segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Crítica - Corpo e Alma

Análise Corpo e Alma


Review Corpo e Alma
Dois trabalhadores de um matadouro descobrem que estão partilhando os mesmos sonhos e tentam descobrir o que é que os aproxima. O drama húngaro Corpo e Alma começa com retraída Maria (Alexandra Bórbely), uma mulher que provavelmente se encontra no espectro do autismo, e Endre (Géza Morcsányi), o administrador do matadouro, se dando conta de que ambos tem o mesmo sonho recorrente com dois cervos em uma floresta congelada.

A narrativa demora um pouco a engrenar, já que desde o início a montagem das imagens dos cervos sendo seguidas por imagens alternadas do cotidiano dos dois personagens deixa evidente a relação que há entre os três elementos. Ainda assim, o filme se arrasta até o momento em que finalmente resolve estabelecer a conexão entre a dupla de protagonistas e os animais.

O início também fica truncado por conta dos excessos de subtramas e temas que o filme tenta retratar. Há uma quantidade considerável de imagens mostrando o cotidiano do matadouro, incluindo momentos bastante gráficos que mostram o abate dos bovinos e a retirada das suas partes. Era de se imaginar que isso fosse ter alguma repercussão no filme, que a trama fosse abordar a indústria bovina ou o tratamento aos animais, mas nada disso está presente no restante do filme e todo esse detalhamento não serve a propósito algum.


Do mesmo modo, toda a subtrama entre Endre e um funcionário que ele acha desagradável também não tem muito a acrescentar e não leva a lugar algum, já que o mistério de quem roubou a empresa não é tão envolvente ou relevante assim (é um gatilho para que os protagonistas descubram sobre os sonhos) e o sujeito some depois de resolvido o desentendimento.

O filme ganha força, porém, conforme começa a se deter na aproximação afetiva entre Maria e Endre, em especial na dificuldade de Maria em tentar compreender seus próprios sentimentos e como interagir com alguém de quem gosta. O filme é inteligente ao evitar um excesso de didatismo explicando a personalidade de Maria, permitindo que o público veja através da postura rígida e do modo impessoal de fala adotado pela atriz Alexandra Bórbely que ela tem uma dificuldade de sociabilidade. O roteiro também contribui para que a audiência perceba quem é a personagem sem precisar escancarar tudo através das situações que cria, como nas cenas em que ela "ensaia" com bonecos suas interações sociais para o dia seguinte, suas conversas com o terapeuta ou o modo como observa as pessoas na rua para poder reproduzir uma conduta "normal".

O desenvolvimento sentimental de Maria é construído de modo bastante crível e cheio de sensibilidade, acompanhado pelo trabalho da atriz que vai dando indicadores sutis do modo como ela está ficando mais familiarizada com seus próprios sentimentos, como sua expressão breve e contida de prazer ao fazer sexo pela primeira vez.

O desfecho, no entanto, é prejudicado pelo modo como o filme lida com a questão do suicídio. A cena mostra uma determinada personagem na banheira com seu rádio tocando uma música romântica sofrida, quase que tornando a tentativa de suicídio em uma espécie de ato romântico por não conseguir viver sem ser correspondida pela pessoa amada e também denota que a existência daquela pessoa é algo subalterno e dependente da presença de uma determinada pessoa em sua vida, o que é bem complicado.

Bem intencionado ao lidar com o despertar sentimental de uma mulher no espectro do autismo, Corpo e Alma derrapa em uma série de excessos narrativos que prejudicam o ritmo e algumas decisões em relação ao final da trama.


Nota: 5/10

Trailer

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