quarta-feira, 28 de março de 2018

Crítica - Covil de Ladrões


Análise Crítica - Covil de Ladrões


Review - Covil de LadrõesCovil de Ladrões pretende ser um suspense nos moldes de Fogo Contra Fogo (1995), de Michael Mann, com pitadas de Os Suspeitos (1995), do Bryan Singer, mas parece não entender o que tornou esses filmes marcantes e as razões pelas quais eles permanecem em nossa memória mesmo mais de 20 anos depois de seu lançamento.

A narrativa é centrada no policial Nick (Gerard Butler), incumbido de localizar uma perigosa gangue de ladrões de banco liderada por Merriman (Pablo Schreiber). O que Nick não sabe é que Merriman planeja o maior assalto de sua carreira: roubar 30 milhões do prédio do Banco Central em Los Angeles. Enquanto caça o ladrão, Nick captura um de seus comparsas, o motorista Donnie (O'Shea Jackson Jr), e o força a cooperar com a investigação.

O filme tenta seguir a estrutura de Fogo Contra Fogo, apresentando a vida profissional desses ladrões e criminosos e como ela impacta na dimensão pessoal da vida deles. Diferente do filme de Michael Mann, no entanto, ele não consegue criar personagens suficientemente interessantes ou ambíguos, nem explora direito a dinâmica entre eles. A sensação é o diretor e roteirista Christian Gudegast (responsável pelo texto do péssimo Invasão a Londres) está simplesmente copiando a estrutura de um filme conhecido sem se dar o trabalho de entender como ou porque ela funciona.

Nick é retratado o tempo todo como um sujeito violento, alcoólatra, degenerado e que constantemente trai a mulher com prostitutas, mas ainda assim a narrativa quer que eu me compadeça pelo policial quando a esposa dele pede divórcio e o impede de ver as filhas. É difícil embarcar no sofrimento de Nick pela ausência das filhas porque o filme nunca se deu o trabalho de mostrá-lo como um pai interessado nelas e toda situação parece mais uma merecida punição do que um castigo sofrido. Inclusive porque todo o problema é esquecido lá pela metade da projeção e nunca mais é mencionado. Não ajuda o fato dele não ser um detetive exatamente arguto, sendo facilmente enganado pelos ladrões múltiplas vezes. Se ele é um ser humano desprezível e um profissional incompetente, porque deveria me importar com esse personagem?

O lado dos ladrões não se sai muito melhor, com todos eles soando como bandidos genéricos e sem personalidade. Em uma determinada cena Nick observa a foto de Merriman e se pergunta a razão dele ter entrado para uma vida de crimes a despeito de sua carreira como militar e isso cria a expectativa de que o filme irá aprofundar a motivação do personagem, mas o passado dele nunca é realmente explorado. A trama tenta humanizar os ladrões em uma cena que mostra o ladrão Levoux (o rapper 50 Cent) no dia do baile de formatura da filha, mas como a família dele nunca mais é mencionada, nem tem qualquer função na trama, a cena não faz muita diferença.

Boa parte dessas subtramas que não vão a lugar nenhum acabam inchando desnecessariamente a duração do filme, levando-o a arrastadas duas horas e vinte quando ele poderia tranquilamente ter noventa ou cem minutos, dando-lhe um pouco mais de agilidade. O clímax ainda tenta reproduzir o final de Fogo Contra Fogo, com um dos policiais confortando Levoux enquanto ele agoniza até a morte, mas aqui a cena não faz sentido porque essa relação de empatia e respeito mútuo não foi construída pela trama, soando gratuito e não merecido.

Apesar de todos os furos da trama, o roteiro é tão certo de sua inteligência que ao final tenta impactar a audiência com uma reviravolta similar à do Keyser Soze em Os Suspeitos ao revelar que um personagem aparentemente inofensivo era na verdade um gênio criminoso que estava manipulando a todos, mas a revelação não faz o menor sentido. Primeiro porque, diferente do filme do Bryan Singer, a trama de Covil de Ladrões nunca prepara a chegada dessa reviravolta, nem apresenta a possibilidade da existência de um mestre criminoso oculto até o momento em que a reviravolta acontece, deixando tudo relativamente desonesto.

Olhando em retrospecto, a reviravolta não corresponde ao que a narrativa tinha estabelecido até então. A primeira vez que vemos o tal personagem, ele está vomitando em uma lixeira depois de ver Merriman e os outros matarem um grupo de seguranças e policiais, com a tentando estabelecer que o personagem não tem estômago para tudo aquilo. "Ah, mas ele devia estar fingindo" você me diz e até seria uma justificativa aceitável se o filme a apresentasse (a ação nunca é explicada), mas o ato é visto apenas por nós da audiência e não pelos companheiros, então como isso seria fingimento? Será que ele sabe que é um personagem em uma trama ficcional? Será que na verdade essa é uma obra de abordagem dramatúrgica brechtiana que visa me lembrar da minha condição de espectador alienado? Provavelmente não. É mais provável que tenha sido mal concebido mesmo.

O plano do tal mestre criminoso, que por sinal diz estar sempre no controle do seu ambiente, contradiz a fala do personagem ao depender constantemente de coisas que não estão no controle dele. Para que o plano funcionasse ele dependia que Nick inicialmente o capturasse para poder manipular o policial contra seus companheiros (ele não tinha como garantir isso), assim como dependia que Nick eliminasse toda a sua equipe ao final para que eles não percebessem a traição e fossem atrás dele (ele não tinha como saber que Nick sairia vitorioso do confronto). Ao invés de vermos tudo como um esquema brilhante, tudo parece excessivamente mirabolante e cheio de elementos mal explicados.

O roubo final em si carece de tensão e tudo soa fácil demais para os ladrões, com os poucos imprevistos sendo rapidamente resolvidos e nunca ficamos em suspense se os personagens conseguirão ao não sair dali com o dinheiro. As poucas cenas de ação, em especial o tiroteio da primeira cena e o confronto final com os ladrões, se saem um pouco melhor, com a câmera seguindo os personagens conforme eles avançam de cobertura em cobertura, conferindo dinamismo e urgência aos embates, ainda que soem como uma reprodução diluída do que Michael Mann fez em Fogo Contra Fogo (inclusive com um tiroteio em meio ao trânsito). A fotografia também acerta ao imergir a cidade de Los Angeles em uma atmosfera de sombras, concebendo algumas tomadas estilizadas que refletem a melancolia e pouca clareza moral daqueles personagens.

Covil de Ladrões tenta celebrar os bons suspenses de vinte anos atrás, mas sequer chega perto de alcançar suas pretensões graças a um roteiro raso, que se acha mais esperto do que realmente é, problemas de ritmo e uma dificuldade em criar tensão.


Nota: 4/10


Trailer

Um comentário:

Unknown disse...

Recebeu muitas criticas, pessoalmente eu acho que é um filme que nos prende. Sem dúvida voltaria a ver este filme! Acho que é realmente bom, o que mais gostei é o elenco, é excelente, Gerard Butler é um dos melhores atores do gênero, recém vi seu participação em Tempestade: Planeta em fúria, é um dos melhores filmes de Gerard Butler além o suspense que tem é ótimo. Sinceramente os filmes de ação não são o meu gênero preferido, mas devo reconhecer que Tempestade superou minhas expectativas. Adorei está história, por que além das cenas cheias de efeitos especiais, realmente teve um roteiro decente, elemento que nem todos os filmes deste gênero tem.