segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Crítica - Kingsman: O Círculo Dourado

Análise Kingsman: O Círculo Dourado


Review Kingsman: O Círculo Dourado
Ninguém esperava que Kingsman: O Serviço Secreto (2014) fosse ser tão bom com sua sátira anárquica dos tradicionais filmes espiões. O sucesso, no entanto, pode ser uma faca de dois gumes, já que este Kingsman: O Círculo Dourado chega com a expectativa de ser algo tão bacana quanto o primeiro filme e o resultado final pode frustrar quem entrar na sala de cinema com hype em alta. O problema mais grave do filme, porém, é que ele parece não entender o que seu anterior tinha de mais interessante.

A trama começa quando a Kingsman é atacada pela traficante de drogas Poppy (Julianne Moore). Com suas bases destruídas e sem recursos, Eggsy (Taron Egerton) e Merlin (Mark Strong) vão pedir ajuda à "agência-irmã" Statesman, o equivalente dos Estados Unidos da Kingsman. Lá recebem ajuda dos agentes Tequila (Channing Tatum), Uísque (Pedro Pascal) e Ginger Ale (Halle Berry) e descobrem que Harry (Colin Firth) sobreviveu aos eventos do filme anterior. Com o auxílio dos novos agentes Eggsy corre contra o tempo para impedir os planos de Poppy.


Se o primeiro filme divertia principalmente pelo modo como expunha ao ridículo os clichês e convenções cafonas dos filmes de ação de outrora, este repete todos os clichês conhecidos sem um pingo de ironia ou sarcasmo e assim se torna mais um filme de ação como qualquer outro. Lugares comuns cansados surgem a todo minuto na tela sem que qualquer tentativa de subversão seja feita, como o fato da vida de agente interferir na vida amorosa de Eggsy, a conveniente amnésia de Harry, o eventual traidor, a namorada que precisa ser salva, o coadjuvante que se sacrifica, o momento em que o herói despacha o inimigo que matou seus aliados dizendo "isso é por fulano!". Tudo soa como uma repetição maçante de ideias que já cansamos ver ao invés da diversão cheia de energia e humor de antes. Não ajuda que a narrativa demore a engrenar com o conflito principal do filme sendo delineado com quase uma hora e meia de projeção.

Mark Strong, Taron Edgerton e Colin Firth conseguem trazer carisma aos seus personagens mesmo quando o texto deixa a desejar e a química entre eles rende alguns momentos divertidos como a cena de bebedeira entre Merlin e Eggsy no início do filme. Por outro lado, o filme desperdiça uma quantidade enorme de bons atores em personagens que não conseguem dizer a que vieram como Channing Tatum, Halle Berry, Jeff Bridges, Emily Mortimer e mais alguns outros. Ao final fica a promessa de alguns deles podem ser importantes mais para frente, mas isso não alivia o fato de muitos deles passarem pela trama sem fazer muita diferença.

Boa parte do apelo do primeiro tinha a ver com o fato de atores como Colin Firth e Samuel L. Jackson interpretarem personagens contrários aos tipos que eles habitualmente viviam, com Firth se tornando um herói de ação e Jackson um vilão de fala fina com nojo de violência. Isso não ocorre com os novatos do elenco, já que Bridges ou Tatum apenas repetem o mesmo tipo de personagem que já os vimos interpretar diversas vezes.

A abordagem paródica e crítica do primeiro filme sobrevive somente na exagerada vilã interpretada por Julianne Moore. Claramente se divertindo no papel de uma criminosa sádica obcecada pela estética dos anos 50, Moore acerta em sua caricatura de megalomaníaca. A participação de Sir Elton John como ele mesmo é igualmente recheada de humor autorreferencial e não há como não se divertir ao vê-lo largar uma voadora em cima dos capangas de Poppy.

O arco da vilã também serve como uma crítica à hipocrisia das políticas de combate às drogas que elege certas substâncias como horrores a serem eliminados enquanto que outras igualmente nocivas como o tabaco, o álcool e certos medicamentos são livremente comercializados, faturando cifras altíssimas. Também aborda a maneira ineficaz com a qual as autoridades tratam os usuários de drogas, preferindo abordar a questão sob um ponto de vista criminal e não de saúde pública.

As cenas de ação são tão competentes quanto antes, embora este filme não traga nada tão icônico quanto o tiroteio na igreja do primeiro. Ainda assim os embates e perseguições são bastante ágeis e bem encenados o suficiente para não ficarmos perdidos em meio ao caos da ação, sendo criativos ao explorarem os gadgets insólitos usados pelos agentes. O destaque fica por conta da perseguição do início, uma briga de bar protagonizada por Uísque (que repete a cena do diálogo "as maneiras fazem o homem" do primeiro filme) e todo o segmento em uma montanha nevada.

Ainda que tenha momentos divertidos, Kingsman: O Círculo Dourado lamentavelmente acaba se tornando exatamente o tipo de filme que deveria parodiar. Apesar da expansão do universo e da mitologia, fica a sensação de que as coisas regrediram ao invés de evoluírem.

Nota: 6/10


Trailer

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