Este O Estrangeiro vem sendo divulgado como uma espécie de retorno em
grande estilo do ator Jackie Chan a produções ocidentais. De fato é o melhor
filme de Chan em muito tempo, mas não esperem aqui uma típica comédia de ação
já que a narrativa está mais para um thriller
político entremeado com uma história de vingança bem tradicional.
A trama adapta o romance The Chinaman de Stephen Leather e é
centrada em Quan (Jackie Chan), um pacato comerciante que há décadas vive no
Reino Unido. Quando a filha de Quan é morta em um atentado terrorista, ele
começa a procurar respostas sobrem que foi o responsável pela ação. A
investigação de Quan o leva ao político Liam (Pierce Brosnan), que no passado
fez parte de grupos extremistas irlandeses. Quan se convence de que Liam é
capaz de dar a ele os nomes dos envolvidos no atentado e passa a persegui-lo,
mas o político tem segredos que deseja manter ocultos e decide deter Quan.
O filme faz bom proveito de
Jackie Chan e Pierce Brosnan ao colocá-los em personagens que se distanciam da persona típica que eles apresentam em
cena. Ao invés de viver alguém otimista e alegre como na maioria de suas
participações em filmes ocidentais, Chan faz de Quan um sujeito marcado por
traumas, quieto e implacável. É um personagem mais sombrio que os tipos cômicos
que estamos acostumados a ver de Chan, mas o ator consegue convencer da dor e
raiva de seu personagem. Já Pierce Brosnan deixa de lado seu charme de James
Bond para interpretar um político corrupto e sem escrúpulos.
Também diferente do que estamos
acostumados Chan a fazer são as cenas de ação. O ator continua a exibir seus
talentos em artes marciais, mas se antes ele lutava de maneira mais acrobática
e costumava inserir momentos cômicos em suas lutas, Quan é bem mais econômico e
brutal em seus movimentos, tentando acabar com seu oponente o mais rápido
possível. As lutas não chegam a ser tão brutais ou memoráveis quanto em filmes recentes como John Wick: Um Novo Dia Para Matar (2017) ou Atômica (2017), mas ainda assim são competentes o bastante para envolverem. Muitas cenas de ação também são eficientes em criar tensão ao colocar
Quan para se esgueirar furtivamente pela fazenda de Liam, derrubando seus
capangas aos poucos e deixando-os com medo.
Se os personagens e a ação
funcionam satisfatoriamente, o mesmo não pode ser dito do desenvolvimento da
trama. A história de vingança não faz muito esforço para ir além dos clichês
desse tipo de narrativa e a tentativa de criar um suspense político esbarra em
alguns problemas. O primeiro é que a ameaça de um grupo separatista irlandês
soa deslocada e anacrônica nos dias de hoje considerando que boa parte desses
grupos já se dissolveu ou abandonou a luta armada há pelo menos uma década.
Isso fazia sentido no livro, lançado em 1992 quando o IRA e outros grupos
extremistas estavam em plena atividade, mas situar o filme nos dias atuais e
ainda manter a mesma ameaça do livro soa como uma trabalho preguiçoso de
adaptação. Ou o filme mantinha a trama nos anos 90 ou mudava a ameaça a algo
mais coerente com o atual clima político como a saída da Inglaterra da União
Europeia, a ascensão de grupos ultraconservadores contrários à presença de
imigrantes ou o movimento separatista catalão na Espanha.
O segundo problema deriva
justamente do filme apresentar um conflito que está deslocado do contexto
histórico ao qual pertence. O começo da trama demora a engrenar conforme o
filme precisa constantemente parar para explicar toda a história e contexto
envolvendo os movimentos extremistas irlandeses. Além do excesso de diálogos
expositivos, o narrativa por vezes se complica mais do que o necessário na
tentativa de criar reviravoltas, traições e mudanças de lealdade nos bastidores
políticos nos quais Liam transita.
O Estrangeiro vale principalmente por tirar Jackie Chan de sua zona
de conforto e pelas boas cenas de ação, mas é prejudicado por problemas de
adaptação do material original e um ritmo truncado.
Nota: 6/10
Trailer:
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