Nossa sessão de análises mais
breves irá tratar hoje de dois filmes que chegaram ao Brasil pela Netflix. Mudo é uma produção original do serviço
de streaming, enquanto que Breaking Through é uma produção de 2015
que foi lançada por aqui direto para vídeo e streaming.
Mudo
O diretor Duncan Jones foi
responsável por alguns dos melhores filmes de ficção científica dos últimos
anos com Lunar (2009) e Contra
o Tempo (2011). Seu retorno ao gênero depois do decepcionante Warcraft (2016) vinha cheio de promessa
de um retorno à forma, mas não é bem o que acontece. O filme se passa na Berlim
do futuro e acompanha um homem mudo chamado Leo (Alexander Skarsgard) que está
à procura da namorada desaparecida. Ter um protagonista mudo não significa ter
um protagonista inexpressivo, mas a narrativa dá tão pouca informação à
respeito de Leo e Skarsgard é tão limitado em suas expressões faciais que é
difícil se conectar ou torcer por ele. Como não sabemos nada sobre o personagem
também fica difícil sentir ou perceber qualquer desenvolvimento, aprendizado ou
transformação por parte dele. Sabemos que ele passa por uma transformação
física, mas como em nenhum momento o filme nos deixa perceber quem ele é, não temos
como saber de que modo isso impacta Leo, tirando o peso dramático do seu arco
narrativo.
Quem rouba a cena são os dois
vilões vividos por Paul Rudd e Justin Theroux, sempre provocando um ao outro
com tiradas sarcásticas e o texto cria uma dinâmica curiosa entre eles que
nunca deixa clara a natureza exata da relação dos dois (eles são amigos de
longa data? Ex-amantes?). Embora sejam personagens interessantes, o filme
demora a fazer a jornada deles colidir com a de Leo e durante um pedaço
considerável da narrativa ficamos nos perguntando a razão do filme dar tanto
tempo a eles. Quando as explicações chegam, vem um pouco tarde demais para ter
impacto.
O universo futurista é criado com
competência, mas não tem nada que já não tenhamos visto em filmes como Blade Runner 2049 (2017) ou O Quinto Elemento (1997). Além disso,
Jones nunca usa essa ambientação para falar sobre qualquer questão. Há
vislumbres de ideias nos noticiários que falam de guerra e deserção de soldados
americanos ou na cena em que vemos um sujeito alheio à realidade que o cerca
enquanto joga videogames de realidade
virtual, mas nada disso é usado para formar uma mensagem consistente. No fim,
apesar da estilização do seu universo e dos vilões insólitos, o filme é mudo de
sentido.
Nota: 4/10
A trama de Breaking Through: No Ritmo do Coração é a típica jornada rumo ao
sucesso. Casey (Sophia Aguiar, dançarina profissional que já trabalhou com
gente como Britney Spears) é uma jovem que sonha em se tornar uma grande
dançarina e para isso posta vídeos de suas coreografias no Youtube.
Eventualmente ela é descoberta por um empresário, Quinn (Jay Ellis), que
promete transformá-la em uma celebridade. Logicamente, o acordo tem seu preço e
o empresário afasta Casey de sua equipe de dança e a coloca para fazer
trabalhos que não refletem sua identidade como dançarina e isso fará Casey
aprender valiosas lições sobre a importância da amizade e acreditar em si mesma.
Poderia ser uma crítica interessante à conduta voraz da indústria musical, mas
tudo é conduzido de maneira tão maniqueísta, exagerada e sem sutileza que tudo
soa mais como uma caricatura aborrecida desse meio.
O filme ainda tenta abordar a
questão do bullying virtual na cena
em que Casey alisa o cabelo depois de ler vários comentários de haters em seu canal, mas a questão é
esquecida logo depois e a narrativa nunca volta a tocar no assunto. Existe
ainda uma tentativa de criar conflito entre Casey e seus amigos quando Tara
(Marissa Heart), a melhor amiga de Casey, tem um vídeo de sexo divulgado na
internet pelo namorado. Como isso é responsabilidade de Casey? Bem, não é, mas
o filme trata como se fosse. Também é esquisito que ao longo de toda a
narrativa não é apresentada qualquer outra alternativa ao sucesso artístico que
não envolva ganhar notoriedade na internet primeiro.
A brasileira Bruna Marquezine
interpreta Roseli, colega de trabalho de Casey. Pelo modo como o filme
apresenta Roseli, é de se imaginar que ela será uma vilã ou rival da
protagonista, mas isso nunca se concretiza. Roseli desaparece por completo,
nunca voltando a ser citada, depois retorna lá pela metade do filme, tenta
seduzir o interesse romântico de Casey (e falha), não fazendo mais nada na
trama. Claro, é mais culpa do roteiro do que da atriz (que só é culpada de ter
escolhido um projeto ruim), mas deixa evidente como o texto do filme é
completamente inábil em criar situações de conflito ou arcos dramáticos para
seus personagens. Os números de dança são competentes mas não chegam a
despertar o encantamento ou energia que normalmente se espera de um filme como
esse. Isso seria menos problemático se ao menos a narrativa e os personagens
fossem interessantes, mas sem nenhum grande atributo positivo a se apegar a
experiência soa como uma grande perda de tempo. A cantora Anitta e a violinista
Lindsey Stirling fazem pequenas pontas (bem pequenas mesmo), mas o filme falha
em aproveitar o carisma de ambas.
Nota: 2/10
Trailer
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