Já foram feitos inúmeros filmes
sobre as histórias reais dos soldados dos Estados Unidos que combateram o
terrorismo em países do Oriente Médio. Alguns adotam uma perspectiva crítica,
mas a maioria tende a um ufanismo grandiloquente que pinta seus soldados como
heróis. Como o título nacional já indica, esse 12 Heróis se enquadra na segunda categoria e daí emerge a pergunta:
em que medida ele tenta se diferenciar dos demais filmes sobre o tema? Com
cavalos. Sim, o fato de que o grupo de doze soldados avançou para além das
linhas inimigas sozinhos e à cavalo é o principal diferencial do filme. Poderia
render uma narrativa interessante, mas ele se apoia demais nos clichês desse
tipo de história para conseguir ser envolvente.
A trama começa com o atentando ao
World Trade Center em 2001. O capitão Mitch Nelson (Chris Hemsworth) está
prestes a assumir um cargo burocrático dentro do exército, mas convence seu
superior, o coronel Bowers (Rob Riggle, que serviu sob o comando do Bowers real
quando atuou como fuzileiro naval), a lhe colocar novamente à frente de sua
antiga unidade de combate. Auxiliado pelo soldado Spencer (Michael Shannon),
Mitch é incumbido de derrubar a principal fortaleza talibã no Afeganistão. Sua
unidade será a primeira a penetrar nas linhas inimigas e, exceto pelo apoio
aéreo de bombardeiros, ele e seus onze homens não terão qualquer auxílio. Para
cumprir seu objetivo, Mitch precisa colaborar com o general Dostum (Navid
Negahban), líder de uma milícia local que se opõe aos talibãs. Como o terreno
montanhoso é de difícil locomoção, a unidade de Mitch e a milícia de Dostum
avançam à cavalo contra as fortalezas talibãs.
O título já deixa pouco espaço
para sutilezas. Os personagens são automaticamente construídos como grandes
heróis que estão ali para libertar o oprimido povo afegão dos cruéis talibãs.
Em uma determinada cena a trama dá indícios que tentará observar o contexto da
situação quando um personagem fala dos muitos impérios que caíram na região e
como aquele lugar é há séculos um espaço de conflitos. Convenientemente o filme
esquece de mencionar que os EUA são os responsáveis por boa parte dos problemas
naquela região nas últimas décadas, tendo ajudado os talibãs a tomar o poder
para afastar a presença da então União Soviética na localidade. Um letreiro
final sinaliza que a vitória obtida foi a maior contra a Al-Qaeda, mas esquece
de mencionar que essa vitória fez pouco para trazer estabilidade à região ou
que a presença dos EUA ali serviu para promover a ascensão de inimigos ainda
mais radicais como o Estado Islâmico. Se o filme fosse feito numa época próxima
à dos eventos retratados essa miopia histórica seria perdoável, mas tendo sido
realizado quase vinte anos depois, não faz sentido que ele tenha uma visão tão imediatista
e descontextualizada do que aconteceu.
Não ajuda que a trama faça pouco
esforço para tentar entender quem são aquelas pessoas, com muitos deles
recebendo um tratamento superficial enquanto outros são relegados a serem meros
objetos de cena. Quando o filme tenta construir uma relação de respeito entre
Mitch e Dostum, imaginei que seria a chance de dar tons mais cinzentos àqueles
personagens que até então eram bastante unidimensionais, mas o texto não vai
além de frases de efeito clichês do tipo "um soldado luta com a cabeça,
mas um guerreiro luta com o coração". Michael Shannon é completamente
desperdiçado como um soldado que estoura uma hérnia andando a cavalo e passa
boa parte do seu tempo de tela deitado sem muito o que fazer. Provavelmente foi
o cachê mais fácil da carreira do ator.
As cenas de ação são corretas e
bem executadas, mas não apresentam nada que já não tenhamos visto em outros
filmes de guerra. Elas são hábeis em construir tensão em virtude da desvantagem
numérica e material dos personagens, mas ainda assim não afastam a sensação de
que já vimos tudo isso antes. Outro problema é a repetição de situações que são
sempre registradas da mesma maneira. Um exemplo são as várias cenas em que os
personagens são derrubados por uma explosão próxima e se levantam em câmera
lenta. Lá pela terceira vez que o filme repete isso tudo começa a ficar
entediante ao invés de tenso. Os tiroteios à cavalo são os momentos mais
empolgantes, mas são poucos e relativamente breves para redimir a natureza derivativa
do resto da ação.
Havia uma história interessante
no centro deste 12 Heróis, mas seu
olhar sobre a jornada daqueles soldados é demasiadamente superficial e
historicamente míope para produzir algo consistente. No fim, é um produto que
se esforça muito pouco para falar ou mostrar algo que outros filmes semelhantes
já não tenham feito.
Nota: 4/10
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