segunda-feira, 16 de abril de 2018

Crítica - Perdidos no Espaço: 1ª Temporada


Análise Crítica - Perdidos no Espaço: 1ª Temporada


Review - Perdidos no Espaço: 1ª Temporada
Comecei a assistir esta primeira temporada de Perdidos no Espaço sem saber o que esperar, não conhecia a série original e não tinha memórias positivas sobre o filme de mesmo nome feito em 1998, mas o resultado desta nova versão feita pela Netflix foi bem satisfatório, oferecendo uma inteligente ficção-científica pautada sobre a importância da família.

A narrativa começa em um futuro próximo quando um cometa denominado "A Estrela de Natal" cai na Terra. A queda do cometa enche nossa atmosfera de cinzas que aos poucos vão tornando o planeta inabitável. Assim, a humanidade decide deixar a Terra e colonizar outros planetas. A família Robinson, composta por John (Toby Stephens), Maureen (Molly Parker) e seus três filhos: Judy (Taylor Russell), Penny (Mina Sundall) e Will (Maxwell Jenkings). Ao longo da jornada, no entanto, a nave colonizadora sofre um acidente e os Robinsons, bem como o resto dos colonistas, precisam evacuar. Assim, a família Robinson cai em um estranho planeta no qual precisarão lutar para sobreviver e descobrir o que aconteceu com sua nave colônia.

A série acerta na construção da dinâmica entre os Robinsons e como a ida para um novo mundo foi uma maneira deles deixarem de lado seus problemas familiares, mas a viagem está longe de ser um recomeço do zero para eles. Através de flashbacks vemos como John, sempre viajando por conta de seu trabalho como soldado, está distante do resto da família e mal conhece os filhos. Ao longo da temporada, John luta para tentar se tornar o pai que seus filhos precisam que ele seja, muitas vezes se comportando mais como um comandante deles, urrando ordens ao invés de fornecer-lhes segurança ou conforto, do que um pai.

Esse distanciamento dos filhos fica ainda mais pronunciado quando Will encontra o Robô, que passa a protegê-lo. John claramente sente uma pontada de ressentimento pelo Robô ser a figura de proteção e confiança que ele deveria ser para o filho, mas ao mesmo tempo demonstra um certo respeito pela devoção do autômato em manter sua família segura.

Maureen, por sua vez, demonstra ser a real líder do clã Robinson. Acostumada a cuidar sozinha de sua família por conta da ausência do marido e uma brilhante engenheira aeroespacial, é ela quem toma as principais decisões, inspirando lealdade e respeito tanto dos filhos quando do audacioso marido. Entre os filhos é Judy quem se destaca ao carregar a responsabilidade de ser a médica do grupo e ter que tomar decisões de vida ou morte apesar de ter apenas 18 anos. A atriz Taylor Russell faz dela alguém que sente um enorme peso sob os ombros, algo que se agrava depois que uma ação impensada dela no primeiro episódio coloca todos em risco e a deixa traumatizada. Penny, por outro lado, acaba não tendo o mesmo espaço que seus outros dois irmãos e acaba relegada a uma subtrama romântica que não acrescenta muita coisa.

A produção tem um evidente esmero (e orçamento para acompanhar) na criação das paisagens alienígenas, criando um senso palpável de descoberta, encantamento e perigo conforme os personagens se deparam com os diferentes biomas que compõem o estranho planeta no qual se encontram. A fauna e a flora do local tem um design caprichado, exibindo uma aparência distante do que conhecemos em nosso planeta, mas ainda aderentes às mesmas leis da física, química ou biologia, evitando a bizarrice pela bizarrice.

A trama, no entanto, derrapa, e feio, na criação da vilã, a Dra. Smith (Parker Posey). A personagem é tão unidimensional e caricaturalmente maligna que, exceto pela questão da sobrevivência, suas motivações nunca convencem ou funcionam para lhe conferir qualquer complexidade. Não ajuda que seus planos sejam excessivamente mirabolantes e o sucesso deles dependa quase que exclusivamente de variáveis que ela não conhece ou não tem como prever. Um exemplo é quando ela desabilita as cercas do perímetro para que as criaturas do local ataquem o assentamento em que vivem. Ela não tinha como saber se Will seria realmente capaz de comandar o Robô a distância, se o Robô chegaria à tempo antes que as criaturas destruíssem tudo e matassem todos ou mesmo se o resto dos sobreviventes seria capaz de enfrentar os animais caso o Robô fosse destruído. Assim, ela basicamente arriscou a própria vida em um plano que ela não tinha a menor noção que daria certo e isso se repete durante a temporada inteira, incluindo o momento em que ela finalmente consegue o que quer durante o penúltimo episódio, no qual a vitória dela acontece mais por sorte do que pela inteligência dos seus ardis.

Desta maneira, ao invés de ser uma adversária à altura da esperteza e engenhosidade da família Robinson, Smith parece mais uma psicótica estúpida que sequer faz por merecer os próprios sucessos, falhando em funcionar como uma ameaça crível para os protagonistas. Felizmente a série se sai melhor quando coloca os Robinsons para lidarem com os perigos e percalços da exploração do planeta desconhecido, já que cada vez que a trama foca em Smith tudo se torna aborrecidamente desinteressante. Parece que enquanto praticamente tudo da série foi atualizado para os dias atuais, a vilã permaneceu estagnada nos anos 60.

Graças ao cuidado no desenvolvimento de seus protagonistas e nas relações entre eles, a primeira temporada de Perdidos no Espaço é uma inteligente aventura de ficção científica capaz de agradar crianças e adultos, ainda que a narrativa seja atrapalhada pela péssima vilã.

Nota: 7/10


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