Não conhecia o trabalho dos
irmãos Safdie e entrei para assistir a este Bom
Comportamento sem saber exatamente o que esperar. O filme com qual me
defrontei, no entanto, me deixou curioso pelos próximos trabalhos da dupla e
também para conferir suas realizações anteriores. A trama é centrada em
Constantine, ou Connie (Robert Pattinson). Ele tenta roubar um banco com seu
irmão surdo Nick (Benny Safdie) para poderem sair da cidade e viverem a vida
que desejam no campo, mas o golpe dá errado e Nick é preso. Connie tenta pagar
a fiança do irmão, mas não tem dinheiro. Ao descobrir que o irmão se envolveu
em uma briga na prisão e foi hospitalizado, Connie decide invadir o hospital
para libertá-lo, mas seus planos não correm como esperado e ele precisa correr
madrugada adentro para resgatar o irmão.
O universo do filme de alguma
maneira remete ao de Killer Joe: Matador de Aluguel (2012) ao focar em indivíduos sórdidos ou marginalizados e
espaços sombrios. Os personagens do filme ou são sujeitos de péssimo caráter,
mentalmente desequilibrados ou são ignorantemente marginalizados, sendo presa
fácil para os criminosos e golpistas que habitam por entre as ruas sombrias da
madrugada.
Connie se encaixa na primeira
categoria. Ele é um predador engenhoso com um talento para identificar pessoas
vulneráveis e manipulá-las para seus propósitos. Isso fica evidente na sua
relação com uma mulher com claros problemas emocionais (e talvez mentais)
vivida por Jennifer Jason Leigh ou pela facilidade com a qual maneja uma adolescente
para fazer o que ele quer. Acuado e correndo contra o tempo, Connie vai se
tornando mais instável conforme a noite avança e Robert Pattinson, que já tinha
entregue uma ótima performance esse ano em Z: A Cidade Perdida, traz uma energia insana e intensa ao personagem que
parece sempre em movimento ou enredando algum esquema em sua mente. Ele é como
um predador encurralado por um caçador tentando desesperadamente se manter
vivo.
Apesar de usar qualquer um que
encontre no caminho para conseguir o que quer, Connie não chega a ser um
sociopata e exibe um afeto verdadeiro, à sua própria e talvez deturpada
maneira, pelo irmão. Na última cena, quando Nick é levado para a escola de
deficientes que Connie não queria que ele frequentasse, é possível entender a
motivação do protagonista para empreender seu roubo e tentar construir uma vida
fora da cidade para ele e o irmão.
Connie também não é um sujeito
exatamente brilhante como fica claro pelo modo como muitos de seus planos dão
errado, embora se considere mais esperto do que realmente é. Isso talvez seja o
que motiva sua eventual discussão com um criminoso que cruza seu caminho e o
acompanha em sua jornada pela noite. Assim como Connie, o sujeito sonha com uma
vida de dinheiro e monta diferentes esquemas para ficar rico rápido, Connie
desdenha dele constantemente e o criminoso lhe adverte que Connie não é melhor
que ele. É como se esses dois sujeitos se vissem um no outro e finalmente se dessem
conta de que não passam de criminosos pés-de-chinelo fracassados que nunca
conseguirão coisa alguma.
Pattinson sempre está em
primeiríssimo plano e essa constante proximidade ajuda a transmitir o
sentimento de sufocamento e opressão vivenciado pelo protagonista conforme ele
percebe suas chances erodirem sob seus pés. O uso de uma música eletrônica com
pulsações constantes martelando o ouvido do espectador contribui para a imersão
no estado metal de Connie, cuja mente trabalha sem parar e sob intensa pressão
para tentar achar um modo de resolver seus problemas. A fotografia preza pelo
constante uso de sombras, com tons de neon dos letreiros e luzes urbanas
noturnas incidindo sobre as faces dos personagens dando evidência a eles mesmo
na escuridão.
Esteticamente bem construído e
com uma performance intensa de Robert Pattinson, Bom Comportamento se mostra uma tensa e sórdida jornada por
sobrevivência e reparação.
Nota: 8/10
Trailer
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