Em Sem Escalas (2014) o diretor Jaume Collet-Serra colocava Liam
Neeson para enfrentar bandidos em um avião. Agora, neste O Passageiro, Collet-Serra dirige Neeson em uma aventura na qual
ele precisa enfrentar bandidos à bordo de um trem. Se parece uma reciclagem
preguiçosa da mesma trama em uma ambientação diferente, é porque esse filme é
exatamente isso.
Michael MacMacauley (Liam Neeson)
é um ex-policial que trabalha vendendo seguros. Todo dia ele pega o trem de
onde mora até Manhattan para chegar ao trabalho. Ele já se habituou à rota e já
conhece os passageiros usuais. Quando subitamente ele perde o emprego, uma
misteriosa mulher (Vera Farmiga) o aborda no trem de volta para casa. Ela lhe
promete um pagamento de 100 mil dólares se ele puder identificar uma
determinada pessoa no trem e plantar um rastreador em seu alvo. Logicamente, as
coisas não são tão simples quanto parecem ser e Michael se vê em uma corrida
contra o tempo para desbaratar uma perigosa conspiração.
Neeson é competente ao construir
um senso de "homem comum" para seu personagem, um trabalhador como
qualquer outro que poderíamos facilmente encontrar em um trem, ônibus ou metrô de nossa cidade.
O início do filme mostra como a situação financeira de Michael e sua família
vai se complicando com o tempo e a demissão súbita de um personagem que pareceu
trabalhar cada vez mais para receber cada vez menos sugere que o filme irá se
deter sob esses temas. Na conversa de Michael durante sua demissão ou
posteriormente, quando encontra seu ex-colega Alex (Patrick Wilson) em um bar,
há um sentimento crescente de injustiça social, como se essa fosse a direção a
ser tomada pela narrativa, mas isso nunca se concretiza. Todas essas questões
inicialmente levantadas são logo esquecidas assim que Neeson entra no trem.
Uma vez estabelecido o conflito
central, a trama segue o mesmo fluxo de Sem
Escalas (2014), com o protagonista investigando cada um dos passageiros e
oferecendo várias pistas falsas sobre a identidade de quem procura. Por se
tratar de um trem urbano, que faz várias paradas e transita pelo meio da
cidade, o senso de claustrofobia e tensão é bem menor aquele produzido pelo
avião fechado em seu voo ininterrupto de Sem
Escalas (2014). O suspense também não funciona em virtude dos passageiros do trem
serem figuras tão rasas que beiram o caricato. Apesar do elenco contar com
atores competentes como Patrick Wilson, Jonathan Banks (o Mike de Breaking Bad e Better Call Saul) ou Vera Farmiga, o filme mantém mínima a presença
desses atores e durante boa parte do tempo Neeson fica limitado a interagir com
personagens sem graça ou carisma.
As cenas de ação são burocráticas
e, embora mereçam reconhecimento pela tentativa de fazer tudo com poucos cortes, são prejudicadas por uma câmera tremida que ao invés de conferir urgência ou
aperto (em virtude do espaço reduzido) faz tudo soar mais caótico e confuso do
que deveria. Além disso, elas não oferecem nada diferente ou criativo em
relação ao que Neeson já fez como astro de ação. Quando a resolução da trama
finalmente chega, é difícil afastar a sensação de que o plano dos vilões era
excessivamente mirabolante em relação ao problema simples que tinham para
resolver.
Apesar do carisma de Liam Neeson,
O Passageiro falha em afastar a
sensação de que é uma repetição pouco inspirada do que o ator já tinha feito
antes ao lado do diretor Jaume Collet-Serra. É aquele tipo de filme de ação preguiçoso que só presta para ser visto em uma madrugada insone passando no Corujão da Globo.
Nota: 4/10
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