quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Crítica - The Square: A Arte da Discórdia

Análise The Square: A Arte da Discórdia


Review The Square: A Arte da Discórdia
Em Força Maior (2014) o diretor sueco Ruben Östlund abordava com bom humor e tom satírico o quanto é frágil o contrato social de cooperação e civilidade ao abordar uma crise familiar iniciada durante uma avalanche de neve. Neste The Square: A Arte da Discórdia o cineasta visa abordar os mesmos temas, mas ampliando o escopo do núcleo familiar para toda a sociedade, mostrando as pequenas hipocrisias do cotidiano e criando uma bola de neve no qual esses momentos aparentemente inofensivos de egoísmo e falta de empatia vão erodindo o tecido social.

A trama é centrada em Christian (Claes Bang), o diretor de um museu que está prestes a inaugurar uma nova exposição que aborda o tema da tolerância e empatia. Um dia, no caminho para o trabalho, ele é assaltado, tendo o celular e a carteira levados. Ele consegue encontrar a localização do seu telefone usando o GPS do aparelho, rastreando-o até o um grande prédio. Sem saber quem no prédio está com o celular, ele decide escrever uma carta para o ladrão e coloca cópias na caixa de correio de cada apartamento. Logicamente esse pequeno ato de revanchismo vai causar uma série de problemas ao personagem.

O filme tem ideias interessantes, criticando não só esses pequenos atos diários de incivilidade, mas também uma certa elite artística que adora pensar em si mesma como engajada, responsável por uma arte transformadora, mas que efetivamente não transforma coisa alguma. Isso fica evidenciado nas muitas tomadas de mendigos nas ruas contrapostas por imagens do museu de Christian ou entrevistas dos artistas. Esse jogo de montagem cria uma clara oposição entre o discurso desses artistas e a realidade social ao redor deles. A ideia de que o ser humano facilmente abandona seu verniz de civilidade é abordada principalmente na cena da performance do "homem símio" que serve como uma síntese para as principais ideias do filme sobre sociedade e os limites da arte.

A despeito de bons momentos pontuais, o filme enfraquece diante da decisão do diretor em agregar cada vez mais elementos e variáveis sociais no seu panorama crítico de incivilidades ao ponto em que tudo fica cansativo e repetitivo. Mesmo quando o filme já passou da metade de sua duração a trama continua a acrescentar novas provocações ao invés de desenvolver as que já estavam estabelecidas. Desta maneira o discurso do filme parece constantemente andar em círculos, apontando para uma determinada situação, mas sem desenvolver qualquer insight interessante sobre ela.

Muitas cenas soam como esquetes soltos, se conectando ao restante do filme apenas em um nível temático, mas sem qualquer relação com a trama de Christian. Isso seria menos problemático se esses momentos criassem provocações que acrescentassem alguma nova ideia sobre as questões que o filme quer tratar, mas na maioria das vezes elas apenas repetem os mesmos conceitos. Cenas como a entrevista constantemente interrompida por um sujeito com Síndrome de Tourette ou a que Christian perde as filhas em um shopping tem muito pouco a acrescentar e deixam o filme desnecessariamente inchado e redundante.

Teria sido melhor focar no percurso de Christian e conforme tudo começa a se desfazer ao redor dele do que gastar energia e tempo em tantas digressões repetitivas. O arco narrativo do protagonista, que literalmente o leva ao lixo (e o vídeo que ele grava a seguir é um dos melhores momentos do filme), já seria por si só algo bastante contundente. Ao tentar ampliar o escopo da narrativa o tempo todo The Square: A Arte da Discórdia termina soterrado por suas próprias ambições, sendo incapaz de oferecer um olhar interessante sobre o infinitesimal número de questões que tenta abordar. Uma pena, pois o filme oferece momentos memoráveis quando sua proposta realmente funciona.


Nota: 5/10

Trailer

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