quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Crítica - The Sinner

Análise The Sinner


Review The Sinner
Uma mulher está em um piquenique com seu marido e filho quando simplesmente se levanta e esfaqueia brutalmente um homem até a morte. Parecendo estar fora de si, ela é contida pelo marido até que a polícia chega. Ela admite ter matado o homem, mas não consegue explicar o que a levou a isso, sua vítima era um completo desconhecido, nunca havia lhe feito nada, ela não tem nenhum histórico de doença mental ou agressividade e ainda assim matou um homem violentamente. O que teria levado Cora (Jessica Biel) a cometer o crime? Ela está sendo sincera ou escondendo algo? Estaria ela lúcida ou em um estado de surto? Essas e outras perguntas dão início à instigante série The Sinner que traz um exame complexo sobre culpa e crime. O texto a seguir pode conter alguns SPOILERS.

Boa parte do mérito da série repousa sobre os ombros de Jessica Biel, se sua personagem não funcionasse seria impossível embarcar nos dilemas que a narrativa propõe. Ela é serena e lúcida durante boa parte do tempo, mas permite que percebamos severos traumas sob a superfície de mãe de família pacata. Ela não foge à responsabilidade do assassinato que cometeu, no entanto claramente esconde segredos da polícia. Essa ambiguidade e incapacidade de sabermos se ela é uma mulher extremamente traumatizada, uma sociopata fria enganando todos ou simplesmente alguém que momentaneamente perdeu o controle torna Cora uma figura fascinante e cheia de camadas, mantendo o nosso interesse durante os oito episódios da série.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Crítica - Assassinato no Expresso do Oriente

Análise Assassinato no Expresso do Oriente


Review Assassinato no Expresso do Oriente
O famoso romance de Agatha Christie Assassinato no Expresso do Oriente já tinha recebido uma excelente adaptação de mesmo nome dirigida por Sidney Lumet em 1974, que chegou a ser indicada a seis Oscars e levou um para a atriz Ingrid Bergman. Assim sendo, há alguma razão para se fazer uma nova adaptação sendo que o filme de 1974 se sustenta perfeitamente ainda hoje e essa nova versão não faz nenhuma mudança na sua ambientação no final dos anos 20 ou na resolução do crime em si? Bem, não, a nova versão é bem desnecessária, ainda que consiga ser competente em recriar a famosa narrativa policial.

A trama se mantem a mesma dos livros. O famoso detetive Hercule Poirot (Kenneth Branagh) está viajando no Expresso do Oriente quando uma nevasca interrompe a viagem e um dos passageiros, o sinistro Ratchett (Johnny Depp), é encontrado morto em sua cabine que estava supostamente trancada. Com todos os passageiros como suspeitos, o gerente da linha de trem, o Sr. Bouc (Tom Bateman), pede que Poirot investigue o caso antes que o trem seja consertado e chegue à próxima estação, na qual  o culpado poderá desembarcar e evitar a captura. Poirot precisa então correr contra o tempo para resolver esse mistério.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Crítica - Star Wars Battlefront 2

Análise Star Wars Battlefront 2


Review Star Wars Battlefront 2
Quando escrevi sobre o beta de Star Wars Battlefront 2 falei que o jogo prometia mais conteúdo que o antecessor, mas também preocupava pelo seu desequilibrado e mal concebido sistema de progressão. Agora, com o produto final em mãos, é possível dizer que tanto as impressões positivas quanto negativas se confirmaram.

A primeira coisa que chama a atenção é a presença de um modo campanha, algo ausente do jogo anterior. A história é centrada em Iden Versio, líder do esquadrão de elite das tropas imperiais. A narrativa começa durante a batalha de Endor em O Retorno de Jedi (1983) e é bem interessante poder ver esses eventos sob a perspectiva de um membro do império.

