Histórias sobre rivalidades
esportivas são constantemente exploradas pelo cinema e muitas delas rendem
ótimos filmes como Rush: No Limite da Emoção (2013), que tratava da rivalidade dos pilotos de Formula 1 James
Hunt e Niki Lauda. A narrativa dos tenistas de Borg vs McEnroe tinha potencial para ser uma trama tão boa quanto a
dos dois pilotos, mas infelizmente não tem o impacto que deveria.
A trama é centrada na primeira
vez que os tenistas Björn Borg (Sverrir Gudnason) e John McEnroe (Shia LaBeouf)
se enfrentaram em Wimbledon. À época Borg tentava seu quinto título seguido na
competição e McEnroe era um tenista em ascensão que tentava ganhar o torneio pela primeira vez. As personalidades opostas, Borg era sério e frio enquanto
McEnroe era desbocado e irritadiço, bem como o fato deles ocuparem
respectivamente o primeiro e segundo lugar do ranking mundial tornaram os dois
rivais perante a mídia.
Apesar do título conter os dois
tenistas, ele claramente está mais interessado em Borg, dando ao tenista sueco
mais tempo de tela e mais desenvolvimento como personagem. Através de flashbacks o público não só vê a
trajetória de sucesso do atleta como também vai entendendo como ele se tornou
esse sujeito metódico e taciturno, fazendo dele um personagem bastante complexo.
Já McEnroe não é tão bem desenvolvido, com algumas cenas que mostram sua
relação complicada com os pais excessivamente exigentes, mas o filme nunca
chega a compreender como ele se tornou daquela forma tal qual faz com Borg.
Ocasionalmente também recorre a alguns clichês para construir a natureza
obsessiva de McEnroe, como o velho truque de mostrar um personagem escrevendo
na parede para mostrar como ele é inteligente e focado, tal qual já foi feito
em filmes como Uma Mente Brilhante
(2001), A Rede Social (2010) ou O Contador (2016).
O recorte de tempo também parece
feito para beneficiar Borg ao mostrar somente a primeira final de Wimbledon na
qual eles se enfrentaram e a vitória foi para o tenista sueco. Tudo bem que uma
cartela de texto informa da segunda final que sagrou McEnroe campeão, mas a
escolha deixa evidente que o filme queria mais evidenciar o triunfo de Borg no
dramático primeiro embate do que efetivamente se debruçar com profundidade na
trajetória conjunta de ambos.
A própria relação de
amizade/inimizade entre os dois soa rasa pelo fato do filme apenas abordar a
primeira partida deles. Ao longo do filme os personagens não se encontram, não
conversam e assim a rivalidade parece mais uma criação da mídia do que
realmente algo construído entre os dois. Essa falta de cenas conjuntas também
prejudica o final, já que o abraço amistoso entre eles não parece algo
merecido, pois o filme nunca construiu uma tensão entre eles que precisasse ser
apaziguada.
A falta de tensão também se
verifica no modo como o filme retrata a partida fatídica entre eles. Com uma
edição picotada que nem dá tempo para vermos os lances de cada um, o embate
fica parecendo algo fragmentado e pouco coeso. Talvez por perceber a falta de
peso dramático, o filme acaba recorrendo ao expediente desgastado do "foi
tudo um sonho" no meio da partida. Uma cena mostra um deles
perdendo apenas para revelar logo que tudo tinha acontecido na mente de Borg, um
recurso que soa desonesto e manipulativo. Além disso o tie break é tão dilatado que quando a vitória finalmente chega, ela já
perdeu seu impacto.
O grande mérito do filme, no
entanto, reside em seu elenco. Sverrir Gudnason é ótimo ao trazer o semblante
taciturno de Borg, que sempre parece calmo, mas revela sutilmente seus
tormentos interiores, permitindo que enxerguemos a panela de pressão
que ele é. Shia LaBeouf, por sua vez, entrega uma das melhores performances de
sua carreira ao retratar o temperamento explosivo de McEnroe, mas dando indícios
de uma insegurança e vulnerabilidade, bem como um temor de que seu legado seja
apenas o de "cara que grita com juízes", oferecendo ao personagem uma complexidade que não é dada pelo texto. Além da dupla principal, o veterano Stellan
Skarsgard também tem um bom desempenho como o técnico linha dura de Borg.
Borg vs McEnroe vale pelo seu exame da personalidade de Borg e pelo
talento de seus protagonistas, mas falha em transmitir o impacto e a
grandiosidade da relação dos dois tenistas.
Nota: 6/10
Trailer
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