terça-feira, 24 de outubro de 2017

Crítica - 1922

Análise 1922


Review 1922
Inúmeras histórias já foram contadas sobre pessoas que cometem crimes horrendos e são devastadas pela culpa. Do Macbeth de William Shakespeare ao Crime e Castigo de Dostoievski, faz tempo que a ficção se debruça sobre o tema. Este 1922, que adapta uma obra de Stephen King, também aborda essas ideias, conseguindo ser eficiente em tratar de decadência e culpa mesmo sem acrescentar de novo a este tipo de história.

No ano de 1922 o fazendeiro Wilfred (Thomas Jane) descobre que sua esposa, Arlette (Molly Parker), está disposta a vender as terras que herdou da família para poder se mudar para a capital com o filho deles, Henry (Dylan Schmid). Wilfred é um homem rústico, que tem orgulho de seu trabalho rural e de sua fazenda, não vendo com bons olhos a proposta da esposa. Quando ela se mostra irredutível em sua decisão, Wilfred decide matá-la. Depois da morte dela, no entanto, toda sorte de tragédia começa a se abater sobre o fazendeiro e sua propriedade enquanto visões da esposa morta começam a assombrar o fazendeiro.

Thomas Jane faz de Wilfred um homem simplório, limitado, mas bastante cruel e ardiloso quando contrariado. Sua fazenda é seu mundo, é tudo que ele conhece e a decisão de Arlette é, sob seus olhos, uma ameaça à sua própria existência. Como uma criatura bestial, a única resposta que Wilfred tem ao se ver acuado é a violência. Apesar de conseguir facilmente convencer as pessoas de sua comunidade de Arlette fugiu e foi embora, isso não significa que ele fica livre de enfrentar consequências por seu crime.

Os ratos que passam a infestar sua propriedade são um símbolo da podridão e decadência interna do protagonista, mostrando como a mácula de seu crime se entranhou em sua vida e em sua casa. O filme constrói imagens bem macabras dos ratos devorando a propriedade, seja eles saindo da boca do cadáver decomposto de sua esposa ou a tomada de um rato arrancando a dentadas parte da teta de uma vaca viva. O dinheiro manchado de sangue é também um símbolo de como o ato de violência corrompeu Wilfred e seu lar.

Dizer mais sobre os eventos que destroem a vida do fazendeiro seria estragar a experiência, o que pode ser dito é que há um clima crescente de tensão conforme tudo desaba ao redor do personagem e esperamos o momento em que ele será levado ao seu limite, pois como a história é narrada em flashback pelo personagem já começamos sabendo que ele foi destruído pela culpa. A música contribuiu para a impressão de que a mente de Wilfred pode ir ao limite a qualquer momento com acordes agudos longos de instrumentos de corda, como se essas cordas estivessem se partir sob o peso da constante tensão.

Mesmo sendo relativamente previsível e fazendo pouco esforço para ir além do que se espera de uma história como essa, 1922 é bem conduzido o suficiente para funcionar como um conto sinistro sobre a degradação causada pela violência. Depois do bacana Jogo Perigoso, a Netflix realiza mais uma adaptação competente da obra de Stephen King. 


Nota: 7/10

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