Essa escolha poderia resultar em uma trama cheia de questões morais complexas, mas antes que a narrativa se torne sombria demais tudo dá uma guinada para um caminho bem previsível. Ainda assim poderia ser uma trama satisfatória se focasse na evolução e aprendizado de Iden, mas a campanha constantemente deixa de lado sua protagonista para colocar os jogadores da pele de personagens conhecidos da franquia, fazendo de Iden uma coadjuvante em sua própria história. Ao menos consegue afastar a sensação de ser um mero encadeamento de partidas multiplayer com bots ao oferecer algo que realmente tem cara de um conteúdo pensado para ser single player.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Crítica - Boneco de Neve

Análise Boneco de Neve


Review Boneco de Neve
Apesar de não ter lido os romances protagonizados pelo detetive Harry Hole, já ouvido falar dos trabalhos do escritor norueguês Jo Nesbo sempre de maneira positiva. Foi com expectativa e boa vontade que me aproximei deste Boneco de Neve e acabou sendo lamentável que o resultado tenha sido tão decepcionante.

A trama é centrada em Harry Hole (Michael Fassbender), um policial com problema de alcoolismo em Oslo, capital da Noruega, que começa a receber cartas com mensagens cifradas e o desenho de um boneco de neve. Inicialmente ele ignora as cartas, mas quando mulheres começam a desaparecer e bonecos de neve são encontrados nas cenas dos crimes, fica evidente que há um serial killer à solta.

O diretor Thomas Alfredson (do ótimo Deixa Ela Entrar) usa as paisagens gélidas e nevadas do interior da Noruega para criar uma sensação constante de desolação e isolamento, nos fazendo praticamente sentir a frieza extrema desses ambientes. A bela fotografia, porém, acaba sendo o principal ponto positivo em uma narrativa cheia de problemas.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Crítica - A Vilã

Análise A Vilã


Review A Vilã
Com um começo intenso em uma longa sequência de ação quase toda em primeira pessoa, este sul-coreano A Vilã já mostra logo de cara que sua força reside na sua pancadaria em ritmo desenfreado e o restante do longa faz valer essa promessa ainda que tenha sua parcela de problemas.

A trama é centrada em Sook-hee (Ok-Bin Kim), uma mulher que desde a infância foi treinada para ser uma assassina. Ela é recrutada por uma agência que lhe propõe um acordo: depois trabalhar para eles durante 10 anos, Sook-hee estará livre para fazer o que quiser e retomar sua vida. Ela aceita, mas conforme progride em seu trabalho acaba encontrando um homem de seu passado e isso coloca tudo em risco.

De início os cortes bruscos entre o presente e os flashbacks da protagonista causam algum incômodo e levam algum tempo para nos acostumarmos com o modo seco com o qual o filme transita entre as duas temporalidades, mas depois de algum tempo é possível se acostumar a essas escolhas estilísticas sem muito problema. Por outro lado, o filme perde um pouco de ritmo ao tentar complicar sua trama mais do que o necessário, tentando criar dúvidas sobre as motivações e intenções dos vários personagens ao redor da protagonista e durante um bom tempo há a impressão de que a narrativa está andando em círculos.

domingo, 19 de novembro de 2017

Crítica - O Justiceiro: 1ª Temporada

Resenha O Justiceiro: 1ª Temporada


Review The Punisher Season 1
Depois de sua ótima aparição da segunda temporada de Demolidor era apenas uma questão de tempo que o Justiceiro ganhasse sua própria série e isso finalmente aconteceu nesta competente primeira temporada de O Justiceiro.

