Quando foi lançado em 2000, A Reconquista quebrou recordes ao se
tornar o maior vencedor do Framboesa de Ouro até então, vencendo em sete
categorias incluindo pior filme, pior diretor e pior roteiro. O
"feito" alcançado pelo filme foi posteriormente superado por Eu Sei Quem Me Matou (2007), que ganhou
oito, e Cada Um Tem a Gêmea Que Merece
(2010), que ganhou dez, mas ainda assim A
Reconquista entrou para a história como um dos piores filmes de todos os
tempos. Inclusive o próprio Framboesa de Ouro "agraciou" A Reconquista com o prêmio especial de pior
filme da década em 2010.
A película é baseada em um livro
de L. Ron Hubbard, fundador da Cientologia, seita da qual John Travolta, que
atuou e produziu este filme, faz parte. A trama se passa no ano 3000. A terra
foi conquistada pelos Psychlos, uma raça de humanoides de mais de dois metros
de altura que desde então mineira o ouro do nosso planeta. A raça humana foi
quase inteiramente dizimada e os poucos sobreviventes são caçados e
escravizados pelos alienígenas. Terl (John Travolta) é o Psychlo responsável
pela segurança das operações de mineração no nosso planeta, ele odeia a Terra e
não vê a hora de ir embora, mas um ato de insubordinação o faz ser
"condenado" por seus superiores a continuar trabalhando na Terra
indefinidamente. Frustrado, Terl bola um plano para enriquecer aos custos da
companhia de mineração. Ao descobrir uma reserva de ouro intocada, ele resolve
treinar humanos a usar o maquinário alienígena para minerar em segredo e ficar
com todo ouro para si.
Com esse ouro Terl irá...bem...err...ele
irá....espera um pouco...err...não vou mentir gente, nada nesse filme faz muito
sentido. Terl ficar rico não o ajuda em nada a sair da Terra e arriscar agir
pelas coisas da companhia seria um ato de traição que lhe custaria a vida, além
disso ensinar os escravos a usar sua tecnologia é um ótimo plano se você quer
que eles se rebelem contra você, o que logicamente acaba acontecendo. O humano
Jonnie (Barry Pepper) usa o conhecimento dado por Terl para liderar uma revolta
contra os ocupantes alienígenas.
Como já deu para perceber,
coerência não é exatamente o forte desse filme. Cidades em ruínas e abandonadas
há mil anos estranhamente ainda tem eletricidade funcionando, os livros de uma
biblioteca destruída estão em perfeito estado de conservação apesar de terem
ficado à mercê das intempéries por um milênio e uma antiga base militar ainda
tem armamentos e jatos de combate que funcionam perfeitamente, inclusive os
jatos estão plenamente abastecidos. O comportamento dos seres humanos também é
inconsistente, com eles grunhindo e se movendo como primatas em um momento para
no outro exibirem uma fala perfeitamente articulada, mas retornam à mesma
postura primitiva logo depois.
Se o plano dos vilões não faz
muito sentido, o dos heróis também não é lá muito fácil de embarcar. A
explicação de Jonnie para libertar Terl depois de tê-lo capturado é pouquíssimo
convincente, já que eles não precisariam continuar trabalhando para ele depois
de levar seu plano adiante. Do mesmo modo, é difícil acreditar que um sujeito imoral
e implacável como Terl manteria os humanos vivos depois de quase ter sido morto
por eles. É evidente naquele momentos que os humanos são um risco grande
demais, mas Terl acha que ameaçar o interesse amoroso de Jonnie será o
suficiente para manter os humanos na linha e é lógico que não será. Também é
difícil de acreditar que os humanos, que regrediram a seres primitivos, tenham
sido capazes de se tornar hábeis pilotos de combate depois de alguns dias
treinando em um simulador.
Os Psychlos falham em convencer
como uma raça mais avançada e superior, já que na maioria das vezes agem de
maneira tão ou mais estúpida que os humanos primitivos. Aliás, não há qualquer
nexo no fato deles se referirem aos humanos como "homem-animal", mas
falarem de ratos e cachorros apenas por "rato" e
"cachorro". Se a escolha de palavras visa mostrar a superioridade dos
invasores, eles não deveriam falar "rato-animal"? A fala
"homem-animal" é o tipo de termo que o filme joga a esmo na cara do
espectador, mas é inorgânico em relação ao universo construído e faz tudo soar
falso e arbitrário ao invés de crível e natural.
Os toscos efeitos especiais e
maquiagem também não ajudam a imergir naquele universo. As próteses dos longos
dedos e garras dos Psychlos são claramente feitos de borracha barata e qualquer
plano mais aberto deixa evidentes os enormes sapatos de plataforma usados pelos
atores para fazer os alienígenas parecerem mais altos. Os efeitos especiais
parecem saídos da série original de Star Trek (feita nos anos 60) ao invés de
algo contemporâneo a filmes como Independence
Day (1996), cujo orçamento foi quase o mesmo de A Reconquista, ou Armageddon
(1998).
Um espectador atento por perceber
que os rostos dos atores constantemente aparecem no canto de quadro e cortados
para fora do enquadramento, isso acontece porque a obra inteira é filmada
através daquilo que comumente é chamado de "plano holandês". O plano
holandês consiste em criar enquadramentos com uma leve inclinação do eixo
horizontal (até cerca de 45º). Normalmente é um recurso usado para criar a
impressão de confusão ou desorientação, mas esse efeito depende da
contraposição entre esse tipo de enquadramento e planos mais convencionais.
Como isso não acontece aqui, dada a onipresença do plano holandês, mais parece
que o filme usa esse recurso para parecer diferente e moderninho, mas soa
amador, inconsequente e mal elaborado.
Os visuais ruins até seriam
perdoáveis se ao menos a trama ou personagens fossem interessantes, mas além do
colossal número de incoerências os diálogos são pobres e por vezes se prestam
ao humor involuntário. Boa parte das conversas entre o vilão Terl e seu
assistente Ker (Forrest Whitaker) parece retirada de algum desenho animado
infantil dos anos 80, com Travolta e Whitaker agindo com tal exagero que seus
vilões pendem para o ridículo ao invés do ameaçador. O exagero dos dois
contrasta com a seriedade com a qual Barry Pepper concebe Jonnie criando uma
inconsistência tonal quando ambos estão em cena juntos, como se cada um
estivesse atuando em um filme diferente.
A Reconquista é um daqueles casos em que não dá para encontrar
nenhum atributo positivo no filme. Visualmente pedestre, porcamente filmado, com
uma escrita incoerente e atores entregues a um exagero caricatural, eu sinto
que não assisti A Reconquista, mas
que sobrevivi a ele.
Trailer
Sem duvida um classico! só que pelos motivos errados
ResponderExcluirMais vale a pena assitir sim ou não?
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