The Room, abordado anteriormente nessa coluna, era daqueles filmes
que é tão ruim que se torna divertido de ver. Meu Parceiro é um Dinossauro (Theodore Rex no título original), o filme ruim a ser explorado hoje
aqui, no entanto, pertence a uma categoria diferente: é daqueles que te faz
querer queimar o olhos com ferro quente para não ter que aturar mais um segundo
dele e desejar ser capaz de "desver" toda essa porcaria.
Os Bastidores da Produção
Em 1995, quando esse filme foi
lançado, a atriz Whoopi Goldberg estava em alta. Ela tinha vencido um Oscar por
seu papel em Ghost: Do Outro Lado da Vida
(1990) e tinha alcançado sucesso financeiro e de público com Mudança de Hábito (1992) e Mudança de Hábito 2 (1993). Diante desse
sucesso, a atriz foi procurada pela produtora New Line (que hoje pertence à
Warner) para participar deste Meu
Parceiro é um Dinossauro e Whoopi chegou a dar verbalmente sua aceitação. A
New Line tocou a produção adiante com o aceite da atriz, mas posteriormente
Whoopi mudou de ideia (imagino que tenha visto o roteiro ou o horrendo
dinossauro animatrônico).
O estúdio não ficou contente com
a atriz e ameaçou processá-la. Como já havia precedente por estúdios ganharem
processos envolvendo contratos verbais, Whoopi decidiu evitar litígio e fez o
filme. Com o filme pronto, ele seguiu um processo típico em Hollywood de passar
por exibições-teste na qual os espectadores avaliavam o filme e diziam o que
gostaram ou não. A reação foi tão negativa que a New Line decidiu não colocar o
filme nos cinemas, lançando-o diretamente em vídeo (na época VHS). O resultado
não foi muito melhor, com a fita sendo tão universalmente detestada que hoje ele está entre os 100 mais mal avaliados do IMDb e na época de seu lançamento
teve a duvidosa honraria de ser o primeiro filme lançado direto em vídeo a ser
indicado ao Framboesa de Ouro, premiação que "celebra" os piores filmes do ano.
A narrativa
Meu Parceiro é um Dinossauro se passa em um futuro alternativo no
qual seres humanos convivem com dinossauros humanoides inteligentes. A policial
durona Katie Coltrane (Whoopi Goldberg) é obrigada a trabalhar com o novato e
atrapalhado policial dinossauro Theodore "Teddy" Rex (voz de George
Newbern) para investigar o assassinato de um outro dinossauro, o primeiro caso já
registrado. A investigação os leva até o cientista Elizar Kane (Armin
Mueller-Stahl), que tem um plano vago de destruição global.
A personagem de Whoopi deveria
ser alguém experiente, engenhosa e durona, mas a atriz está tão desconfortável
em cena que sua expressão varia entre "me
tirem daqui!" e "vamos
acabar logo com isso para eu poder descontar meu cheque". Sem qualquer
personalidade, é difícil se importar com a personagem. O mesmo pode ser dito de
Teddy Rex (T. Rex, sacaram?), cujos únicos traços discerníveis são o fato dele
ser atrapalhado, se esbarrando em tudo, e sua adoração por biscoitos.
No caso de Rex há também o
problema do péssimo e inexpressivo dinossauro animatrônico, cujos movimentos
faciais são tão limitados e problemáticos que é impossível vê-lo como qualquer
coisa além de um fantoche tosco. Em momentos que ele deveria demonstrar
alegria, mais parece uma careta assustadora e em uma cena que ele deveria
intimidar alguém, seu rosto dá a entender que ele está com prisão de ventre. Em
alguns momentos o boneco parece não funcionar direito, com uma de suas
pálpebras travando em meio ao movimento de abrir ou fechar ou seus olhos se
movimentam de maneira assíncrona, dando a impressão de que a criatura está
tendo um derrame cerebral.
A construção do universo
ficcional também não faz muito sentido. É dito que o cientista Elizar Kane foi
o responsável pela criação dos dinossauros inteligentes, o que significa que
eles são uma ocorrência relativamente recente naquele mundo (no máximo algumas
décadas). Era de se imaginar que nem todos fossem aceitar que dinossauros
inteligentes se misturassem com a sociedade, tratando-os com preconceito ou
relegando-os a guetos, do mesmo modo que é fácil pensar que haveria algum tipo
de discordância com um cientista que brinca de deus criando uma nova espécie
inteligente e introduzindo-a na sociedade, mas nada disso é abordado. Vemos a
relutância de Katie em trabalhar com um dinossauro, mas em nenhum momento o
filme trabalha a existência de uma grave tensão social decorrente da
convivência entre as duas espécies ou dos experimentos de Elizar Kane.
Em todo meu tempo com o filme
me questionei a qual público ele era direcionado. Por um lado os capangas
idiotas do vilão, bem como todo o humor do filme que consiste de Teddy
esbarrando em coisas ou devorando biscoitos, parece claramente voltado para
crianças. Por outro lado a trama de investigação de assassinato, com direito a
uma tomada de um cadáver dinossauro com ferimentos no corpo, parece se levar a
sério demais para um produto infantil. Nesse sentido, acaba sendo uma produção
que acaba não tendo nada a dizer a qualquer segmento de público, já que falta
humor e ludicidade para ser atraente às crianças e falta estofo à trama e
personagens para que adultos se interessem.
A trama investigativa, por sinal,
é um tédio de se acompanhar, já que o letreiro inicial do filme explica logo de
cara quem foi o responsável e qual sua motivação para o crime. Assim, toda a
trama é um grande teste de paciência conforme o público espera quase noventa
minutos para que os personagens descubram algo que eles já sabem. Se ao menos
os protagonistas ou o universo fossem interessantes, haveria algo a apreciar,
mas não é o caso.
Em Síntese
Meu Parceiro é um Dinossauro é daqueles filmes que você se pergunta
como alguém achou que seria uma boa ideia ou acreditou tanto que ele poderia
dar certo ao ponto de praticamente obrigar sua estrela a participar. Vazio,
tosco, sem graça e entediante, não serve nem para dar risada de sua ruindade.
Trailer (sem legendas):
Trailer (sem legendas):
Um comentário:
oi
Postar um comentário