A trama começa com Frank (Jon Bernthal) eliminando os últimos alvos de sua vingança contra os responsáveis por terem matado sua família. Crendo que seu trabalho estava encerrado, o Justiceiro passa a viver sob uma identidade falsa e trabalhando em um emprego de construção. Sua paz, no entanto, dura pouco quando seu passado de soldado volta para atormentá-lo na investigação comandada pela agente Madani (Amber Rose Revah), que suspeita que a unidade de Frank estava envolvida em crimes de guerra e atividades ilegais. Frank, por sua vez, é abordado pelo misterioso Micro (Ebon Moss-Bachrach), que tem provas que o alto comando militar e da CIA estavam por trás do esquema de drogas que Frank creditava apenas ao general responsável por sua unidade e desta maneira o Justiceiro recomeça sua jornada de vingança.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Crítica - American Horror Story: Cult

Análise American Horror Story: Cult


American Horror Story: Cult Review
Fiquei bastante intrigado quando o showrunner Ryan Murphy anunciou que este American Horror Story: Cult, sétima temporada de sua série de antologia de terror, iria abordar o resultado das últimas eleições dos Estados Unidos. Por um lado essa escolha poderia render uma ótima sátira social, por outro a proximidade histórica com os eventos trazia o risco de algo raso, sem a plena compreensão do impacto desses eventos.

A temporada é bem competente ao evocar o clima de tensão social que tomou conta dos EUA durante e depois da eleição, no qual pessoas de ambos lados do espectro político passaram a usar o alinhamento político como principal e talvez única maneira de medir o caráter dos outros. Em meio disso tudo está Ally (Sarah Paulson), uma eleitora de Hillary Clinton que viu suas várias fobias saírem de controle desde a derrota nas eleições. O caminho de Ally e sua esposa Ivy (Alison Pill) se cruza com o de Kai (Evan Peters), um jovem eleitor de Donald Trump que parece ter votado no político não por crer exatamente nele, mas por desejar o clima de tensão e insegurança que se instauraria no país com sua vitória.

A primeira metade da temporada é ótima ao satirizar os dois lados, com os republicanos sendo um bando de preconceituosos violentos enquanto que os democratas são ultra sensíveis e se ofendem ou se assustam com qualquer coisa. Esse clima de tensão é evidenciado pelas aparições de palhaços sinistros e os carros que passam à noite pela vizinhança borrifando algo misterioso no quintal das casas. Será que tudo isso é real ou fruto de paranoia? Será que Kai tem algum grande plano maligno ou tudo é uma grande trollagem?

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Crítica - Arábia

Análise Crítica - Arábia


Review Arábia
Não sei exatamente explicar o motivo, mas algo em Arábia me fez lembrar de Vidas Secas, tanto o romance de Graciliano Ramos quanto a adaptação para o cinema de 1963 de Nelson Pereira dos Santos. Talvez seja nos títulos, ambos remetendo a uma aridez hostil. Talvez seja nas jornadas de ambos protagonistas, homens brutos, endurecidos por uma vida difícil, em constante trânsito em busca de trabalho. Talvez seja o senso de que esses personagens andam em círculos e nada irá melhorar para eles. De todo modo, Arábia é um retrato do cotidiano do trabalhador brasileiro tal como Vidas Secas fora, guardadas as devidas proporções, claro.

A trama começa acompanhando André (Murilo Caliari) um jovem que mora com o irmão mais novo no interior de Ouro Preto. Seus pais estão sempre viajando, mas ele é ajudado pela tia que trabalha como enfermeira em uma fábrica próxima. Um dia sua tia precisa cuidar de um operário que teve um acidente, Cristiano (Aristides de Souza), e pede a André que vá até a casa do operário para pegar algumas roupas. Lá André encontra um caderno com anotações de Cristiano no qual ele relata sua vida e o filme passa a seguir a história do operário.

Vencedores do XIII Panorama Internacional Coisa de Cinema



O XIII Panorama Internacional Coisa de Cinema terminou ontem, 15 de novembro, e após a sessão de encerramento que apresentou o longa-metragem Arábia, de Affonso Uchôa e João Dumans, foram entregues os prêmios das mostras competitivas. O filme Café com Canela foi um dos mais mencionados durante as premiações. Confiram aqui a lista completa:

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Crítica - Liga da Justiça

Análise Liga da Justiça


Review Liga da JustiçaO recente Mulher Maravilha mostrou que a Warner/DC podia aprender com os erros dos filmes anteriores. Já este Liga do Justiça, embora tenha sua parcela de problemas, continua a colocar o universo cinematográfico da DC nos eixos ao introduzir novos heróis e apostar na dinâmica entre eles.

