segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Crítica - Todo Dinheiro do Mundo

Análise Todo Dinheiro do Mundo


Review Todo Dinheiro do MundoFalar da imoralidade dos muitos ricos é algo presente na ficção há muito tempo, mesmo antes da existência do cinema outras formas de arte já se debruçavam sobre o caráter daqueles que enchem os bolsos no sistema capitalista. O exemplo mais célebre talvez seja o romance Um Conto de Natal de Charles Dickens no qual Ebenezer Scrooge era confrontando com a desumanidade de sua conduta. Ao se basear da história real do sequestro de Paul Getty (Charlie Plummer) nos anos 70, Todo Dinheiro do Mundo tenta ser mais uma história a criticar a postura dos muito ricos. Paul era neto de J.P Getty (Christopher Plummer), bilionário e magnata do petróleo considerado o homem mais rico do mundo na época,.

Como neto de alguém tão rico, Paul era um alvo fácil para sequestradores. O que os criminosos não sabiam é que a mãe dele, Gail (Michelle Williams), tinha se divorciado do marido sem receber um centavo da fortuna Getty, abrindo mão de qualquer pagamento desde que ficasse com a guarda dos filhos. Sem condições para arcar com o pedido milionário de resgate, Gail não ter outra opção senão pedir ajuda ao ex-sogro, mas não será fácil convencê-lo.

O filme foi marcado por controvérsia antes mesmo de ser lançado graças às acusações de assédio e abuso de menores feitas contra Kevin Spacey que originalmente tinha interpretado Getty. Mesmo com o filme completamente pronto e faltando menos de um mês para estrear, o diretor Ridley Scott optou por remover Spacey do filme e o substitui por Christopher Plummer.

A mudança acabou sendo para melhor. A maquiagem usada para envelhecer Kevin Spacey era esquisita e pouco convincente, com a mudança o personagem ganhou um intérprete mais apropriado fisicamente. Para além da questão física, Plummer acerta no quanto o velho Getty consegue ser sovina, materialista, mesquinho e desprezível sem jamais descambar para uma caricatura. Plummer nos deixa perceber que, do jeito dele, Getty realmente tem algum afeto pelo neto, mas abrir mão de dinheiro é tão contra sua natureza como esperar que um cachorro fale mandarim. Plummer também confere um ar trágico ao personagem conforme ele admite (e a narrativa permite que o público perceba) como muitas pessoas só se aproximam dele por se interessarem em seu dinheiro, o que lhe torna paranoico e desconfiado (mas não menos desprezível).

A atuação de Plummer é auxiliada pelo modo como Ridley Scott filma Getty ao longo da narrativa. O personagem é constantemente enquadrado sozinho em amplos e pouco iluminados salões, constantemente lendo os dados sobre o preço do petróleo. É quase como se ele fosse um refém de sua riqueza e ambição sem limites, retirando pouco proveito de toda a opulência ao seu redor. Quando está em cena com outro personagem a câmera costuma filmá-lo em perspectiva fazendo a distância entre Getty e seus interlocutores parecer maior do que realmente é e ressaltando o isolamento do personagem mesmo diante de outras pessoas.

Se o filme fosse todo centrado no velho Getty poderia ser um interessantíssimo estudo de personagem, mas não é e toda vez que Christopher Plummer não está em cena o filme perde força. Getty é uma pequena parte do filme e o grosso é passado com Gail e Chace (Mark Wahlberg), um funcionário de Getty especialista em negociações, enquanto eles tentam resolver o sequestro, além de mostrar o que acontece com Paul no cativeiro.

A jornada para libertar Paul é pincelada por discussões que explicitam a natureza predatória do capitalismo, que transforma tudo, até a vida e dignidade humana, em commodities a serem comprados e vendidos. É uma temática válida de se abordar, mas ao longo das quase duas horas e quinze de duração a impressão é que o filme caminha em círculos no desenvolvimento de seus argumentos, avançando pouco e recorrendo a muitos diálogos expositivos que abordam tudo com pouca sutileza.

O arco de Paul dentro do cativeiro é o elemento menos interessante do filme, recorrendo a todos os lugares comuns deste tipo de história, como os desentendimentos entre os sequestradores, as tentativas de Paul em escapar, a previsível amizade entre Paul e seus captores e outras coisas que já cansamos de ver em filmes de sequestro. Além disso o filme alonga demais a libertação de Paul e acaba criando um clímax que soa exagerado e que não consegue entregar a tensão que promete, sendo facilmente resolvido.

Todo Dinheiro do Mundo vale pela atuação de Christopher Plummer, mas sua discussão do capitalismo através da trama de sequestro fica aquém do que poderia ser.


Nota: 6/10

Trailer


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