A primeira temporada de Dirk Gently's Holistic Detective Agency
me surpreendeu com o quanto conseguia ser fiel ao espírito aloprado e nonsense dos livros homônimos de Douglas
Adams e sua habilidade de tecer uma trama investigativa no qual nada parecia se
conectar de acordo com alguma lógica causal. Essa segunda temporada (e última,
já que a série foi cancelada) tenta manter o mesmo clima de absurdo, mas não se
sai tão bem quanto a temporada de estreia.
A trama começa mais ou menos no
ponto em que a primeira temporada encerrou. Dirk (Samuel Barnett) foi capturado
pela CIA, enquanto Todd (Elijah Wood) e Farah (Jade Eshete) cruzam o país em
busca de pistas sobre o paradeiro dele. O trio inadvertidamente acaba
encontrando um novo caso para investigar quando habitantes do reino mágico de
Wendimoor chegam ao nosso mundo. Eles falam de uma profecia na qual Dirk Gently
salvará Wendimoor do poderoso e maligno Mago (John Hannah) ao encontrar o
"garoto escolhido". Assim, Dirk e os demais começam uma corrida
contra o tempo para encontrar o garoto e desvendar outras ocorrências bizarras
que encontram pelo caminho.
A primeira metade da temporada
traz o mesmo tipo de trama surtada cheia de eventos inexplicáveis e abordando
tudo com muito bom humor. De um navio que aparentemente cai do céu, a um carro
antigo preso em uma árvore e uma casa com um portal para uma dimensão paralela,
tudo segue o senso de humor absurdo da trama. A segunda metade da temporada, no
entanto, perde um pouco o ritmo ao levar os personagens para Wendimoor e tudo
se torna uma narrativa mais típica de fantasia, com profecias, escolhidos e
facções diferentes em guerra. O visual do reino mágico diverte pelos figurinos
exageradamente coloridos, paisagens que parecem saídas de um livro infantil
(como a lua) e o fato de todos portarem grandes tesouras como se fossem
espadas.
Samuel Barnett, mantém a mesma
personalidade alegre e blasé de Gently, mas ao mesmo tempo demonstra que todas
as ocorrências bizarras e matanças que ocorrem ao seu redor o afetam de alguma
maneira e pesam sobre seus ombros. A jornada dele e de Todd ao longo desta
temporada é justamente a de aceitar que eles não podem controlar tudo ao seu
redor.
O vilão Friedkin (Dustin
Milligan), responsável pela divisão da CIA que supervisiona pessoas com
habilidades esquisitas, também aprende da pior maneira que não pode controlar
pessoas como Dirk ou Bart (Fiona Dourif), falhando consistentemente em
capturá-los. Assim como na primeira temporada, Milligan diverte ao fazer de
Friedkin um completo imbecil que não tem a menor ideia do que está acontecendo
e sempre tem uma expressão beócia em sua face. Igualmente divertida é a
"bruxa" Suzie (Amanda Walsh), uma dona de casa frustrada e com
delírios de grandeza que acidentalmente encontra a varinha mágica do Mago e
entra por acidente em toda a disputa por Wendimoor.
Se alguns vilões divertem, outros
acabam sendo desperdiçados. O Mago vivido por John Hannah começa com muito
potencial ao misturar um senso crível de ameaça com o senso de humor caótico
que é típico da série, mas conforme a trama avança o personagem vai perdendo
espaço. O mesmo pode ser dito do agente especial Padre (Alan Tudyk), que diverte
com sua personalidade sádica e surtada, mas também não recebe muito o que
fazer.
Igualmente desperdiçada é a
"assassina holística" Bart, uma das personagens mais legais da
primeira temporada e que aqui passa boa parte da temporada presa em uma cela. Os
momentos em que ela está em cena são sempre divertidos graças à sua mistura de
ingenuidade e personalidade homicida, mas são tão poucos que deixam a impressão
que ela poderia ser melhor aproveitada. Ken (Mpho Koaho) também é outro cuja
jornada ao longo da temporada também deixa a sensação de que seu percurso não
foi muito bem construído. Se o fato de Ken tomar o comando das operações de
Friedkin faz sentido considerando a estupidez cavalar do agente, a
transformação dele em um fascistoide controlador que quer prender todos com
habilidades especiais parece vir do nada. Sim, ele presenciou em primeira mão o
que pessoas como Bart ou Dirk podem fazer, mas ao mesmo tempo ele sabe que
esses personagens são responsáveis por evitar grandes catástrofes, então não faz
muito sentido que Ken tente impedir Dirk de levar o "escolhido"
embora no final da temporada.
Falando em habilidades, a
narrativa cai no mesmo erro da temporada anterior de desnecessariamente tentar
explicar como Dirk está sempre no lugar certo na hora certa, constantemente
esbarrando com esses casos bizarros. O mote da série é justamente a
aleatoriedade das coisas e como nem sempre os eventos se conectam da maneira
como esperamos, então tentar dar sentido ao "poder" de Dirk, ou mesmo
conceber isso como um poder, vai de encontro à natureza do material.
Apesar de continuar divertindo
com sua trama surtada e senso de humor absurdo, essa segunda temporada de Dirk Gently's Holistic Detective Agency
acaba se mostrando relativamente inferior à primeira ao repetir alguns dos
mesmos erros e desperdiçar o potencial de alguns de seus personagens.
Considerando que é a última
temporada, é uma despedida pouco digna do quão promissor era o material. Eu
sempre imaginei que a natureza nonsense
da série dificultaria que ela se tornasse um grande sucesso, mas não imaginei
que ela seria encerrada tão prematuramente, principalmente porque havia muito
por onde crescer. Lamentavelmente essa segunda temporada acabou sendo uma
involução em relação à anterior e encerra a série sem que ela tenha conseguido
fazer jus ao seu potencial.
Nota: 6/10
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