A trama começa quando o Batman (Ben Affleck) começa a detectar aparições de criaturas alienígenas ao redor do mundo e suspeita que um ataque ao planeta está à caminho. Ao mesmo tempo a ilha das amazonas é atacada pelo Lobo das Estepes (voz de Ciaran Hinds), um guerreiro alienígena que veio à Terra para recuperar três Caixas Maternas, artefatos de grande poder escondidos em nosso planeta desde tempos imemoriais. A rainha Hipólita (Connie Nielsen) avisa Diana (Gal Gadot) da ameaça iminente e ela e Bruce tentam reunir outros seres especiais para combater a ameaça.

O começo do filme é bem acelerado e bagunçado conforme a trama tenta dar conta de introduzir ao menos três novos personagens e seus núcleos de coadjuvantes nas menos de duas horas de projeção. A narrativa corre para colocar todas as suas peças no tabuleiro, engatando uma cena cheia de diálogos explicativos depois da outra no qual muito é dito, mas pouco é sentido em relação aos dilemas de cada herói, já que é tudo muito rápido.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Crítica - Antonio Um Dois Três

Análise Antonio Um Dois Três


Review Antonio Um Dois Três
Em Antonio Um Dois Três, o jovem português Antonio (Mauro Soares) não sabe o que quer da vida. Ele pensa em voltar a morar com o pai, pensa em tentar voltar com a ex-namorada, pensa em largar a faculdade, mas não sabe o que fazer. Tudo muda quando ele conhece a brasileira Débora (Deborah Viegas) e ele tem a certeza de que quer ficar com ela. A brasileira, no entanto, tem uma viagem marcada para a Rússia e eles não podem ficar juntos. Aí é que o filme dá sua principal guinada e recomeça tudo do zero. Como o título diz, o filme se divide em três segmentos nos quais Antonio tenta ficar com Débora.

A estrutura remete bastante a Corra Lola, Corra (1998) do alemão Tom Tykwer que também "resetava" algumas vezes a linha temporal dos eventos até que a protagonista acertasse o que tinha que fazer. O longa de Tykwer também já trabalhava esses elementos de tentativa e erro, mas este Antonio Um Dois Três tenta usar isso para falar também de uma juventude à deriva, que não sabe o que fazer da vida e constantemente tenta se reinventar.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Crítica - Inhumans: Primeira Temporada

Análise  Inhumans: Primeira Temporada


Review  Inhumans: Primeira Temporada
Quando terminei de assistir esta primeira temporada de Inhumans a primeira coisa que pensei foi: "Eu deveria ter parado de assistir depois do episódio duplo de estreia". Isso porque os dois episódios que abrem a série (e foram exibidos juntos) são tão desastrosos que já ficava evidente que as coisas não melhorariam dali em diante, mas teimosamente (ou masoquisticamente) insisti em continuar.

A segunda e terceira temporadas de Agents of SHIELD já tinham sugerido a existência da família real dos Inumanos e uma cidade fora da Terra no qual a espécie viveria oculta da raça humana. Esta série aborda justamente a cidade lunar de Attilan e a família real liderada por Raio Negro (Anson Mount) e Medusa (Serinda Swan). A narrativa começa quando Maximus (Iwan Rheon, o Ramsay de Game of Thrones), irmão mais novo de Raio Negro, articula um golpe contra o trono. Raio Negro, bem como o restante da família real, acabam fugindo para a Terra. A trama tinha potencial de ser uma espécie de Game of Thrones no espaço, cheia de intriga palaciana e personagens moralmente ambíguos, mas sequer chega perto de atingir esse efeito.

