A ideia inicial deste Sem Retorno parece bem promissora. Um
rico empresário, Damian (Ben Kingsley), está com câncer terminal e com poucos
meses de vida. Ele pensa em colocar seus assuntos em ordem e se preparar para o
inevitável quando é abordado pelo cientista Albright (Matthew Goode) que lhe
propõe uma alternativa: transferir sua consciência para um novo e jovem corpo
criado em laboratório para servir a esse tipo de transferência. Aceitar isso,
no entanto, significa que ele terá que deixar seu corpo original morrer e
abandonar sua antiga vida. O empresário aceita passar pelo procedimento e
acorda em um corpo mais jovem (Ryan Reynolds), mas logo descobre seu corpo não
é exatamente o que foi prometido.
É uma premissa que poderia render ao discutir noções de imortalidade, o propósito da vida e
ética científica, mas todas essas ideias complexas são jogadas foras lá pelos
quarenta minutos de filme quando ele decide focar apenas na ação. Não seria um
problema tão grave se pelo menos fosse capaz de entregar tiroteios e
perseguições empolgantes, mas tudo é muito burocrático, faltando intensidade e
urgência.
A isso somam-se uma série de
reviravoltas previsíveis como a revelação sobre a origem do corpo de Damian, a
identidade de Albright e mesmo a decisão final do protagonista, tudo feito para
parecer surpreendente, mas qualquer um suficientemente atento pode perceber
esses reveses chegando. Além disso tem também sua parcela de furos e
incoerências, como o fato de Damian, que tinha inicialmente o sotaque britânico
de Ben Kingsley, já acordar do procedimento falando com um sotaque americano,
sendo que sotaques nada tem a ver com questões físicas.
Do mesmo modo, a maneira com a
qual Damian evita ter a mente de outra pessoa colocada em seu corpo no final do
filme é bem difícil de aceitar, principalmente se considerarmos que não há
qualquer tipo de efeito colateral. Sim, o filme estabelece antes que metal
interfere no processo, mas era de se imaginar que interferir no processo
fritaria o cérebro do sujeito, misturaria as mentes ou algo assim. O plano do
vilão também não faz lá muito sentido. Se ele sabia que tinha a possibilidade
de um paciente lembrar a vida anterior do corpo hospedeiro, porque dar a alguém
o corpo de um militar treinado que poderia lhe causar problemas? Não seria
melhor deixar esse corpo para um de seus capangas?
O diretor Tarsem Singh, famoso
pelo apuro visual de filmes como A Cela (2000)
e Dublê de Anjo (2006) sequer
consegue criar algo que seja visualmente interessante para explorar o suntuoso
estilo de vida de Damian, os espaços tecnológicos dos laboratórios de Albright
ou as alucinações do protagonista. Nas mãos de alguém como John Carpenter ou
David Cronenberg esse material poderia render algo bem interessante, mas do que
jeito que está Sem Retorno é um uma
ficção científica rasa e um filme de ação sem energia.
Nota: 4/10
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