terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Crítica - A Origem do Dragão

Análise A Origem do Dragão


Review A Origem do Dragão
Em 1964 o astro das artes marciais Bruce Lee enfrentou o monge shaolin Wong Jack Man em uma luta privada testemunhada apenas por um punhado de pessoas. Os relatos sobre quem venceu o embate divergem bastante e os dois lutadores apresentavam sua própria versão dos resultados. É uma história interessante que sem dúvida poderia render um ótimo filme, mas A Origem do Dragão não é esse filme.

Se baseando na célebre luta, o filme começa com a chegada de Wong Jack Man (Yu Xia) na cidade de São Francisco. Bruce Lee (Philip Ng) recebe a notícia da chegada do monge à sua cidade como uma ameaça a tudo que construiu, crendo que os shaolin querem puni-lo por ensinar kung fu aos brancos. Um aluno de Lee, Steve McKee (Billy Magnussen) acaba se aproximando de Wong e coloca os dois mestres em um caminho de conflito.

Yu Xia e Philip Ng fazem o melhor que podem como Wong e Lee, sendo mais que eficientes nos aspectos físicos dos personagens e na linguagem corporal do modo como eles lutam, no entanto são limitados por um texto raso que faz uma representação bastante unidimensional dos dois artistas marciais. Wong é um monge humilde preocupado em preservar a essência do kung fu enquanto Lee é um sujeito preocupado com fama e sucesso. Por mais que Lee fosse de fato um sujeito superconfiante e até mesmo arrogante, o texto pesa tanto a mão nesse aspecto do personagem, deixando quase que de lado seu carisma e magnetismo pessoal, que durante boa parte do filme chega a ser difícil se importar com Lee por conta de seu egocentrismo.

O principal empecilho para que Wong e Lee sejam satisfatoriamente desenvolvidos é o excesso de tempo gasto com McKee. Se eu fosse contabilizar o tempo de tela entre os três personagens, certamente perceberia que McKee fica mais tempo em cena do que os outros dois e considerando que eles deveriam ser os protagonistas, isso é um problema sério. Eu entendo que McKee, um personagem que nunca existiu no "mundo real", foi criado como um dispositivo de roteiro para apresentar o público aos dois protagonistas do longa.

A questão é que ao invés de servir como uma janela para Wong e Lee, o filme cada vez mais aumenta a importância de McKee na trama, fazendo tudo girar ao redor dele e não dos dois lutadores. Toda a subtrama romântica envolvendo McKee é artificial e entediante, acontecendo simplesmente porque o roteiro diz que tem que acontecer e é esse arco genérico que o filme usa como catalisador da luta entre Wong e Lee. O problema nem é tanto que os percalços amorosos envolvendo McKee nunca aconteceram, mas que todo o tempo gasto com ele não serve para criar um entendimento maior sobre os outros dois personagens que deveriam ser os protagonistas.

Com tantas pessoas reais ao redor de Lee e Wong que poderiam ser usadas para ajudar o público a entender quem são essas figuras, é incompreensível que se perca tanto tempo com um personagem tão insosso quanto McKee. Linda, a esposa de Bruce por exemplo, não aparece em momento algum e mal é citada pelo ator, uma escolha esquisita considerando que Linda foi uma das poucas testemunhas da luta entre ele e Wong.

As cenas de luta são o melhor do filme e o embate entre Bruce Lee e Wong Jack Man é tenso e cheio de energia. O filme é hábil em usar planos em primeira pessoa para mostrar o olhar dos lutadores em relação ao oponente e como eles procuram brechas em suas poses de ataque e defesa. Do mesmo modo, também usa a câmera lenta para nos fazer perceber com detalhes a movimentação veloz daqueles dois personagens. Por outro lado, uma vez acabada a luta a trama não dá muito espaço para que se possa desenvolver o impacto que o encontro teve sobre os dois, resumindo tudo a alguns diálogos expositivos em que Lee fala da criação do Jeet Kune Do. Isso acontece porque o filme precisa correr para resolver o arco de McKee. Isso mais uma vez torna os dois personagens que deveriam ter o protagonismo em sujeitos cujas ações dependem e são subalternas ao que ocorre com McKee, transformando Wong e Lee em coadjuvantes da própria história.

Mesmo com algumas boas cenas de luta, A Origem do Dragão é prejudicado pelo desenvolvimento raso dos personagens e subtramas inúteis que não levam a lugar nenhum. Quem estiver buscando saber mais sobre a vida de Bruce Lee provavelmente vai aproveitar mais Dragão: A História de Bruce Lee (1993) do que este filme.


Nota: 4/10


Trailer

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