Crítica - Café com Canela

Análise Café com Canela


Review Café com Canela
Há uma cena no final da animação Ratatouille (2007) em que o personagem Anton Ego experimenta uma comida feita pela dupla de protagonistas e cada mordida imediatamente o transporta a um momento passado de sua vida. A analogia com essa cena é a melhor maneira que tenho para descrever minha experiência com este Café com Canela, um filme cheio de sentimento e delicadeza sobre a vida no Recôncavo da Bahia e sobre a superação do luto.

A trama é centrada em Margarida, uma mulher que perdeu o filho anos atrás e vive em isolamento. Em paralelo há também a história de Violeta, uma jovem que vende quitutes pela cidade e cuida de sua avó adoentada. Essas duas histórias, bem como algumas de pessoas próximas a essas duas protagonistas, vão aos poucos se cruzando.

A primeira coisa que salta aos olhos é como o filme acerta no clima da vida no Recôncavo. Com tantas produções para cinema e televisão que retratam o interior da Bahia e seus personagens com um viés de mera caricatura ou exotismo, é um alívio ver uma produção que trata esses indivíduos como seres humanos, com dores, alegrias, com vidas tão banais que parece que poderíamos simplesmente encontrar com aquelas pessoas na rua ou ouvir a respeito delas de um conhecido. Essa sensação de verdade está nos personagens, na maneira como eles falam, na música que remete aos ritmos do lugar, na beleza com a qual as paisagens são filmadas, nos sons ambientes ou no senso de comunidade que se constrói entre os personagens. O filme não permite que se veja o Recôncavo, mas que se sinta como é viver ali.

sábado, 11 de novembro de 2017

Crítica - La Manuela

Análise Crítica - La Manuela


Review - La Manuela
O que exatamente leva alguém a considerar um lugar como seu lar? Como se dá a construção dessa sensação de "pertencimento"? Mais importante que isso, o que fazer quando se torna impossível retonar a esse lar? Como um exilado lida com isso? São essas perguntas que o documentário La Manuela, dirigido por Clara Linhart.

O documentário acompanha a jornada de Manuela Picq, professora e ativista franco-brasileira que é presa no Equador durante um protesto de grupos indígenas. O governo equatoriano a acusa de imigração irregular embora ela esteja no país há quase uma década trabalhando como professora. Seus familiares e amigos começam a suspeitar que o questionamento de seu status de imigração pelo governo pode ser uma manobra política, tanto pelo envolvimento de Manuela com o movimento indígena como pela sua relação amorosa com Carlos, uma das principais lideranças do movimento.

A narrativa demora um pouco a encontrar seu rumo e decidir que história quer contar a respeito do que ocorre com Manuela. De início parece querer se debruçar sobre a família dela e sua busca por informações, mas precisa repensar sua abordagem depois que Manuela é solta e retorna ao Brasil depois de perder seu visto. A partir de então tenta abordar a questão indígena do Equador, tenta trazer uma crítica à esquerda latinoamericana que teria abandonado parte de suas agendas políticas para se manter no poder. O filme passa muito rápido por questões políticas e ideológicas relativamente complicadas e com isso acaba simplificando muita coisa. A narrativa, no entanto,  se "encontra" de fato quando decide se debruçar sobre a própria Manuela e como ela se sente frente ao seu exílio e a impossibilidade de retornar a um país que transformou em lar.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Crítica - Horizon Zero Dawn: The Frozen Wilds

Análise Horizon Zero Dawn: The Frozen Wilds


Resenha Horizon Zero Dawn: The Frozen Wilds
O exclusivo para Playstation 4 Horizon Zero Dawn foi um dos melhores lançamentos de 2017 com sua narrativa envolvente, universo singular e jogabilidade desafiadora que colocava o usuário para caçar poderosos animais robóticos. Assim sendo, eu tinha altas expectativas para esta primeira expansão, Horizon Zero Dawn: The Frozen Wilds e ela não me decepcionou.

