segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Crítica - Pequena Grande Vida


Análise Pequena Grande Vida


Review Pequena Grande Vida
Pequena Grande Vida parece ter muito a dizer sobre os problemas de nossa sociedade e do mundo, mas conforme o diretor Alexander Payne aumenta os problemas de seu diminuto protagonista, o longa-metragem paradoxalmente parece ter cada vez menos a dizer. No universo do filme existe uma tecnologia de encolhimento e muitas pessoas se submetem ao processo porque isso reduz o impacto do consumo humano no meio ambiente e também porque faz seu dinheiro "valer mais", afinal uma pessoa de dez centímetros come menos, gasta menos energia e produz menos lixo.

O protagonista, Paul Safranek (Matt Damon), é uma dessas pessoas que quer se encolher para poder viver uma vida de luxo sem se preocupar com trabalhar. O problema é que sua esposa desiste do procedimento no último momento e pede o divórcio, deixando Paul sem nada. Agora ele precisa trabalhar em um péssimo emprego de telemarketing em sua comunidade diminuta para poder se sustentar, basicamente retornando ao mesmo estilo de vida que queria fugir.

De início o filme parece querer fazer uma crítica com um senso de humor bem seco sobre como o "sonho americano" não é a meritocracia de trabalhar e construir algo para si, mas o de ficar rico sem fazer esforço e viver como um milionário que não precisa trabalhar. A situação inicial de Paul já estabelece um claro conflito de que não importa seu tamanho a natureza humana continua a mesma e os mesmos problemas sempre aparecerão. Podia render uma jornada interessante para Paul conforme ele se desse conta de que a estrutura socioeconômica existe para mantê-lo exatamente aonde está e não para permitir sua ascensão. A questão é que o diretor Alexander Payne parece não saber que filme quer fazer com sua premissa e constantemente dá guinadas súbitas na narrativa que constantemente a reconfiguram sem, no entanto, parecer que ele está construindo um discurso consistente.

Não me levem a mal, eu adoro quando um filme subverte minhas expectativas e me coloca em caminhos que eu nunca esperei trilhar, mas essas novas direções precisam dar ao espectador a sensação de que ele está chegando a algum lugar, caso contrário tudo soa como uma imensa perda de tempo e é isso que acontece aqui. Se no início o filme confronta Paul com sua mediocridade, a segunda parte irá transformar a situação dos encolhidos em uma metáfora para os imigrantes e como desigualdades sociais sempre existirão. Quando chegamos no terceiro ato o filme já abandonou tudo isso em prol de uma trama sobre o iminente fim do mundo e problemas com o meio ambiente.

A trama apocalíptica não só é exagerada e força uma urgência que até então o filme não tinha construído, como também depõe contra o argumento que o próprio filme tenta levantar. É perfeitamente possível e justificável que o espectador perceba os ambientalistas que se trancam em um bunker como alarmistas lunáticos e exagerados visto que o fim do mundo sequer era tão iminente como eles afirmavam. Além disso, todo esse terceiro ato não diz nada que o início do filme, e sua fala sobre a necessidade de diminuirmos nosso consumo, já não tivessem dito.

Considerando que logo depois disso a trama retorna para o ponto onde estava, com Paul e Ngoc Lan (Hong Chau) ajudando as pessoas marginalizadas de sua comunidade, a sensação é que toda essa viagem à Noruega foi um desvio desnecessário. O despertar de Paul para seu afeto em relação a Lan e a necessidade de se preocupar com os outros podia ser obtido de outro modo, sem esse arco narrativo, o que deixaria o filme mais conciso e enxuto.

Não ajuda o fato de Paul ser um personagem tão apático. Sempre guiado pelos outros, Paul é movido pela trama ao invés de ser um agente dela, sendo praticamente um espectador de sua própria história. Eu entendo que a ideia do filme era justamente retratar sua saída da passividade, mas ainda assim é preciso dar ao seu espectador algo com o que se importar em seu protagonista e Paul é vazio demais para despertar qualquer interesse. Christoph Waltz repete o mesmo tipo de sujeito excêntrico que, a essa altura, ele poderia interpretar até dormindo e tem pouco a acrescentar. O único destaque fica por conta da atriz tailandesa Hong Chau como Lan, sendo ela a responsável pelos momentos mais divertidos e emocionantes do filme, mas ela sozinha não consegue carregar a narrativa.

Deste modo, Pequena Grande Vida sofre com a falta de foco de sua narrativa e pelo modo raso e pretensioso conforme aborda seus temas. A sensação é que quanto mais a narrativa cresce, mais sua força se apequena.

Nota: 4/10


Trailer

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