Quando escrevi sobre o beta de Star Wars Battlefront 2 falei que o jogo
prometia mais conteúdo que o antecessor, mas também preocupava pelo seu
desequilibrado e mal concebido sistema de progressão. Agora, com o produto
final em mãos, é possível dizer que tanto as impressões positivas quanto
negativas se confirmaram.
A primeira coisa que chama a
atenção é a presença de um modo campanha, algo ausente do jogo anterior. A
história é centrada em Iden Versio, líder do esquadrão de elite das tropas
imperiais. A narrativa começa durante a batalha de Endor em O Retorno de Jedi (1983) e é bem
interessante poder ver esses eventos sob a perspectiva de um membro do império.
Essa escolha poderia resultar em
uma trama cheia de questões morais complexas, mas antes que a narrativa se
torne sombria demais tudo dá uma guinada para um caminho bem previsível. Ainda
assim poderia ser uma trama satisfatória se focasse na evolução e aprendizado
de Iden, mas a campanha constantemente deixa de lado sua protagonista para
colocar os jogadores da pele de personagens conhecidos da franquia, fazendo de
Iden uma coadjuvante em sua própria história. Ao menos consegue afastar a
sensação de ser um mero encadeamento de partidas multiplayer com bots ao
oferecer algo que realmente tem cara de um conteúdo pensado para ser single player.
Em termos de single player há também o modo Arcade, que coloca os jogadores para
enfrentar cenários pré determinados em diferentes níveis de dificuldades. São
batalhas curtas, que funcionam com as mesmas mecânicas do multiplayer e servem não só como uma forma do jogador se habituar
às diferentes facções heróis e habilidades como também oferece um conteúdo
razoável caso jogar o multiplayer online não seja exatamente para você. O
modo pode também ser jogado por dois jogadores cooperativamente em um multiplayer local.
Como um todo há uma grande
fidelidade visual e sonora ao universo Star Wars. Se estendendo através das
três eras da franquia, o jogo reproduz com detalhamento locações como a
floresta de Endor, o palácio de Theed em Naboo ou o bar de Maz Kanata em Takodana.
O design sonoro também reproduz com
qualidade a paisagem sonora deste universo, dos ruídos do motor das X-Wings e
Tie Fighters, aos efeitos sonoros do movimento dos AT-STs ou dos disparos das
armas, tudo é igualzinho ao que lembramos dos filmes.
Os modos do multiplayer variam entre as grandes batalhas com times de vinte
jogadores, como no modo Ataque Galáctico, combates espaciais no Ataque Com
Caças, embates mais rápidos no modo Batalha com times de dez jogadores ou
partidas centradas no cumprimento de determinados objetivos no modo Ataque. Se
você sempre discutiu com seus amigos quem ganharia em um combate entre Luke
Skywalker ou Darth Maul, o modo Heróis vs Vilões foi feito para vocês. Nele
times de quatro jogadores se enfrentam usando heróis das três diferentes eras
de Star Wars.
A jogabilidade foi melhorada e dá
para sentir como cada arma é diferente de manejar ao invés de todas parecerem a
mesma coisa como no anterior. Há mais mapas e mais heróis disponíveis do que o
primeiro jogo tinha em seu lançamento, oferecendo mais conteúdo e mais
variedade. O multiplayer traz agora um sistema de classes para os soldados e
naves que facilita para que o jogador encontre um arquétipo que se encaixo no
seu modo de jogar. As mecânicas envolvendo a ativação de veículos e heróis
foram reformuladas para melhor, agora ao invés de precisar coletar itens
espalhados pelo mapa, o jogador usa os pontos ganhos durante a partida para
trazer veículos e heróis para o meio do combate, tornando esse aspecto da
jogabilidade menos dependente da sorte de esbarrar com os itens no meio da
partida e mais dependentes de habilidade. É possível inclusive usar um herói de
qualquer era independente de qual o período no qual a partida se passa, assim é
possível "quebrar o cânone" e, por exemplo, chamar o Darth Maul para
um combate na Base Starkiller.