A trama da expansão se passa em paralelo à narrativa principal e leva a heroína Aloy a uma nova área chamada de "O Corte". Situada ao norte do mapa e consistindo de um ermo gelado habitado pela tribo nômade dos Banuk, com quem Aloy encontrou brevemente no jogo-base. Os Banuk estão sendo massacrados por uma entidade autodenominada Daemon que está controlando as máquinas da região e tornando-as mais poderosas e perigosas. A trama se debruça um pouco sobre o funcionamento das religiões no universo de Horizon e qual o papel e importância da crença neste universo hostil.

Crítica - Pela Janela

Análise Crítica - Pela Janela


Review Pela Janela
Os chamados road movies costumam tecer tramas sobre buscas, sobre pessoas em uma jornada para encontrarem algo sobre si mesmas ou para si mesmas. Este Pela Janela segue o molde típico deste formato narrativo, mas conquista pela sua natureza contemplativa e pela delicadeza com a qual acompanha a jornada de sua protagonista.

A trama é centrada em Rosália (Magali Biff), uma operária que é demitida da fábrica na qual trabalhava depois de mais de 30 anos no emprego. Seu irmão, José (Cacá Amaral) tenta consolá-la e resolve levar Rosália junto com ele em uma viagem de carro que precisará fazer até a Argentina.

É um filme com poucos diálogos e pouca música prezando mais pelo uso de ruídos e sons ambientes para ressaltar os silêncios dos personagens. Essa escolha reflete o momento contemplativo e de exame interno de sua protagonista, mas que diz muito através de suas imagens e da atuação de Magali Biff que evoca uma constante melancolia e estranhamento.

Crítica - Diário da Greve

Resenha Diário da Greve


Antes de mais nada preciso deixar claro que conheço o diretor Guilherme Sarmiento há algum tempo. Já participei de alguns projetos com ele e já assinamos alguns artigos juntos, então é provável que eu não esteja sendo completamente imparcial ao falar de seu longa Diário da Greve. Ainda assim, é um filme que traz provocações interessantes.

O longa começa como uma espécie de registro/manifesto sobre a longuíssima greve da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) em 2015 que se estendeu por longos quatro meses e trouxe pouquíssimos ganhos para a categoria. Munido apenas com um celular, o diretor passa a registrar seu cotidiano e também a explicar suas decisões estéticas a partir dos conceitos teóricos que explicam a noção de "cinema de garagem".

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Crítica - Guardiões da Galáxia: The Telltale Series

Análise Guardiões da Galáxia: The Telltale Series


Review Guardians of the Galaxy: The Telltale Series
A desenvolvedora Telltale já tinha se aventurado no universo dos super-heróis com Batman: The Telltale Series e agora troca a DC pela Marvel com este Guardiões da Galáxia: The Telltale Series. Esta primeira temporada traz a mesma qualidade narrativa que tornaram famosos os jogos do estúdio, ainda que a jogabilidade tenha sua parcela de problemas.

A trama envolve a busca por um artefato místico chamado Eternity Forge (ou Forja da Eternidade) que pode reviver pessoas mortas. O artefato está sendo visado por vários vilões como Thanos e a kree Hala, cabendo aos Guardiões da Galáxia recuperar o artefato antes que ele caia em mãos erradas.

Essa versão dos Guardiões não está conectada aos recentes filmes da Marvel, mas claramente foi inspirada por eles. Além do visual parecido de muitos personagens, como Rocket e Peter Quill, estão presentes também a paixão de Quill por músicas pop antigas e o senso de humor do filmes. Além do senso de humor, a narrativa está preocupada em como os Guardiões se mantêm unidos e funcionando como um grupo apesar de suas personalidades conflitantes e é hábil em fazer o jogador sentir o peso e a dificuldade que é manter esse bando de desajustados unidos. As escolhas constantemente obrigam a escolher o lado de um em detrimento do outro e saber equilibrar isso é importante para manter o espírito da equipe.

