O primeiro Círculo de Fogo (2013) era
uma aventura divertida prejudicada por sua insistência em tentar criar arcos
dramáticos sérios para seus protagonistas, sem perceber que tudo aquilo era uma
coleção de clichês rasos e que o mais interessante daquele universo era
justamente o lado lúdico, ingênuo, exagerado e cafona de vermos jovens
pilotando robôs gigantes para lutar contra monstros. Os trailers para este Círculo de Fogo: A Revolta davam a
entender que esse novo filme focaria mais na natureza aloprada e colorida desse
universo de robôs e monstros gigantes, mas o resultado é mais uma vez
inconsistente, ainda que divertido, pela exata maneira com a qual o filme
parece ter vergonha em abraçar plenamente a natureza aloprada e sua premissa.
A trama se passa dez anos depois
do filme original. O mundo tenta se reconstruir depois do fim da guerra contra
os kaijus e Jake Pentecost (John Boyega), filho do general Stacker (Idris Elba)
do filme anterior, vive de recuperar sucata dos antigos jaegers para revender
aos compradores mais interessados. Ele acaba preso durante uma dessas operações
de recuperação e, para livrá-lo da cadeia, sua irmã Mako (Rinko Kikuchi) o
coloca para trabalhar como instrutor de um grupo de jovens cadetes que almejam
se tornar pilotos de jaeger. Entre os recrutas está a garota Amara (Cailee
Spaeny), que foi capaz de construir seu próprio robô a partir de sucata. Ao
mesmo tempo, uma nova ameaça surge no horizonte quando misteriosos jaegers de
origem desconhecida começam a atacar cidades.
John Boyega entende o tom
despretensioso que o material exige, injetando uma certa confiança cretina e
canastrona em Jake, deixando claro que é um personagem que não se leva e nem
quer ser levado à sério. O problema é que, assim como no filme anterior, o
roteiro insiste em dar um arco dramático mais "sério" a ele e Amara,
tentando desenvolver seus conflitos internos e traumas através de frases de
efeito rasas, ditas sem qualquer senso de autoironia ou autoconsciência de sua
própria natureza tosca, sobre se desprender do passado. O arco de Amara, por
sinal, é igualzinho ao de Mako no primeiro filme, com direito a ela se deixando
levar por suas memórias ao pilotar um jaeger, fazendo seu parceiro presenciar
um momento traumático de sua infância que logicamente envolve um ataque de
kaiju.
Além do Jake interpretado por
Boyega, os cientistas Geiszler (Charlie Day) e Gottfried (Burn Gorman) também
aceitam sem restrição a natureza exagerada e caricata de seus personagens,
divertindo ao fazer funcionar o arquétipo do cientista maluco e brilhante.
Esses personagens resgatam o filme do marasmo criado pelas composições
excessivamente solenes de Rinko Kikuchi e também de Scott Eastwood como Nate, o
parceiro de Jake.
Esse sentimento de marasmo é
ressaltado pela trama lenta, que demora a engrenar ao criar um mistério sobre a
natureza da ameaça, sendo que fica óbvio desde o início que tudo está
relacionado aos jaegers não tripulados criados por uma empresária chinesa.
Claro, a revelação do real culpado me deixou verdadeiramente surpreso e a
narrativa dá uma razão convincente para o retorno dos kaijus, mas ainda assim
fica a sensação de que o filme gasta mais tempo do que deveria na criação e
desenlace da conspiração. Afinal ninguém que entra no cinema para ver esse
filme está realmente interessado em uma trama complexa, apenas queremos uma
desculpa para vermos robôs e monstros saindo na porrada.
O que faz a experiência valer a
pena são mesmo as cenas de ação. Nesses momentos o filme realmente se entrega
ao exagero e às possibilidades criativas malucas que seu universo propicia ao
nos apresentar uma variedade ainda maior de robôs com armas e equipamentos que
parecem criados por uma criança de oito anos brincando com bonecos (sim, isso é
um elogio). Cada robô tem um visual e habilidades bastante singulares e o mesmo
pode ser dito dos monstros. O design
sonoro consegue nos fazer sentir o peso e a força desses seres colossais a cada
som de passo, a cada ruído de um golpe atingindo o adversário. Há um senso
claro de deslumbre e encantamento infantil quando finalmente vemos os robôs e
monstros brigando e é uma pena que o restante do filme não seja tão hábil em
entregar esse senso tão puro de diversão. As cenas de ação também acertam ao
não esquecer das consequências da destruição, muitas vezes nos mostrando a
população correndo em meio ao caos ou a perplexidade de trabalhadores em um
prédio que é inadvertidamente atingido durante o combate.
Tal como seu antecessor, Círculo de Fogo: A Revolta funciona como
um divertido espetáculo visual, mas continua pecando por ocasionalmente se
levar mais a sério do que deveria ou precisaria.
Nota: 6/10
Trailer
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