A primeira temporada de Batman: The Telltale Series chamava
atenção pela visão singular que a desenvolvedora trazia ao cânone do
Homem-Morcego e por sua decisão em nos deixar imersos na mente de Bruce Wayne,
permitindo que sentíssemos o peso de cada uma de suas decisões. Essas virtudes
continuam a ser exploradas ao longo dos cinco episódios de sua segunda
temporada, intitulada Batman: The Enemy
Within.
A trama começa quando o Charada,
um vilão que tinha aterrorizado Gotham no passado, retorna à cidade e começa a
assassinar pessoas usando armadilhas elaboradas. O Batman entra em ação para
enfrentar a nova ameaça, mas precisa lidar também com a chegada de uma divisão
secreta do governo liderada pela inescrupulosa Amanda Waller. Ao mesmo tempo,
John Doe (João Ninguém na tradução em português), o estranho paciente do Asilo
Arkham que Bruce conheceu na temporada anterior, deixa o manicômio e procura
Bruce, crendo que ambos são amigos.
Assim como a temporada anterior explorou
uma nova abordagem sobre a família Wayne e a relação de Bruce com os pais, The Enemy Within joga com a relação de
Bruce/Batman com John Doe, que todos imaginamos que virará o Coringa. O jogador
sabe disso, mas o personagem não, então como lidar com John? Devemos fazer
Bruce rechaçar cada tentativa de aproximação sabendo que eventualmente eles se
tornarão inimigos? Ou será que tentamos oferecer algum tipo orientação e
confiança para ele na esperança que possamos redimi-lo?
Essa dúvida a respeito de John
chega ao ápice no quarto episódio, quando a responsabilidade de resolver uma
severa crise cai nos ombros do personagem e o jogador precisa decidir se julga
John digno o suficiente para assumir essa responsabilidade. Quando John
eventualmente se torna o Coringa, o jogo evita aquele sentimento de nos forçar
a determinado caminho como se nossas escolhas não tivessem importado (algo que
é bastante comum nos jogos da Telltale) e faz o vilão que ele se torna ser algo
completamente dependente das escolhas que o usuário fez em relação a John.
Dependendo de como seu Bruce se relaciona com ele, o Coringa pode assumir
condutas e visuais relativamente diferentes. Além das decisões pertinentes ao
Coringa, o Batman também precisa fazer escolhas difíceis em termos de quem
depositar sua confiança, se em Amanda Waller ou se no comissário Gordon.
Apesar de acertar no percurso
para que John se transforme no Coringa, a trama tropeça em alguns problemas de
ritmo, em especial no segundo e terceiro episódios que demoram a levar a trama
adiante conforme Bruce se infiltra no Pacto, um grupo formado por supervilões
como Bane, Arlequina e Sr. Frio. Por mais que seja interessante ver as versões
da Telltale para vilões conhecidos, é difícil de embarcar na ideia que eles
simplesmente passem tanto tempo ao lado de Bruce, o vejam lutar e ainda assim
não notem nenhuma semelhança entre o modo que ele opera e a maneira como o
Batman luta.
A jogabilidade permanece
relativamente similar ao do jogo anterior, com puzzles investigativos e combates via QTEs, mas há um senso de
refinamento nessas principais atividades. Os puzzles exigem um pouco mais de raciocínio e são menos óbvios que
antes, enquanto os combates trazem batalhas que são visualmente mais
impressionante, usando movimentos de câmera e efeitos de slow motion para ressaltar a agilidade e brutalidade dos combates.
Batman: The Enemy Within refina as mecânicas do anterior e ousa
ainda mais no modo como suas escolhas impactam na narrativa, mas infelizmente
sua excelente narrativa é prejudicada por alguns problemas de ritmo. O jogo me
deixou bastante instigado por uma terceira temporada ao impor uma difícil
escolha em sua cena final que tem tudo para provocar um grande impacto na vida
Bruce Wayne.
Nota: 8/10
Trailer
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