Os chamados road movies costumam tecer tramas sobre buscas, sobre pessoas em
uma jornada para encontrarem algo sobre si mesmas ou para si mesmas. Este Pela Janela segue o molde típico deste
formato narrativo, mas conquista pela sua natureza contemplativa e pela
delicadeza com a qual acompanha a jornada de sua protagonista.
A trama é centrada em Rosália
(Magali Biff), uma operária que é demitida da fábrica na qual trabalhava depois
de mais de 30 anos no emprego. Seu irmão, José (Cacá Amaral) tenta consolá-la e
resolve levar Rosália junto com ele em uma viagem de carro que precisará fazer
até a Argentina.
É um filme com poucos diálogos e
pouca música prezando mais pelo uso de ruídos e sons ambientes para ressaltar
os silêncios dos personagens. Essa escolha reflete o momento contemplativo e de
exame interno de sua protagonista, mas que diz muito através de suas imagens e
da atuação de Magali Biff que evoca uma constante melancolia e estranhamento.
É como se depois de décadas se
definindo a partir de seu trabalho (e talvez se deixando prender por ele),
Rosália não soubesse mais quem é, quais são seus interesses ou o que a faz
feliz. De maneira bem cuidadosa e cheia de delicadeza, Magali Biff mostra
através de sua linguagem corporal e tom de voz a impressão de alguém ferida e
sem rumo que aos poucos vai se dando conta que sua vida tem outras
possibilidades para além do emprego em que viveu durante tanto tempo.
Nesse sentido a ida para a
Argentina, um país que Rosália nunca esteve, serve de metáfora para sua própria
situação, já que em sua vida pessoal e em seu estado mental ela também está em
um território desconhecido, no qual nunca imaginou estar. A fala dela de que
"está tudo igual" depois de cruzarem a fronteira Brasil-Argentina é
como se a personagem se desse conta de que sua própria vida segue a mesma
apesar de achar que a demissão foi uma mudança radical.
A escolha de não legendar ou
traduzir os diálogos em espanhol das personagens argentinas ajuda a transmitir
de modo sutil a sensação de estranhamento vivenciada Rosália, alguém em um
lugar desconhecido que não entende muito bem como as coisas funcionam. A
relação entre a protagonista e o espaço e a importância disso em sua jornada de
cura e autodescoberta é abordada com delicadeza e sem didatismo, a maneira como
Rosália se comporta e interage já diz tudo que precisamos saber, algo evidente
na belíssima cena nas cataratas do Iguaçu, no qual o contato com a força e a
imensidão das águas parece lembrar a ela sua própria força e resiliência.
Mesmo sendo um road movie bem típico, Pela Janela se eleva pela sua construção
estética e pela força de sua protagonista.
Nota: 7/10
Esse texto faz parte de nossa cobertura do XIII Panorama Internacional Coisa de Cinema
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