sábado, 28 de outubro de 2017

Crítica - Thor: Ragnarok

Análise Thor: Ragnarok


Review Thor: Ragnarok
Thor: Ragnarok é provavelmente o melhor dos três filmes solo do deus do trovão da Marvel, mas, convenhamos, isso não é lá um grande feito. O elemento principal que eleva este filme em relação aos dois outros é que pelo menos há uma visão bem clara e singular sendo transmitida ainda que talvez não seja a mais adequada ao material.

A trama começa com Thor (Chris Hemsworth) enfrentando Surtur (Clancy Brown) para impedir o Ragnarok, o fim de Asgard. Ele retorna a Asgard para guardar a coroa de Surtur, mas descobre que Loki (Tom Hiddleston) tomou o lugar de Odin (Anthony Hopkins), que foi banido para a Terra. A ausência de Odin permite que a deusa da morte Hela (Cate Blanchett) saia de sua prisão e ataque Asgard. Na luta contra Hela, Thor acaba sendo jogado para longe de Asgard e vai parar no selvagem planeta Sakaar, sendo capturado e obrigado a lutar como gladiador na arena do Grãomestre (Jeff Goldblum). Quando Thor descobre que o principal campeão do lugar é o Hulk (Mark Ruffalo), percebe que há uma chance de escapar e retornar para Asgard.

Por essa breve sinopse já dá para perceber que o filme tenta conciliar a trama do Ragnarok com uma espécie de "adaptação light" do arco Planeta Hulk dos quadrinhos. Que a película pareça mais interessada e passe mais tempo no segundo do que o primeiro é um problema. O segmento em Sakaar é a melhor coisa do filme? Sem dúvida. Por outro lado ele não tem quase relação nenhuma com o restante da trama sobre o Ragnarok, que poderia ser contada sem precisar enfiar outro grande arco dos quadrinhos no meio.

A trama sugere uma narrativa sobre o fim do mundo, sobre seu herói ser confrontado com seus piores pesadelos, mas curiosamente não há qualquer sensação de urgência, perigo ou peso dramático. Isso porque, assim como no fraco Homem de Ferro 3 (2013), o filme insiste em enfiar piadinhas em toda e qualquer cena, sabotando todas as tentativas de qualquer construção dramática que nos faça criar uma conexão com os personagens. Um exemplo é a cena em que Thor se ajoelha para orar pela morte de Odin, um momento que deveria dar ao personagem e o público o tempo para sentirmos o peso da morte de alguém importante, mas a cena é abruptamente interrompida e sabotada por uma gag do Thor jogando pedrinha no holograma do Loki. O mesmo pode ser dito da cena entre Loki e Thor no elevador, um momento agridoce entre os dois personagens no qual eles reconhecem a admiração que tem um pelo outro ainda que percebam que sempre serão inimigos de alguma maneira, mas o valor emocional é literalmente arremessado para longe quando Thor joga Loki em cima de um guarda.

Até mesmo os dois Guardiões da Galáxia, filmes com um claro viés cômico, são espertos o suficiente para dar um tempo nas piadas e abrir espaço para que consigamos nos conectar com o drama dos personagens e seus problemas. Tanto o primeiro quanto o segundo entregam vários momentos de emoção genuína (a cena do "Nós somos Groot" no primeiro, por exemplo), mas esse tipo de construção dramática está completamente ausente de Thor Ragnarok. Aqui os personagens não tem qualquer arco de desenvolvimento, não passam por nenhuma mudança ou aprendizado, eles existem tão somente para servirem de punchlines de piadas. O diretor Taika Waititi é um ótimo comediante, vide o excelente e pouco visto O Que Fazemos nas Sombras (2014), mas sua sensibilidade cômica soa equivocada para um trama tão evocativa de morte e destruição.

A Valquíria (Tessa Thompson) é a única que tem algum tipo de percurso narrativo ao apresentar sua jornada de trauma e redenção. Thompson é ótima em fazer dela alguém que claramente se perdeu, mas insiste em fugir de seus temores ao invés de confrontá-los. Mesmo sem ter um arco que seja interessante, Chris Hemsworth é bem carismático como Thor e tem uma ótima química com o Hulk/Bruce Banner de Mark Ruffalo, sendo as cenas envolvendo os dois sendo as mais divertidas do filme. Tom Hiddleston a essa altura poderia interpretar Loki até dormindo, mas também é carismático o suficiente para entreter, ainda que Loki seja mais uma escada para piadas do que o sujeito perigoso e ardiloso dos demais filmes.

Cate Blanchett devora o cenário como Hela, sendo eficiente ao evocar a fúria, poder, imponência e apetite destrutivo da deusa da morte. A competência da atriz, por outro lado, torna lamentável que a vilã tenha tão pouco tempo de tela (como já disse o filme está mais interessado em Sakaar do que em Asgard) e suas complicadas relações familiares com Thor e Odin sejam abordadas de modo tão superficial. Karl Urban, por sua vez, acaba desperdiçado como Skurge, em especial pelo fato do filme não se decidir entre fazer dele um vilão ou deixá-lo como um mero alívio cômico para a vilania de Hela e o personagem entra e sai do filme sem dizer a que veio.

Com um claro interesse maior nos eventos de Sakaar, o planeta dos gladiadores é talvez o ambiente mais interessante de todos os três filmes do Thor. Com uma intensa e variada paleta de cores e uma estética e arquitetura que exibe uma mistura entre futurismo e breguice retrô, o planeta remete a aventuras espaciais oitentistas como Mestres do Universo (1987) ou Flash Gordon (1980). Os efeitos visuais que criam o Hulk tornam essa versão a mais expressiva e crível do gigante esmeralda até então e outros personagens digitais são igualmente bem concebidos como o gladiador de pedra Korg (Taika Waititi). Isso sem mencionar toda a cena do flashback da Valquíria, tão boa que dá vontade de emoldurar vários planos e pendurar na parede. As cenas de ação acertam ao finalmente explorarem a extensão das habilidades elétricas do Thor, já que até então elas apareciam pouco em relação aos poderes do martelo.

Thor Ragnarok acaba sendo uma aventura divertida que traz um frescor criativo ao personagem, mas sua insistência na comédia a todo momento acaba sabotando a construção de sua trama sobre morte e renovação.


Nota: 6/10

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