Pequena Grande Vida parece ter muito a dizer sobre os problemas de
nossa sociedade e do mundo, mas conforme o diretor Alexander Payne aumenta os
problemas de seu diminuto protagonista, o longa-metragem paradoxalmente parece ter
cada vez menos a dizer. No universo do filme existe uma tecnologia de
encolhimento e muitas pessoas se submetem ao processo porque isso reduz o
impacto do consumo humano no meio ambiente e também porque faz seu dinheiro
"valer mais", afinal uma pessoa de dez centímetros come menos, gasta
menos energia e produz menos lixo.
O protagonista, Paul Safranek
(Matt Damon), é uma dessas pessoas que quer se encolher para poder viver uma
vida de luxo sem se preocupar com trabalhar. O problema é que sua esposa desiste
do procedimento no último momento e pede o divórcio, deixando Paul sem nada.
Agora ele precisa trabalhar em um péssimo emprego de telemarketing em sua comunidade diminuta para poder se sustentar,
basicamente retornando ao mesmo estilo de vida que queria fugir.
De início o filme parece querer
fazer uma crítica com um senso de humor bem seco sobre como o "sonho
americano" não é a meritocracia de trabalhar e construir algo para si, mas
o de ficar rico sem fazer esforço e viver como um milionário que não precisa
trabalhar. A situação inicial de Paul já estabelece um claro conflito de que
não importa seu tamanho a natureza humana continua a mesma e os mesmos
problemas sempre aparecerão. Podia render uma jornada interessante para Paul
conforme ele se desse conta de que a estrutura socioeconômica existe para
mantê-lo exatamente aonde está e não para permitir sua ascensão. A questão é
que o diretor Alexander Payne parece não saber que filme quer fazer com sua
premissa e constantemente dá guinadas súbitas na narrativa que constantemente a
reconfiguram sem, no entanto, parecer que ele está construindo um discurso
consistente.
Não me levem a mal, eu adoro
quando um filme subverte minhas expectativas e me coloca em caminhos que eu
nunca esperei trilhar, mas essas novas direções precisam dar ao espectador a
sensação de que ele está chegando a algum lugar, caso contrário tudo soa como
uma imensa perda de tempo e é isso que acontece aqui. Se no início o filme
confronta Paul com sua mediocridade, a segunda parte irá transformar a situação
dos encolhidos em uma metáfora para os imigrantes e como desigualdades sociais
sempre existirão. Quando chegamos no terceiro ato o filme já abandonou tudo
isso em prol de uma trama sobre o iminente fim do mundo e problemas com o meio
ambiente.
A trama apocalíptica não só é
exagerada e força uma urgência que até então o filme não tinha construído, como
também depõe contra o argumento que o próprio filme tenta levantar. É
perfeitamente possível e justificável que o espectador perceba os
ambientalistas que se trancam em um bunker como alarmistas lunáticos e
exagerados visto que o fim do mundo sequer era tão iminente como eles
afirmavam. Além disso, todo esse terceiro ato não diz nada que o início do
filme, e sua fala sobre a necessidade de diminuirmos nosso consumo, já não tivessem
dito.
Considerando que logo depois
disso a trama retorna para o ponto onde estava, com Paul e Ngoc Lan (Hong Chau)
ajudando as pessoas marginalizadas de sua comunidade, a sensação é que toda
essa viagem à Noruega foi um desvio desnecessário. O despertar de Paul para seu
afeto em relação a Lan e a necessidade de se preocupar com os outros podia ser
obtido de outro modo, sem esse arco narrativo, o que deixaria o filme mais
conciso e enxuto.
Não ajuda o fato de Paul ser um
personagem tão apático. Sempre guiado pelos outros, Paul é movido pela trama ao
invés de ser um agente dela, sendo praticamente um espectador de sua própria
história. Eu entendo que a ideia do filme era justamente retratar sua saída da
passividade, mas ainda assim é preciso dar ao seu espectador algo com o que se
importar em seu protagonista e Paul é vazio demais para despertar qualquer
interesse. Christoph Waltz repete o mesmo tipo de sujeito excêntrico que, a
essa altura, ele poderia interpretar até dormindo e tem pouco a acrescentar. O
único destaque fica por conta da atriz tailandesa Hong Chau como Lan, sendo ela
a responsável pelos momentos mais divertidos e emocionantes do filme, mas ela
sozinha não consegue carregar a narrativa.
Deste modo, Pequena Grande Vida sofre com a falta de foco de sua narrativa e
pelo modo raso e pretensioso conforme aborda seus temas. A sensação é que
quanto mais a narrativa cresce, mais sua força se apequena.
Nota: 4/10
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