Quem é mais jovem provavelmente
não lembra da onda de medo e falta de informação que acompanhou o estouro da
epidemia de AIDS no final dos anos 80 e boa parte dos 90. Na época não se sabia
exatamente como combater a doença ou como ela se disseminava, com muitos
equivocadamente considerando que o vírus apenas afetava a população gay ou se
disseminava apenas através do sexo homossexual. Tendo ou não vivenciado esta
época, o filme francês 120 Batimentos por
Minuto funciona como um retrato contundente do período.
A trama acompanha um grupo de
ativistas LGBT que se intitulam como Act Up!, juntos eles organizam ações para
tentar conscientizar a população a respeito dos métodos de prevenção à AIDS,
incluindo o uso de camisinha, assim como organizam protestos contra órgãos do
governo que demoram a tomar medidas para combater o avanço da doença e contra as
indústrias farmacêuticas que demoram a tornar públicos seus estudos em relação
ao vírus.
O filme acerta no modo como
constrói esse clima de temor e desconhecimento no qual os personagens estão em
uma busca incessante por novas informações ou medicamentos que possam melhorar
sua condição de vida, enquanto lutam contra o descaso das autoridades e o
preconceito da população. Sob um primeiro olhar seria possível dizer que há uma
certa dose de repetição no modo como o filme constantemente coloca seu
espectador para testemunhar reuniões do grupo e ações de protesto, mas essa
repetição se faz necessária para os propósitos do filme pois permite perceber a
dificuldade daquela luta e a força de vontade que era requerida dos ativistas
para seguirem adiante mesmo sendo constantemente ignorados e muitas vezes não
obtendo resultados.
Conforme o tempo passa e a falta
de respostas persiste, começam a surgir discordâncias dentro do movimento e os
ânimos de alguns ficam exaltados conforme percebem que sua condição física está
piorando e o tempo está esgotando para eles. Apesar das discordâncias e brigas
é possível perceber que o grupo tem um grande senso de comunidade, ajudando e
apoiando uns aos outros em momentos de necessidade mesmo com as divergências
que possuem em relação a como organizar o movimento.
A trama, no entanto, não é apenas
sobre o movimento e se detém a acompanhar mais de perto os dramas pessoais de
alguns ativistas, em especial Sean (Nahuel Pérez Biscayart) que já está com AIDS
em estágio avançado. O público acompanha não apenas o enfrentamento da doença,
mas também os relacionamentos e afetos que se constroem entre ele e outros
membros do grupo. Conforme a doença de Sean progride há um senso crescente de
desamparo em virtude da falta de alternativas que ele tem e o quão claro seu
destino vai ficando. A cena que melhor exemplifica isso é quando a mãe dele lhe
informa que Sean conseguiu uma pensão por invalidez e ele imediatamente começa
a chorar. Não é um choro de alívio ou alegria, mas de dor e tristeza pela
notícia lhe fazer perceber a gravidade extrema de sua situação.
Conseguindo envolver e comover
sem soar exagerado ou manipulativo, 120
Batimentos por Minuto se mostra um importante retrato do ativismo LGBT
durante o alastramento da AIDS.
Nota: 7/10
Trailer
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