Crítica - As Boas Maneiras

Análise As Boas Maneiras


Review As Boas Maneiras
A Universal alcançou bastante sucesso com seus filmes de monstro na década de 30. Um traço em comum entre os diferentes filmes era que seus monstros não se apresentavam como meras criaturas devoradoras de gente, mas muitas vezes se construíam como figuras trágicas e incompreendidas que não tinham culpa da própria condição. Esses filmes colocavam em questão o que torna alguém maligno, se é algo inerente em sua natureza ou se o contexto de sua vida e criação. Os diretores Marco Dutra e Juliana Rojas parecem entender bem os elementos que tornam filmes de monstro interessantes neste As Boas Maneiras, dialogando constantemente com as tradições deste tipo de filme.

A trama é centrada em Clara (Isabel Zuaa), que é contratada para cuidar da grávida Ana (Marjorie Estiano). Ana mora sozinha em um enorme apartamento situado na área nobre de São Paulo, mas é bastante solitária e acaba desenvolvendo uma dependência em relação a Clara. Aos poucos a empregada começa a testemunhar ocorrências estranhas envolvendo a patroa e suspeita que haja algo muito errado envolvendo ela e sua gravidez.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Crítica - Uma Razão Para Viver

Análise Uma Razão Para Viver


Review Breathe Uma Razão Para ViverO ator Andy Serkis se tornou célebre por seu trabalho com captura de movimento, dando vida a personagens marcantes como o Gollum da trilogia O Senhor do Anéis ou o primata César da recente trilogia do Planeta dos Macacos. Com uma carreira marcada por personagens pouco convencionais, fiquei curioso para conferir como seria a estreia de Serkis na função de diretor neste Uma Razão Para Viver.

A narrativa é baseada na história real de Robin Cavendish (Andrew Garfield) um homem que ficou paralisado e dependente de um respirador artificial por conta da poliomielite na década de 50. Confinado a uma cama, todos os médicos diziam que ele tinha pouco tempo de vida e passaria o resto de seus dias confinado em uma cama de hospital, mas sua esposa Diane (Claire Foy) resolve levá-lo para casa e cuidar dele por conta próprio. Aos poucos o casal e o resto da família vão se adaptando à condição de Robin e inclusive começam a desenvolver aparatos, como cadeiras de rodas, para deixá-lo mais confortável.

A narrativa não faz muito esforço para sair do molde de outros filmes sobre conviver com uma deficiência ou doença grave como Intocáveis (2012), Como Eu Era Antes de Você (2016) ou A Culpa é das Estrelas (2014) ao mostrar como é possível aproveitar a vida e que deficiência ou doença não são necessariamente sinônimo de invalidez. Serkis consegue trazer uma leveza e calor humano à sua trama, evitando pesar a mão no sofrimento e mostrando como Robin e Diane conseguiam ser felizes apesar de tudo. A abordagem é beneficiada pela constante atitude positiva que Andrew Garfield traz ao seu personagem e por sua competente composição vocal que convence em soar como uma pessoa que não respira sozinha. Há de se destacar também o trabalho divertido do ator Tom Hollander como dois irmãos gêmeos.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Crítica - Alias Grace

Resenha Crítica - Alias Grace


Análise Crítica - Alias GraceCom o sucesso da excelente The Handmaid's Tale, que fez a limpa na entrega dos prêmios Emmy (maior premiação da televisão dos Estados Unidos), era de se imaginar que a indústria fosse correr para adaptar outras obras da escritora Margaret Atwood. Este Alias Grace, minissérie original da Netflix, adapta o romance homônimo de Atwood e é um trabalho competente de reconstrução histórica para falar do lugar da mulher na sociedade do século XIX e como muito disso ainda permanece nos tempos atuais.

