Um filme francês em preto e
branco que acompanha as andanças de um personagem através de Paris enquanto ele
trava longas conversas sobre cinema, literatura, música e filosofia. Essa
parece a descrição de algo feito por alguma vanguarda europeia da década de 50
ou 60, mas pertence a Paris 8, um
filme feito em 2018.
A narrativa é centrada em Etienne
(Adranic Manet), um jovem que sai da cidade de Lyon para estudar cinema em
Paris. Lá ele conhece dois outros estudantes que compartilham sua paixão sobre
cinema, mas ao longo do ano eles enfrentarão dificuldades que colocam dúvidas
sobre seus sonhos de se tornarem grandes autores.
É uma premissa típica de uma
narrativa de formação, com um jovem deixando sua pequena cidade para perseguir
seus sonhos na cidade grande enquanto lida com a desilusão dos obstáculos que
surgem pelo caminho. Nesse sentido, o filme capta de maneira genuína as
angústias do jovem estudante de cinema enquanto ele busca sua própria voz
enquanto artista, experimenta dificuldades em se estabelecer no meio profissional e dissabores amorosos. Ciente do quanto é difícil produzir algo que seja relevante
quando já existem tantas obras de arte magistrais no mundo, Etienne é
excessivamente crítico de si mesmo, de suas próprias realizações e essa
insegurança quanto ao seu lugar no mundo e seu próprio valor é algo com que
todos podemos nos relacionar.
Há, no entanto, algo de
anacrônico e deslocado no modo como toda essa jornada, digna de um típico
romance de formação, é contada. Como falei anteriormente, tudo nele remete a
filmes europeus dos anos 50 ou 60, seja no seu uso do preto e brancos, no
vaguear dos seus personagens e suas longas conversas sobre artes ou no
constante clima de melancolia e desilusão. O filme se apropria desses temas e
dessa estética de maneira meramente mimética, reproduzindo o modo de fazer
filmes de décadas atrás sem fazer qualquer esforço de acrescentar algo a essa
práxis ou tingi-la com um viés de homenagem ou nostalgia.
Não fosse o fato dos personagens
usarem celulares ou câmeras modernas, eu nem seria capaz de dizer que é um
filme que se passa nos dias de hoje de tanto que tudo é registrado como algo de
antigamente. É como se o diretor Jean Paul Civeyrac tivesse entrado em uma
máquina do tempo lá nos anos 50 e tivesse sido transportado diretamente para os
dias atuais, fazendo filmes exatamente como se fazia antes. Com isso, tudo tem
um incômodo sabor de naftalina, algo velho, antiquado e parado no tempo,
diferente de algo como Frances Ha
(2012), que consegue soar moderno mesmo tendo ares de cinema europeu antigo.
Outro problema é a longa duração
de quase duas horas e vinte que arrasta mais do que necessário a simples (o que
não significa que seja simplória) trama de formação e amadurecimento do
protagonista. Isso se verifica nas cenas em si, que se estendem conforme os
sujeitos empilham sucessivas referências a diretores, de Bresson a Dario
Argento e David Fincher, ou teóricos como Gilles Deleuze e a citação nominal de
sua noção da "imagem movimento", tudo feito para desfiar a extrema
cinefilia dos personagens e do próprio diretor Jean Paul Civeyrac, mas nem sempre
tem algo a acrescentar sobre a jornada de Etienne. Claro, ele é um estudante de
cinema, então é natural que ele converse sobre cinema, mas demonstrar seu
interesse e afinidade nessa área não necessariamente implica em apresentar um
volume de informação que só pode ser absorvido por quem é pós graduado em
cinema (e falo isso porque sou) e cujas repetições dão ao filme mais um ar de
redundância do que de erudição.
Paris 8 apresenta uma sincera jornada de formação e aprendizado,
mas não consegue afastar a impressão de algo desnecessariamente anacrônico e
antiquado.
Nota: 5/10
Trailer
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