O roteirista Aaron Sorkin
construiu uma reputação para si com seus textos que privilegiam os diálogos rápidos
e constroem intensos embates verbais entre seus personagens tal como em A Rede Social (2010) e Steve Jobs (2015). Seu estilo de escrita
é tão singular que muitas vezes se impõem sobre o estilo dos cineastas que
dirigem os filmes feitos a partir dos seus roteiros (como o caso de Steve Jobs), então quando ele anunciou
que faria sua estreia como diretor neste A
Grande Jogada, havia grande expectativa para conferir o que alguém com uma
visão tão particular seria capaz de fazer no comando de uma produção.
A trama é baseada na história
real de Molly Bloom (Jessica Chastain), uma ex-esquiadora e estudante de
direito que passa a trabalhar organizando partidas de pôquer para celebridades
e empresários ricos. Com o tempo, Molly acaba se envolvendo com drogas e chama
a atenção de membros da máfia, complicando as coisas para o seu trabalho.
A narrativa alterna
constantemente entre o passado e o presente, com a narração rápida de Molly
unindo os dois tempos. A velocidade das falas e das mudanças de temporalidade
poderiam se tornar algo confuso, mas Sorkin conduz tudo com bastante fluidez,
conseguindo tornar compreensível o rápido processo mental de Molly, bem como os
termos e situações específicas do pôquer competitivo de modo natural e sem soar
forçadamente expositivo.
O filme, no entanto, pertence a
Jessica Chastain e como ela faz de Molly alguém que não aceita a derrota, se
recusa a ser subjugada por homens, possui um raciocínio afiado e tem um senso
de honra bastante particular. De certa maneira não é muito diferente da lobista
durona que ela viveu em Armas na Mesa (2017),
mas Molly é menos fria e tem uma certa compaixão por seus jogadores, apesar de
obviamente estar explorando seus vícios.
Além de Chastain, o ator Michael
Cera se destaca ao interpretar um personagem que vai na contramão da sua típica
persona em cena. Ele vive um
implacável jogador de pôquer que não só aprecia a adrenalina do jogo, como
também sente prazer em destruir e humilhar seus oponentes da maneira mais cruel
possível. O contraste entre a aparência frágil de Cera e sua convincente
conduta implacável contribuem para criar um antagonista memorável.
O filme no entanto, perde força
quando se afasta do ágil e tenso submundo do pôquer, no qual fortunas podem
mudar de mãos a qualquer momento e ficar devendo às pessoas erradas pode custar
ainda mais caro, para se deter no processo criminal contra Molly. A partir daí
tudo se torna um drama de tribunal relativamente padrão e sem a mesma tensão ou
urgência das cenas do pôquer.
Molly tem uma boa cena com seu
rígido pai (Kevin Costner), que a ajuda a perceber as razões de sua conduta,
mas no geral o segmento dela lidando com o julgamento não tem a mesma
sagacidade ou inspiração do restante do filme. A epifania da protagonista sobre
o vazio de sua vida parece vir de modo gratuito, sem uma motivação construída
para tal. Com uma protagonista (e sua jornada) tão singular, é decepcionante
que o filme resolva encerrar sua história com uma mensagem clichê sobre superar
as dificuldades que parece saída de um comercial de empresa de seguros.
Apesar de nem sempre conseguir
manter seu ritmo tenso e ágil, A Grande
Jogada é uma competente estreia de Aaron Sorkin como diretor, beneficiada
tanto pelo seu texto afiado quanto pela performance magnética de Jessica
Chastain.
Nota: 7/10
Trailer
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