domingo, 25 de março de 2018

Crítica - A Melhor Escolha


Análise A Melhor Escolha


Review A Melhor Escolha
Na superfície, A Melhor Escolha parece ser mais uma daquelas comédias dramáticas sobre superação de dificuldades e mensagens edificantes não muito diferente de outras tramas similares. Ele é exatamente isso, mas também constrói uma reflexão sobre o militarismo dos Estados Unidos e o tratamento dado aos soldados que retornam, estejam eles vivos ou mortos.

A narrativa se passa em 2003 e começa quando Larry "Doc" Shepperd (Steve Carell) resolve se conectar com seus antigos companheiros de farda da época da guerra do Vietnã. Ele busca Sal (Bryan Cranston), que agora é um dono de bar, e Richard (Lawrence Fishbourne), que se tornou pastor de igreja, para pedir ajuda deles para enterrar o filho, que morreu durante a Guerra do Iraque.

Desde o início fica evidente que o reencontro reabrirá antigas feridas do trio, os fará enfrentar traumas do passado e se reconectarem uns com os outros. É bem formulaico, mas a delicadeza e sinceridade com a qual o diretor Richard Linklater conduz tudo, bem como a química entre os três protagonistas, faz tanto o drama quanto o humor funcionar mesmo quando percebemos a natureza previsível do filme. Quem se destaca é Steve Carell com uma performance discreta ao viver um pai em luto. Falando pouco e evitando grandes arroubos de emoção exagerada, Carell consegue, apenas com seu olhar, nos fazer sentir a dor enorme experimentada por seu personagem e o quanto ele está devastado por aquela perda.

Richard Linklater confia em seu trio de atores, deixando que os diálogos e os atores transmitam sua mensagem, evitando tentar manipular o espectador através de uma música muito chorosa e intrusiva ou de imagens sensacionalistas (como sua decisão de não mostrar o corpo do filho de Doc). Na verdade, quase não há música no filme e quando há, ela é discreta o suficiente para não interferir no que acontece em cena.

O filme, no entanto, consegue encontrar espaço para ir além das fórmulas ao refletir sobre a natureza do militarismo dos Estados Unidos. Ao nos apresentar a duas gerações igualmente marcadas e danificadas pela guerra, a trama questiona o propósito de todo aquele sacrifício. Há algo de paradoxal entre o discurso governamental sobre o heroísmo militar e o tratamento dado a esses soldados. O militarismo é uma parte importante da identidade nacional dos Estados Unidos, mas a realidade do combate é permeada por mortes estúpidas, sem sentido, e por um tratamento alienante aos veteranos que sobrevivem.

Mesmo com esses acertos, a trama ocasionalmente encontra alguns problemas ao estabelecer situações pouco convincentes ou sugerir conflitos que nunca se concretizam. Um exemplo é quando a balconista de uma empresa de aluguel de automóveis confunde Sal e Richard como possíveis terroristas por conta de uma piada feita por Sal. Por mais que eu entenda que essa situação estava ali para ressaltar como os veteranos do exército são maltratados e marginalizados, a reação da balconista soa forçadamente desmedida (fica evidente a ironia da fala de Sal) e o filme consegue transmitir essas ideias de maneira mais competente em outros momentos.

O coronel Wilits (Yul Vasquez) se comporta com um exagero que destoa da sobriedade do resto do filme e a cena em que ele ordena ao soldado (J. Quinton Johnson) responsável por escoltar o corpo do filho de Doc não permita que os protagonistas enterrem o garoto em sua cidade natal sugere que haverá um conflito a partir disso. Esse conflito, porém, nunca acontece e em momento algum volta a ser abordado pelo filme, fazendo a cena entre Wilits e o personagem de J. Quinton Johnson soar perdida no resto do filme.

Mesmo sendo relativamente previsível, A Melhor Escolha nos envolve pela delicadeza da direção, o carisma de seu trio principal e sua reflexão sobre a futilidade da guerra.


Nota: 7/10


Trailer

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