terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Crítica - Lady Bird: É Hora de Voar



Alguns filmes conquistam a gente pela complexidade da sua trama, outros pela sua estética bem e tem aqueles que nos conquistam pela maneira como conseguem nos fazer criar um vínculo emocional com a trama. Esse é justamente de Lady Bird: É Hora de Voar, um filme sobre adolescência e amadurecimento que trata dos mesmos temas que boa parte dos filmes de juventude abordam, mas faz isso de uma maneira tão sincera e encantadora que é difícil não se deixar levar por ele.

A trama se passa em 2002 e é levemente baseada na vida da diretora e roteirista Greta Gerwig. Acompanhamos Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) uma garota de dezessete anos com vocação para as artes que está cansada de sua vida banal na cidade de Sacramento, capital do estado da Califórnia.

Saoirse Ronan acerta no equilíbrio entre o senso de humor inquieto e a petulância imatura da garota. Seu trabalho deixa evidente que por mais que seus protestos irônicos tenham sua medida de razão, ela também se mostra alheia às dificuldades reais da vida de sua família, muitas vezes agindo com aquele tipo de egoísmo que é bastante comum em adolescentes.

Ela claramente tem afeto pela mãe, Marion (Laurie Metcalf), e pela melhor amiga, Julie (Benie Feldsman), mas muitas vezes as trata mal por estar tentando ser descolada, popular ou conquistar a atenção do garoto de quem gosta. A adolescente constantemente se vê em conflito entre seu sentimento e seu ego, muitas vezes tomando decisões erradas. Tudo isso vindo de seus anseios em lidar com seu sentimento de deslocamento e inferioridade, já que ela constantemente vê seus colegas como mais ricos, mais felizes, mais espertos ou mais descolados que ela e Ronan é precisa em captar essa efervescência de sentimentos.

Se no papel tudo isso parece similar a outros filmes sobre adolescentes (e é, até certo ponto), a execução consegue instilar um senso de humor bem peculiar a tudo aquilo, quase como se estivéssemos vendo alguém rememorar sua adolescência e rindo da própria imaturidade (e provavelmente é isso que Greta Gerwig está fazendo). O filme reconhece a graça da excentricidade de seus personagens e como suas indecisões por vezes a levam a errar feio ou acertar, ainda que por uma escolha impulsiva ao invés de consciente. Por mais que Gerwig queira extrair comédia dessas situações, ela também exibe um genuíno afeto por suas personagens e pela cidade em que vivem, retratando a cidade de Sacramento com uma certa medida de melancolia.

Mesmo que com menos tempo de tela que a protagonista, o filme não deixa de desenvolver os personagens ao redor de Lady Bird e se esforça para dar a eles a mesma complexidade de sua protagonista. Laurie Metcalf evoca com habilidade a dualidade no comportamento de Marion, pois por mais que ame a filha e queira que ela seja o melhor de si mesma, o modo como trata a garota inevitavelmente a magoa. Essa ambiguidade é melhor vista perto do final do filme, quando a Lady Bird é aceita em uma faculdade em Nova York. Marion sabe que irá sentir falta da filha, mas luta para não deixar seus sentimentos transparecer por ainda estar brava com ela. Quando vemos a personagem finalmente externar o que sente, é difícil não se emocionar junto. O pai da protagonista, por sua vez, é um sujeito que se anula e sacrifica pelo bem de sua família, mas mesmo ficando feliz com o sucesso dos filhos e amando eles, isso o coloca em um estado de depressão.

São personagens que dão gosto de acompanhar, que nos fazem rir e chorar, que nos trazem alegria e desgosto. Como a própria vida Lady Bird: É Hora de Voar é uma coleção agridoce de momentos aparentemente banais, mas que se revelam cheios de significado e essenciais para nosso desenvolvimento.

Nota: 8/10

Trailer

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