A trama é levemente baseada no caso real de Grace Marks (Sarah Gadon, da minissérie 11.22.63) uma imigrante irlandesa que vivia no Canadá e trabalhava como criada. Em 1843 Grace foi presa e condenada pelo suposto assassinato de seu patrão, Thomas Kinnear (Paul Gross), e da governanta da casa, Nancy Montgomery (Anna Paquin). Dez anos depois de sua condenação algumas pessoas ainda acreditam em sua inocência e o médico Simon Jordan (Edward Holocroft) é chamado para fazer uma avaliação do estado mental de Grace, que diz não conseguir se lembrar de nada ocorrido no dia do crime.

Crítica - Borg vs McEnroe

Análise Borg vs McEnroe


Review Borg vs McEnroe
Histórias sobre rivalidades esportivas são constantemente exploradas pelo cinema e muitas delas rendem ótimos filmes como Rush: No Limite da Emoção (2013), que tratava da rivalidade dos pilotos de Formula 1 James Hunt e Niki Lauda. A narrativa dos tenistas de Borg vs McEnroe tinha potencial para ser uma trama tão boa quanto a dos dois pilotos, mas infelizmente não tem o impacto que deveria.

A trama é centrada na primeira vez que os tenistas Björn Borg (Sverrir Gudnason) e John McEnroe (Shia LaBeouf) se enfrentaram em Wimbledon. À época Borg tentava seu quinto título seguido na competição e McEnroe era um tenista em ascensão que tentava ganhar o torneio pela primeira vez. As personalidades opostas, Borg era sério e frio enquanto McEnroe era desbocado e irritadiço, bem como o fato deles ocuparem respectivamente o primeiro e segundo lugar do ranking mundial tornaram os dois rivais perante a mídia.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Lixo Extraordinário - The Room

Análise The Room


Review The Room
Faz tempo que penso em iniciar uma coluna dedicada a falar só sobre filmes lendários por sua ruindade. A escolha de qual filme teria a "honra" de estrear acabou sendo muito fácil. The Room, lançado em 2003, é considerado por muitos o Cidadão Kane dos filmes ruins. É tão ruim, mas tão ruim, no qual tudo é tal mal concebido, que se torna absolutamente hilário.

O fenômeno The Room


Se eu tivesse que explicar o quanto é ruim, provavelmente diria que parece algo feito por um alienígena que nunca esteve na Terra, nunca teve contato com seres humanos e tentou fazer um filme a partir do que ouviu outros alienígenas falarem sobre a conduta da nossa espécie. O resultado é um filme esquisitíssimo no qual ninguém parece se comportar como uma pessoa de verdade, mas um simulacro equivocado do que um humano deveria ser, algo tão sem noção que é difícil não rir. O fato de ter se tornado uma espécie de filme cult nos últimos anos provavelmente se deve a essa capacidade de gerar risos.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Crítica - Terra Selvagem

Análise Terra Selvagem


Review Terra Selvagem
Narrativas policiais comumente tratam do embate entre a razão e a violência. Westerns (ou faroestes) normalmente tratam sobre o embate entre o homem e um ambiente selvagem, brutal, seja ele fruto da ação humana ou da natureza. É possível perceber como podem existir interseções entre os dois e, na prática, e Terra Selvagem opera com essas duas coisas em mente. Funciona como um mash-up entre Millenium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres (2011) e Onde os Fracos Não Tem Vez (2007) e ainda que não chegue no altíssimo nível dos dois, consegue ser bastante competente.

A narrativa começa na reserva indígena de Wind River (que dá o título original do filme) no interior gelado do estado do Wyoming (o menos povoado dos Estados Unidos). O caçador Cory (Jeremy Renner) encontra o cadáver de uma jovem descalça na neve e como a reserva é terreno federal o FBI é chamado. A agente Jane (Elizabeth Olsen) examina o local e suspeita de assassinato. Como não conhece o território, Jane decide chamar Cory para ajudar na investigação com suas habilidades de seguir rastros.