVDs dos shows. Nos primeiros minutos deste Gaga: Five Foot Two temi que o filme se
encaixasse nessa categoria ao ver a cantora sendo alçada ao alto minutos antes
de começar sua apresentação no intervalo do Super Bowl.
Felizmente o resultado final
passa longe de ser mera publicidade e há um esforço da equipe e do diretor
Chris Moukabel em entender quem é Stefani Germanotta (nome real de Gaga) quando
não está sob os holofotes. O que a impele, como ela enxerga o mundo, sua arte e
a si mesma, como ela se relaciona com o impacto do estrelato e outras coisas
mais. Nesse sentido o filme está mais próximo de obras como o seminal Don't Look Back (1967) sobre Bob Dylan
do que essa onda recente de documentários pop.
Acompanhando Gaga em sua rotina
de ensaios, gravações, entrevistas e seu cotidiano em casa, tudo é filmado no
estilo "mosca na parede" como estivéssemos adentrando a intimidade da
cantora e são pouquíssimas as vezes em que a equipe se dirige aos objetos
filmados ou vice versa. Ao longo do documentário acompanhamos as gravações de
seu mais recente álbum, Joanne, seus ensaios para o Super Bowl e também sua
relação com a família e amigos.
O processo de realização do disco
nos permite compreender a perspectiva que Gaga tem com sua música e como essa
obra se encaixa em seu percurso artístico, sendo algo mais intimista do que os
hinos pop de antes. Esse direcionamento parece vir não só do ímpeto da artista
em fazer algo diferente, mas também como parte de seu processo de
amadurecimento como pessoa e como mulher, se tornando mais confiante e segura
de si ao ponto de se desnudar de suas fantasias elaboradas e se apresentar
menos "montada". Ao longo do filme a ouvimos falar de seus problemas
de autoestima, de como sua família é importante e como a morte precoce de sua
tia Joanne a impactou. Não é a toa que uma das melhores cenas do filme é
justamente quando ela mostra a música que compôs para a tia para sua avó e seu
pai.
Gaga também mostra seu lado mais
vulnerável ao nos revelar as dores constantes que sente em razão da
fibromialgia, sendo mais de uma fez filmada deitada e chorando enquanto faz
massagens e aplica gelo para tentar dirimir os sintomas. Não deixa de ser
curioso que ela cite Marilyn Monroe em dado momento, já que assim como na diva
do cinema o documentário nos deixa perceber em Gaga uma certa medida de
solidão, insegurança e carência que também era visível em Monroe. Talvez tudo
isso seja fruto da ampla fama e da pressão que a acompanha ou talvez seja o
caminho inverso e pessoas como ela procurem a fama com um bálsamo para isso.
Assim sendo, Gaga surge como uma figura complexa, sendo simultaneamente
enérgica e melancólica, poderosa e frágil.
Ela também fala sobre a dificuldade
do meio do entretenimento e o machismo da indústria da música também é
abordado, assim como sua querela com Madonna a quem Gaga reitera a admiração
apesar das coisas que ela disse e o fato de não ter lhe sido dito diretamente,
mas através da imprensa.
Mesmo reproduzindo um formato bem
tradicional de documentário sobre personalidades da música, Gaga: Five Foot Two constrói um retrato
sensível e intimista da cantora, nos dando a sensação de que realmente passamos
a conhecê-la melhor ao invés de apenas vermos o seu retrato midiático e sendo interessante tanto para fãs da cantora quanto para quem não é tão íntimo de sua obra.
Nota: 7/10
Trailer
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