Havia tanta expectativa ao redor
deste Star Wars: Os Últimos Jedi que
sinceramente tive medo que ele não teria como corresponder ao tanto que se
esperava dele. Ainda acho que O Império
Contra-Ataca (1980) é o melhor da franquia, mas este novo filme não chega a
fazer feio perto dos melhores exemplares da saga ou mesmo do excelente
anterior.
A trama começa mais ou menos no
mesmo ponto em que O Despertar da Força (2015)
nos deixou. Rey (Daisy Ridley) finalmente encontrou Luke Skywalker (Mark
Hammill) para iniciar seu treinamento Jedi. Enquanto isso a Resistência
liderada pela general Leia (Carrie Fisher) precisa usar os poucos recursos que
tem para fugir da fúria da Primeira Ordem, que avança cada vez mais pela
galáxia depois de eliminar os planetas sede da Nova República.
Falar mais seria dar spoilers e, acreditem, é melhor assistir
sabendo o mínimo possível, mas impressiona o quanto o filme se compromete com o
desenvolvimento dos personagens, em delinear seus conflitos, suas angústias,
suas falhas. Isso não apenas para novatos como Rey e Kylon Ren (Adam Driver) quanto
para veteranos como Luke, cuja imagem heroica que temos dele é posta em questão
em alguns momentos.
Aliás, há um tempo considerável
usado para por em questão a ideia do "mito do herói". Se por um lado
essa romantização cria expectativas irreais, afinal por trás disso há um ser
humano falho, por outro são através desses mitos que passamos adiantes ideias,
valores, reforçamos visões de mundo. Os mitos são importantes por nos
inspirarem a sermos melhores, não se pode subestimar seu valor e importância,
mas não se pode perder de vista a natureza construída deles e arriscar se
distanciar da realidade. O filme transita com competência por essas
ambiguidades e contradições e isso ajuda a dar mais complexidade às suas
situações e personagens.
Depois da tensa batalha espacial
na abertura, a trama demora um pouco à engrenar e parece que a montagem se
recusa a colocar a história para frente. No terço inicial toda vez que uma cena
parece começar a desenvolver algo, a montagem rapidamente corta para um outro
grupo de personagens e encerra a cena deles antes que ela tenha algo
significativo a acrescentar. Eventualmente isso se ajusta, mas não deixa de
lado a impressão que o começo poderia ser melhor arrumado. No início há também
alguns momentos de humor que muitas vezes soam inapropriados para os momentos
em que são inseridos tirando a força e ritmo de algumas cenas (como quando Luke
para e diz que Jakku é um fim de mundo mesmo) ao invés de acrescentar alguma
coisa a elas.
Há também a questão de que alguns
personagens simplesmente não valem o tempo investido neles, como o hacker interpretado por Benicio del
Toro. O filme gasta um bom tempo com os personagens buscando a ajuda de um hacker, se complica e se alonga
desnecessariamente até que ele é encontrado e no fim o sujeito deixa a
narrativa sem dizer muito a que veio. Por outro lado, a almirante Holdo (Laurna
Dern) parecia inicialmente ser mais uma personagem inútil, mas cresce a cada
momento da narrativa e tem uma jornada que serve para lembrar aos demais, em
especial Poe Dameron (Oscar Isaac), que heroísmo é mais do que agir com
audácia. As cenas entre Holdo e Leia, mostrando o respeito mútuo entre as duas
guerreiras experientes, estão entre as melhores do filme.
O elenco, por sinal, continua
ótimo. A saudosa Carrie Fisher domina cada momento em cena e Mark Hammill faz
um Luke bem diferente do jedi sereno que era em O Retorno de Jedi (1983), sendo agora marcado pelos traumas de
erros cometidos no passado e a sensação de culpa pela atual situação na
galáxia. Daisy Ridley faz de Rey uma pessoa à deriva em relação ao que deveria
fazer com suas habilidades, se apegando a qualquer um que possa lhe entregar
respostas, enquanto que Adam Driver traz a raiva crescente de Kylo Ren em
relação à sua dificuldade de desapegar do passado. É como um ciclo vicioso, ele
não consegue abandonar de todo quem ele era e isso o deixa cada vez mais irado
com as próprias inaptidões, fazendo-o ainda mais perigoso e imprevisível.
Se o início tem falhas, a segunda
metade, e principalmente o terço final, mais que compensam por isso e entregam
um dos melhores clímax da franquia. Há um senso de tensão constante no qual
tudo pode acontecer com qualquer um e ninguém está seguro. É raro para um
grande blockbuster desse tipo, com
continuações garantidas e tudo mais, conseguir um efeito como desses, mas esse
aqui consegue. Além disso tem algumas das melhores e mais bem filmadas cenas de
ação de toda a franquia, como o segmento na sala do trono de Snoke (Andy
Serkis) e a integralidade da batalha no planeta Crait e a beleza visual das
avermelhadas nuvens de minério do planeta.
Salvo pelo seu excelente ato
final, Star Wars: Os Últimos Jedi é
bem sucedido em aprofundar seus personagens e construir uma aventura cheia de
surpresas, tensão e emoção.
Nota: 8/10
Trailer
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