terça-feira, 1 de maio de 2018

Crítica - Lá Vem os Pais


Análise Crítica - Lá Vem os Pais


Review Crítica - Lá Vem os Pais
Voltando a realizar um projeto de sua própria produtora depois de ter trabalhado com o diretor Noah Baumbach no ótimo Os Meyerowitz: Família não se Escolhe (2017), Adam Sandler reforça a impressão de que eu tenho dele há anos: o ator funciona melhor em projetos dos outros do que quando opera sob seu próprio material. Retornando às suas comédias típicas, este La Vem os Pais é vazio, preguiçoso e apoiado em um humor que meramente reproduz preconceitos.

A filha de Kenny (Adam Sandler) está para se casar e ele quer dar a filha o melhor casamento que puder pagar com seus parcos recursos. Kirby (Chris Rock), o pai do noivo, é um rico e mulherengo cirurgião que se oferece para pagar a cerimônia e deixá-la menos modesta, mas o orgulho paternal de Kenny não permite que ele aceite ajuda e assim, Kenny tenta por conta própria realizar o melhor casamento possível gastando o mínimo. É uma situação que lembra O Pai da Noiva (1991), mas mais baseado em um humor rasteiro do que na jornada emocional de um pai com dificuldade de se desapegar de sua primogênita.

Tal como em outros filme da produtora Happy Madison, boa parte das situações de humor se baseia naquele mesmo estilo de humor "ofensas de playground" que se contenta em mirar a câmera para alguém e apontar aquilo que percebe como um defeito ou falha. A melhor amiga da noiva é gorda e, portanto, é desengonçada e patética, um tio-avô de Kenny não ter pernas e ser um idoso aleijado que requer constante cuidado é algo inerentemente engraçado e ridículo, um parente tem depressão e tendências suicidas e por isso é um indivíduo inferior e fraco que merece escárnio ao invés de qualquer nível de empatia.

Quando não está construindo piadas apoiadas em puro preconceito, a trama constrói situações tão inanes que fico me perguntando como alguém achou que elas poderiam render algo engraçado. Um exemplo é a longa cena de Kenny e Kirby sobre ligar ou não o ar-condicionado do carro e os momentos em que o personagem interpretado por Steve Buscemi aparece carregando uma embalagem enorme de alguma comida ou bebida sequer são engraçados na primeira vez que ocorrem, quem dirá na outra dúzia de vezes que o filme repete esse tipo de situação.

Sandler, tal como aconteceu em Zerando a Vida (2016) e The Ridiculous 6 (2015), parece absolutamente miserável em cena, como se estivesse ali obrigado, sem qualquer esforço ou energia ele meramente repete a mesma voz exageradamente fanhosa e boca entortada que usa em boa parte de seus papéis. O filme tenta nos fazer aderir a Kenny, construindo-o como um homem preocupado com sua família e filhos, mas considerando que ele interage pouquíssimo com os filhos ao longo da projeção, incluindo a que está prestes a casar, e boa parte dos diálogos dele com a esposa consistem em brigas e berros histéricos, é difícil "comprar" essa faceta do personagem. Assim, toda a epifania emocional do fim soa forçada e não merecida porque nada disso foi satisfatoriamente construído.

Chris Rock tenta o máximo que pode para dar algum carisma ao seu médico bon vivant, mas o texto não dá a ele muito o que fazer, já que a disputa entre Kirby e Kenny nunca tem seu potencial cômico ou dramático plenamente explorado e a prometida disputa parental não se acirra como deveria. O roteiro ainda desperdiça os talentos de vários bons atores e comediantes como Rachel Dratch, que vive a esposa estúpida e histérica de Kenny, ou o já citado Steve Buscemi, além de encher a trama de personagens inúteis, como o garoto da casa vizinha que é perdidamente apaixonado pela filha de Kenny, que não acrescentam nada à narrativa tampouco são particularmente engraçados.

Apesar de se passar ao longo de uma semana, Lá Vem os Pais é tão vazio, sem graça e preguiçoso que faz parecer que um ano inteiro se passou conforme acompanhamos seus dolorosos oitenta e cinco minutos.

Nota: 2/10


Trailer

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