Diante de tantos acertos é
lamentável que o frustrante sistema de progressão seja tão prejudicial à
experiência. As Star Cards estão de volta, fornecendo habilidades e bônus de
atributos para as diferentes classes de personagem, naves e heróis, mas o
principal problema é o modo como elas são obtidas. Tudo depende das caixas de
itens nos quais as recompensas são aleatórias, assim mesmo jogando dezenas de
horas com uma determinada classe, o jogador pode não ter nenhuma Star Card para
melhorá-la porque as caixas de itens só lhe deram itens cosméticos ou melhorias
para classes que você não usa tanto. Claro, é possível "comprar” ou
melhorar individualmente as Star Cards que se deseja usando os recursos de
criação, mas como os materiais também são ganhos a partir das caixas de itens,
novamente tudo retorna a uma questão de sorte. Apenas a obtenção de novas armas
e mods para elas que está ligada
diretamente ao desempenho nas partidas.
Conforme cada classe sobe de
nível, é possível abrir mais espaços para equipar cartas. O nível de classe
também é requisito para melhorar as cartas que se tem, embora o nível geral do jogador também seja um requisito. O
problema é que o nível de cada classe não depende do quanto você usa ou dos
pontos adquiridos nas partidas multiplayer e sim da quantidade de Star Cards
que se tem para aquela classe, o que novamente reduz toda a progressão a uma
questão de sorte. Isso ainda é piorado pela decisão de travar o uso de
determinados heróis, que precisam ser comprados por um valor alto de créditos
ao invés de habilitados jogando o multiplayer ou a campanha. Assim, o jogador é
obrigado a decidir se usa seus créditos arduamente obtidos para habilitar
heróis como Luke ou Darth Vader ou para obter equipamentos para seus
personagens.
Tudo isso se torna ainda mais
revoltante pela maneira sovina com a qual o jogo distribui os créditos. Ganhar
uma partida do multiplayer rende
apenas algumas centenas de créditos e considerando que uma caixa de itens custa
4 mil e um herói custa entre 5 e 15 mil, significa uma quantidade considerável
de horas grinding para habilitar
apenas um herói ou comprar uma caixa de itens (que ainda por cima pode te dar
apenas itens cosméticos e nada para progredir seus personagens). A questão se
agrava quando vamos ao modo Arcade e percebemos que apenas as 5 primeiras
partidas rendem recompensas em créditos, sendo necessário esperar 18 horas para
voltar a receber recompensas, uma estratégia que já soa desonesta em um daqueles
games free to play para celulares, mas é inadmissível em um jogo de 200
reais.
A impressão é que os sistemas de
progressão trabalham o tempo inteiro para travar o progresso do jogador ao
invés de estimulá-lo a conseguir aquele próximo nível ou equipamento. Nada
disso, no entanto, parece um erro ou um acidente, mas uma decisão consciente
pensada para obrigar o usuário a recorrer às infames microtransações para,
finalmente, poder progredir. Inteligentemente a EA resolveu tirar as
microtransações às vésperas do lançamento do jogo, sob acusações de que seria
um sistema "pay to win"
(pague para vencer) ou que sua estrutura estava mais próxima à de jogos de
azar. Mesmo com a remoção das microtransações, eliminando essa impressão de "pay to win", o sistema de
progressão, tal como se encontra no momento, é fundamentalmente quebrado e
frustrante.
Star Wars Battlefront 2 tem conteúdo e jogabilidade dignos de um
excelente jogo, mas a diversão é estragada pelo seu horrendo sistema de
progressão que quase leva tudo para o lado sombrio da Força.
Nota: 7/10
O jogo está disponível para PS4, Xbox One e PC
O jogo está disponível para PS4, Xbox One e PC
Trailer
2 comentários:
Vou esperar reduzir o preço igual ao primeiro, que tá quase de graça... a EA tá vacilando com essas dificuldades e causando a ira dos gamers. Dizem que ela só voltou atrás por conta da pressão da Disney, que exigiu isso para evitar má publicidade com o universo Star Wars às vésperas do lançamento do oitavo episódio...
Bruno, esse é bem melhor que o primeiro, ao menos parece um jogo completo ao invés de um beta de luxo, mas sim o sistema de progressão travado incomoda bastante. Podia ser excelente, mas do jeito que está é apenas legal.
Postar um comentário