Os vinte primeiros minutos deste Motorrad me deixaram bastante empolgado
pelo que poderia vir a seguir. Com pouquíssimos diálogos, o filme construía uma
atmosfera intrigante e desoladora conforme o protagonista Hugo (Guilherme
Prates) viaja com sua moto por paisagens desoladas e estradas vazias. Parece um
cenário apocalíptico e até então a trama não faz questão de explicar nada,
usando essa incerteza e desconhecimento como fonte de tensão. Imaginei que o
restante do filme seguiria esse tom, de um terror mais atmosférico e voltado
para o medo do que não sabemos, algo similar ao recente Ao Cair da Noite (2017). O que acontece à partir de então, no
entanto, cai em uma lamentável coleção de clichês do terror.
Hugo deseja fazer parte do clube
de motocross do irmão, Ricardo (Emílio Dantas), e parte com ele e um grupo de
amigos para uma cachoeira remota. No caminho, eles encontram um estranho muro
de pedra e decidem derrubá-lo para continuar a viagem. Ao chegarem na
cachoeira, os protagonistas são confrontados por um misterioso grupo de
motoqueiros vestidos de preto que começam a matar os amigos de Hugo e Ricardo um a um.
Assim, o que começava como algo
atmosférico, entra completamente no domínio do terror slasher tal como os filmes das franquias Sexta-Feira 13, Pânico ou
Halloween no qual um grupo de jovens
é caçado por um assassino silencioso (ou grupo de assassinos). Por sinal, a
premissa do filme, um grupo de jovens caçado por um bando de maníacos em uma
paisagem inóspita, é incrivelmente similar ao de Quadrilha de Sádicos (1976) e seu remake Viagem Maldita (2007). Isso por si só não seria um problema
se o filme trabalhasse com algo tipo de subversão a esse formato que já se
tornou extremamente familiar, mas não é o caso. O que acontece aqui é
basicamente uma reprodução de lugares-comuns desse tipo de história, com
direito a múltiplas tomadas nas quais os assassinos silenciosamente observam
suas vítimas correrem em pânico ou a imagem da mocinha gritando de medo
conforme o assassino destrói uma frágil porta de madeira com a faca.
Os personagens são aquela coleção
de tipos unidimensionais que já estamos cansados de ver nesse tipo de filme,
como o covarde, o desonesto, o casal que fica se agarrando o tempo todo, o
mocinho ingênuo. Qualquer um que tenha o mínimo de familiaridade com esses
filmes sabe de cara quem vai morrer, já que os assassinos seguem a típica moral
do gênero de que a morte é uma espécie de punição pelas "falhas de
caráter" dos personagens.
Nesse sentido, acaba nem
importando que o filme nem explique direito quem são esses motoqueiros (há
apenas uma leve sugestão), porque eles não estão ali para serem personagens
plenamente realizados, eles são monstros, forças da natureza que existem para
punir aqueles jovens por suas transgressões. Considerando que o próprio cinema
hollywoodiano já brincou com o quão datadas são essas convenções em filmes como
a franquia Pânico ou O Segredo da Cabana (2012), soa
incomodamente datado que um longa feito hoje simplesmente reproduza tão
acriticamente essas estruturas manjadas.
Ocasionalmente a narrativa tenta
sugerir elementos de sobrenatural, como a marca na mão de Hugo, o momento em
que ele observa um poço ou as falhas nos celulares dos personagens, mas tudo
isso é abordado de forma muito vaga e pontual ao longo da trama para servir com
eficiência como fonte de tensão. Há também a questão de certa repetição de
elementos, como a moto não querer ligar, até que ela liga no último minuto.
Feito uma vez, o recurso funciona como fonte de tensão, mas quando o filme
começa a fazer isso repetidas vezes ao longo de seus 90 minutos, o dispositivo
começa a ficar cansativo. Principalmente quando os personagens conseguem ligar
até mesmo uma moto que acabara de ser retirada do fundo de um lago.
Não ajuda que boa parte das
perseguições e cenas de ação sejam filmadas em closes extremos e usem uma
montagem cheia de cortes rápidos. A escolha provavelmente visava dar dinamismo
a esses momentos, mas com a câmera tão próxima e a montagem tão incessante, é
difícil diferenciar os personagens entre si ou mesmo ter alguma clareza do
posicionamento espacial deles. Em uma tomada vemos os protagonistas distantes
de seus perseguidores, mas basta um corte rápido para que um segundo depois os
motoqueiros de preto já estejam ao lado deles, fazendo toda a ação parecer mais
fragmentada do que deveria.
A despeito do início promissor e
do modo como Motorrad constrói seu
universo hostil e desolado, sua excessiva e acrítica aderência aos clichês do
gênero faz tudo parecer datado.
Nota: 4/10
Trailer
Eu gostaria de sabe oque acontece com a Paula e o Hugo no final do filme
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