terça-feira, 3 de abril de 2018

Crítica - Um Lugar Silencioso


Análise Um Lugar Silencioso


Review Um Lugar SilenciosoDurante boa parte do meu tempo com este Um Lugar Silencioso me lembrei bastante de Alien: O Oitavo Passageiro (1979), já que ambos acompanham um grupo de personagens sendo caçados por um predador cego, mas com sentidos aguçados, criando um sufocante clima de tensão. Ainda assim, Um Lugar Silencioso nunca se reduz a uma mera imitação graças ao seu cuidado na construção das relações familiares que estão no centro da narrativa.

A trama se passa em um futuro próximo no qual a humanidade foi quase que inteiramente exterminada por uma espécie alienígena extremamente letal que é cega, mas usa o som para localizar sua presa. A família de Lee (John Krasinski) e Evelyn (Emily Blunt) sobrevivem por já estarem acostumados a se comunicarem em silêncio por sua filha Regan (Millicent Simmonds) ser surda e eles dominarem a linguagem de sinais. O grupo, mais o filho caçula Marcus (Noah Jupe, de Extraordinário) tenta sobreviver em uma fazenda abandonada fazendo tudo com o maior silêncio possível.

Há um enorme cuidado na construção do universo e em nos fazer crer que aquelas pessoas realmente vivem sob aquelas condições há mais de um ano e criaram todo tipo de mecanismo e gambiarra possível para não produzir som. Do momento em que vemos Lee criar uma trilha com areia para poder abafar o som dos passos às tábuas pintadas no assoalho (mostrando em qual pisar para não fazer ruídos), ou mesmo o uso de grandes folhas para servir a comida ao invés de pratos e talheres, há um visível cuidado em nos deixar imersos nesse universo e suspender nossa descrença de que viver daquela forma seria plenamente possível.

Essa construção do cotidiano serve como um eficiente trampolim para situações carregadas de tensão na qual mesmo as pequenas coisas, como pisar em um prego ou derrubar uma lamparina podem significar a morte e são permeadas por uma alta sensação de perigo. O clímax inclusive mal nos dá tempo para respirar, encadeando um momento de suspense após o outro, nos deixando na beira da poltrona em relação a quem irá sobreviver ao ataque das criaturas.

A atmosfera de silêncio é construída não apenas pela ausência de fala dos atores, mas também pelo constante uso de sons ambiente e pequenos ruídos de água ou vento para ressaltar o quão pouco barulho está acontecendo ali. O filme também nos coloca no "ponto de escuta" da surda Regan, criando um vácuo sonoro que acaba servindo para ampliar a tensão de muitas cenas, já que não temos certeza se a garota está sendo silenciosa ou não. Algumas vezes a música se torna intrusiva e óbvia ao recorrer àquelas mesmas batidas graves que a grande maioria dos filmes de terror hollywoodianos usa atualmente, mas nem isso ou as ocasionais inconsistências do que os monstros conseguem ou não captar são capazes de diminuir o excelente trabalho de design sonoro que é realizado aqui.

O mesmo silêncio que os faz sobreviver também faz erodir as relações daquela família, já que os sentimentos não ditos e não externados levam a uma incompreensão em relação ao modo como um vê o outro, em especial a relação entre Regan e Lee. Regan julga que o pai ainda a culpa pelo que aconteceu com o irmão mais novo há tempos atrás e essa ideia de que o pai não se importa com ela a afasta do pai. Nesse sentido, o silêncio do filme é usado não só como um eficiente mecanismo de suspense, mas como metáfora para a incomunicabilidade das relações familiares e os danos que podem ser causados quando não deixamos claro para aqueles ao nosso redor o quanto são importantes para nós.

Um Lugar Silencioso consegue, portanto, ser bastante eficiente na construção de sua atmosfera de tensão, além de servir como uma inteligente metáfora sobre relações familiares.


Nota: 8/10


Trailer

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