sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Crítica - Pela Janela

Análise Crítica - Pela Janela


Review Pela Janela
Os chamados road movies costumam tecer tramas sobre buscas, sobre pessoas em uma jornada para encontrarem algo sobre si mesmas ou para si mesmas. Este Pela Janela segue o molde típico deste formato narrativo, mas conquista pela sua natureza contemplativa e pela delicadeza com a qual acompanha a jornada de sua protagonista.

A trama é centrada em Rosália (Magali Biff), uma operária que é demitida da fábrica na qual trabalhava depois de mais de 30 anos no emprego. Seu irmão, José (Cacá Amaral) tenta consolá-la e resolve levar Rosália junto com ele em uma viagem de carro que precisará fazer até a Argentina.

É um filme com poucos diálogos e pouca música prezando mais pelo uso de ruídos e sons ambientes para ressaltar os silêncios dos personagens. Essa escolha reflete o momento contemplativo e de exame interno de sua protagonista, mas que diz muito através de suas imagens e da atuação de Magali Biff que evoca uma constante melancolia e estranhamento.

É como se depois de décadas se definindo a partir de seu trabalho (e talvez se deixando prender por ele), Rosália não soubesse mais quem é, quais são seus interesses ou o que a faz feliz. De maneira bem cuidadosa e cheia de delicadeza, Magali Biff mostra através de sua linguagem corporal e tom de voz a impressão de alguém ferida e sem rumo que aos poucos vai se dando conta que sua vida tem outras possibilidades para além do emprego em que viveu durante tanto tempo.

Nesse sentido a ida para a Argentina, um país que Rosália nunca esteve, serve de metáfora para sua própria situação, já que em sua vida pessoal e em seu estado mental ela também está em um território desconhecido, no qual nunca imaginou estar. A fala dela de que "está tudo igual" depois de cruzarem a fronteira Brasil-Argentina é como se a personagem se desse conta de que sua própria vida segue a mesma apesar de achar que a demissão foi uma mudança radical.

A escolha de não legendar ou traduzir os diálogos em espanhol das personagens argentinas ajuda a transmitir de modo sutil a sensação de estranhamento vivenciada Rosália, alguém em um lugar desconhecido que não entende muito bem como as coisas funcionam. A relação entre a protagonista e o espaço e a importância disso em sua jornada de cura e autodescoberta é abordada com delicadeza e sem didatismo, a maneira como Rosália se comporta e interage já diz tudo que precisamos saber, algo evidente na belíssima cena nas cataratas do Iguaçu, no qual o contato com a força e a imensidão das águas parece lembrar a ela sua própria força e  resiliência.

Mesmo sendo um road movie bem típico, Pela Janela se eleva pela sua construção estética e pela força de sua protagonista.


Nota: 7/10  

Esse texto faz parte de nossa cobertura do XIII Panorama Internacional Coisa de Cinema

Trailer

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