Ni No Kuni 2: Revenant Kingdom é um daqueles jogos com potencial de
arruinar sua vida. É fácil se perder no imersivo e imenso mundo que ele
constrói e na quantidade de atividades que ele te dá, quando mal percebemos já
é uma da manhã e ainda assim você quer terminar mais uma missão.
Não é preciso ter jogado o
primeiro Ni No Kuni para entender o
que se passa aqui. A trama do novo game
acontece séculos depois do original e é centrada em Evan, o jovem príncipe do
reino de Ding Dong Dell. No dia de sua coração, depois da trágica morte do seu
pai, o principal conselheiro real inicia um golpe de estado e toma o controle
do reino para si. Evan escapa e decide recuperar seu trono, iniciando assim uma
mágica jornada que eventualmente envolverá salvar o mundo de uma sombria ameaça
com a ajuda de seus companheiros e uma pequena criatura mágica chamada Lofty
(que parece a Lisa Simpson sob efeito de crack).
É uma trama simples e
relativamente ingênua, o que não é um problema em si já que a franquia tem um
certo clima de conto de fada infantil, mas o que incomoda é a falta do
desenvolvimento dos personagens. No primeiro Ni No Kuni, mesmo com a natureza ingênua da narrativa, era possível sentir o peso e a dor que
a perda da mãe causava sobre o garoto Oliver ou os traumas que Swaine tinha com
o seu passado, mas aqui os personagens recebem um tratamento unidimensional.
Evan não tem muito mais explorado além de seu desejo de criar um reino sem
conflitos e a morte de seu pai e sua guarda-costas (e o impacto que isso teria
nele) mal reverberam. O mesmo acontece com coadjuvantes como Roland, um homem
vindo de nosso mundo, que é presidente de um país, mas tem pouco de seu passado
ou motivações exploradas. Incomoda também o quão pouco o jogo usa diálogos
falados ou cutscenes, recorrendo a
textos com os personagens estáticos na maior parte do tempo, o que tira um
pouco do impacto e faz sua apresentação parecer menos sofisticada do que a do
primeiro, na qual diálogos falados eram uma constante.
O que compensa a superficialidade
da narrativa é o incrível universo criado pelo jogo, não só pelo seu tamanho,
mas pela criatividade dos espaços e reinos que visitamos ao longo da jornada.
Um exemplo é o reino de Goldpaw, que tem uma crença quase que religiosa no
poder da sorte e todas as decisões, até julgamentos ou aumentos de imposto são
tomadas com um rolar de dados. Com tantos lugares e pessoas exóticas para
encontrar, o universo do jogo oferece o encantamento, senso de descoberta e
imersão que a trama não consegue entregar. Tudo isso é abrilhantado pelo
excelente visual em cel-shading que
remete às animações do Studio Ghibli, conferindo identidade e personalidade
mesmo quando o texto não consegue fazê-lo.
O combate apresenta uma melhora
grande em relação ao antecessor. Agora o jogador controla diretamente os personagens
durante as batalhas. O ritmo é veloz, mas os controles são responsivos o
bastante para acomodar esse ritmo fazendo a alternância entre ataques,
esquivas, bloqueios e magias ser bem fluida e dinâmica. Além de magias e
habilidades, o jogador também leva para as batalhas criaturas mágicas chamadas
Higgledies. Cada Higgledy tem uma afinidade elemental, um conjunto de ataques
próprios e uma ação que faz sob as ordens do jogador, então saber quais
Higgledies levar consigo é essencial para as batalhas.
O jogo ainda permite o ajuste de
várias opções táticas avançadas através do Tactic Tweaker. Ao gastar pontos é
possível aumentar o dano contra um determinado tipo de inimigo, a resistência a
um determinado elemento ou debuff ou
até mesmo dar bônus para as recompensas recebidas em batalha, aumentando a
experiência, dinheiro, equipamentos ou materiais recebidos.
Outra grande mecânica do jogo é a
de gerenciamento do reino. Você começa com um pequeno assentamento e aos poucos
vai se desenvolvendo em uma cidade e ampliando suas fronteiras. Ao longo do
jogo é necessário recrutar novos habitantes (boa parte das missões secundárias
gira em torno disso) para melhorar o reino e construir novos instalações, como
um prédio de pesquisa arcana (que permite adquirir e melhorar magias) ou forjas
para armas e armaduras que dão a opção de criar novas armas ou fazer upgrades na que você tem. Há uma
satisfação enorme em ver seu reino crescer e prosperar, criando um loop de progressão que por vezes me fez
deixar de lado a história principal só para poder desenvolver minha nação com
novos súditos e instalações.
Seu reino não está livre de
ameaças e em muitos momentos é preciso defendê-lo em um outro tipo de combate,
os Skirmishes. Nesses momentos a câmera muda e coloca o jogador para ver a ação
de cima. No controle de Evan é necessário comandar tropas para avançar nos campos
de batalha, capturando pontos de controle e derrotando as tropas inimigas.
Diferente das outras atividades do jogo, no entanto, falta profundidade a esse
modo, visto que aqui o componente estratégico é praticamente resumido a um
esquema estilo "pedra, papel e tesoura" que determina as vantagens
que um tipo de arma tem sobre a outra.
Ni No Kuni 2: Revenant Kingdom entrega uma jornada envolvente
graças ao seu amplo universo, seu carismático design e a variedade de atividades, ainda que a narrativa por vezes
deixe a desejar.
Nota: 8/10
Obs: O jogo esta disponível para PS4 e PC
Trailer
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