quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Crítica - 120 Batimentos por Minuto

Análise 120 Batimentos por Minuto


Review 120 Batimentos por Minuto
Quem é mais jovem provavelmente não lembra da onda de medo e falta de informação que acompanhou o estouro da epidemia de AIDS no final dos anos 80 e boa parte dos 90. Na época não se sabia exatamente como combater a doença ou como ela se disseminava, com muitos equivocadamente considerando que o vírus apenas afetava a população gay ou se disseminava apenas através do sexo homossexual. Tendo ou não vivenciado esta época, o filme francês 120 Batimentos por Minuto funciona como um retrato contundente do período.

A trama acompanha um grupo de ativistas LGBT que se intitulam como Act Up!, juntos eles organizam ações para tentar conscientizar a população a respeito dos métodos de prevenção à AIDS, incluindo o uso de camisinha, assim como organizam protestos contra órgãos do governo que demoram a tomar medidas para combater o avanço da doença e contra as indústrias farmacêuticas que demoram a tornar públicos seus estudos em relação ao vírus.

O filme acerta no modo como constrói esse clima de temor e desconhecimento no qual os personagens estão em uma busca incessante por novas informações ou medicamentos que possam melhorar sua condição de vida, enquanto lutam contra o descaso das autoridades e o preconceito da população. Sob um primeiro olhar seria possível dizer que há uma certa dose de repetição no modo como o filme constantemente coloca seu espectador para testemunhar reuniões do grupo e ações de protesto, mas essa repetição se faz necessária para os propósitos do filme pois permite perceber a dificuldade daquela luta e a força de vontade que era requerida dos ativistas para seguirem adiante mesmo sendo constantemente ignorados e muitas vezes não obtendo resultados.

Conforme o tempo passa e a falta de respostas persiste, começam a surgir discordâncias dentro do movimento e os ânimos de alguns ficam exaltados conforme percebem que sua condição física está piorando e o tempo está esgotando para eles. Apesar das discordâncias e brigas é possível perceber que o grupo tem um grande senso de comunidade, ajudando e apoiando uns aos outros em momentos de necessidade mesmo com as divergências que possuem em relação a como organizar o movimento.

A trama, no entanto, não é apenas sobre o movimento e se detém a acompanhar mais de perto os dramas pessoais de alguns ativistas, em especial Sean (Nahuel Pérez Biscayart) que já está com AIDS em estágio avançado. O público acompanha não apenas o enfrentamento da doença, mas também os relacionamentos e afetos que se constroem entre ele e outros membros do grupo. Conforme a doença de Sean progride há um senso crescente de desamparo em virtude da falta de alternativas que ele tem e o quão claro seu destino vai ficando. A cena que melhor exemplifica isso é quando a mãe dele lhe informa que Sean conseguiu uma pensão por invalidez e ele imediatamente começa a chorar. Não é um choro de alívio ou alegria, mas de dor e tristeza pela notícia lhe fazer perceber a gravidade extrema de sua situação.

Conseguindo envolver e comover sem soar exagerado ou manipulativo, 120 Batimentos por Minuto se mostra um importante retrato do ativismo LGBT durante o alastramento da AIDS.


Nota: 7/10

Trailer

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